quinta-feira, 10 de julho de 2014

Wagner Gonzalez - Conversa de pista

Wagner Gonzalez


Fim de semana de Massa em Silverstone é marcado por acidente de Räikkönen, vitória de Hamilton e abandono de Rosberg. Fim de semana da F-1 intenso prossegue com treinos livres e repercussão de novos acordos.




Para muitos virou questão de honra comentar os resultados de Felipe Massa na F-1: a falta de resultados e a seqüência de acidentes têm gerado críticas que se estendem, em muitos casos, além do respeito à carreira do brasileiro. Não tenho poderes nem interesse em defender o paulistano criado em Botucatu e admito que me espanta a série de azares e desencontros que tem marcado a carreira do vice-campeão mundial de 2008. No último fim de semana o brasileiro não deu motivos para acalmar seus críticos, nem mesmo ao evitar um acidente de proporções com o Ferrari desgovernado de Kimi Räikkönen logo na primeira volta. Se a manobra do brasileiro foi elogiada por muitos, inclusive a Ferrari, o saldo do dia  lhe custou muito mais caro do que o preço pago pelo finlandês, que teve uma luxação no tornozelo e joelhos esquerdos. O piloto não treina esta semana e ainda há dúvidas quanto à sua participação no GP da Alemanha, em duas semanas.

Quando dois pilotos de uma mesma equipe têm resultados constantemente diferentes entre si, o problema geralmente está em um de dois pontos: uma equipe que privilegia o mais direto dos seus rivais ou o piloto que não corresponde. Neste quesito um caso clássico é a dupla formada por Ayrton Senna e Johnny Dumfries, na temporada de 1986, quando o escocês ocupou o cockpit do segundo Lotus Renault com uma dose maior de diversão do que por amor ao macacão. Vale destacar que Dumfries só pegou essa vaga porque Senna quis porque quis um segundo piloto bem segundo piloto e vetou a chegada de Derek Warwick, na época um dos ingleses mais promissores.

Voltando a Massa, que teve outro fim de semana para esquecer, vem ocorrendo de tudo, mas ainda assim o brasileiro já conseguiu uma pole position (Áustria) e registra tempos similares aos  marcados por Bottas. Por outro lado, as nuvens do seu céu parecem sempre mais escuras e mesmo em um fim de semana que celebrou o verão inglês Massa novamente se viu metido em situações críticas.  Bateu nos treinos de sexta, a equipe errou na prova de classificação e na corrida ele acabou encontrando um Ferrari desgovernado no meio da pista depois de superar um problema de embreagem na largada. Pode-se apontar dedos para todos os envolvidos na história, particularmente porque nada parece acontecer com Valteri Bottas… Bottas é material de primeira, tem estirpe e sorte de campeão e a continuar no ritmo que  vem crescendo nesta temporada não será surpresa se for ele o piloto que trará a próxima vitória da Williams.


O finlandês surpreende cada vez mais e já é tratado com intimidade por alguns brasileiros que o chamam de “Valtieri”; já marcou 73 pontos, contra apenas 30 de Massa, ou seja, 41% do seu rival. É pouco, não é o que se espera de Massa — e nem o que o próprio Felipe espera de si próprio —, mas é um índice que ganha outras dimensões quando se compara com o retrospecto de dois campeões mundiais que dividem outra equipe.

Falo da Ferrari, onde Fernando Alonso já tem 87 pontos e Kimi Räikkönen, 19; ou seja, 22% do seu team mate. Ainda que seja desnecessário lembrar que essa comparação inter-equipes não salva a temporada do Massa, é válido dizer que estes índices mostram que até mesmo nomes consagrados como oIceman tem seus períodos de karma. Não há porque dizer que Räikkönen desaprendeu a pilotar, mas os poucos metros que percorreu no recente GP da Inglaterra lançaram luz sobre dois pontos: a confirmação de que seu estilo agressivo de pilotar não se adapta ao melancólico Ferrari F14 T e que as seguidas derrotas para Alonso parecem ter afetado sua consagrada frieza. Niki Lauda, que tem muito mais experiência no assunto do que eu, já declarou que o finlandês da Ferrari foi afoito demais no início da prova.

Vendo a largada — momento em que os pilotos funcionam fora do padrão normal — é lícito acreditar que ao se ver à frente do espanhol o finlandês adotou um ritmo ainda mais agressivo que o normal e passou do seu limite. Nas duas curvas anteriores seu carro mostrou movimentos bruscos e ele acabou saindo da pista; ao voltar para o asfalto onde havia um degrau o descontrole aumentou e as pancadas contra as barreiras de proteção foram atingidas em ambos lados do asfalto.

Vale destacar dois vídeos que ontem (segunda, 7/7) ainda podiam ser vistos no YouT tube. O primeiro, feito por um espectador, mostra um pneu do carro de Räikkönen passando próximo do capacete de Max Chilton. O segundo, postado no site The1Callmaster, mostra o acidente em vários ângulos. Ouso dizer que, levando tudo isso em consideração e lendo que Julien Bianchi substituirá Räikkönen nos treinos de Silverstone, o gato de Kimi subiu no guard-rail…

Mais do que o futuro do “Homem de Gelo”, Silverstone foi palco de outros comentários, cenas e episódios com impactos diretos até na F-1 2015. Dentro da pista destacaram-se a corrida de Bottas — que terminou em segundo, entre Lewis Hamilton e Daniel Ricciardo —, e a boa disputa pelo quinto lugar entre Sebastien Vettel e Fernando Alonso (veja aqui), batalha que facilitou a vida de Jenson Button mas não lhe deu forças para atacar o australiano como muitos esperavam ver nas voltas finais. No pódio, a presença do lendário John Surtees (único piloto a vencer os campeonatos mundiais de moto e de F-1), não salvou a lambança do troféu do vencedor, uma réplica mal estilizada e executada do logotipo do Banco Santander. Ao se desmanchar nas mãos de Lewis Hamilton refletiu a qualidade dos serviços prestados aos seus consumidores, ou pelo menos a este colunista.

No paddock as mudanças de endereço ganharam impulso com os anúncios de que a Lotus está em negociações avançadas para equipar seus carros de 2015 com o trem de força da Mercedes-Benz, ocupando a vaga que ficará livre com a associação entre a McLaren e a Honda.  Nas bandas de Woking os comentários estão direcionados em três eixos: a renovação de contrato de Jenson Button (ameaçada), um possível atraso no desenvolvimento dos motores Honda e a perda de mais um parceiro técnico de longa data: a marca Hugo Boss passou a se associar com a equipe Mercedes-Benz, ambas alemãs.
Outra notícia anunciada na semana passada foi a venda da Caterham. 

O malaio Tony Fernandes vendeu suas ações para um consórcio formado por investidores suíços e do Oriente-Médio e liderados por Colin Kolles, cirurgião-dentista romeno naturalizado alemão e que tem passagens marcantes pela F-1 pelas equipes Midland, Spyker, Force India e HRT. Em todas elas um nome sempre esteve ao seu lado: Manfredo Rivetto, descendente de uma família aristocrática italiana e muito próximo a Silvio Berlusconi. Para carregar o piano na reestruturação da Caterham foi escolhindo o holandês Christjan Albers, que disputou 46 GPS pelas equipes Minardi e Midland, mas sem qualquer resultado de destaque. Seu melhor resultado foi um quinto lugar obtido no inusitado GP dos EUA de 2005, quando apenas seis carros largaram diante de um público de 400 mil pessoas, uma visão nauseante.

Apesar da saída de Fernandes a equipe continuará a se chamar Caterham e não será surpresa se dentro de algum tempo a estrutura for incorporada a um projeto lidera por outro romeno, Ion Bazac, ex-ministro da Saúde e atual representante da Ferrari em seu país.   Fernandes saiu porque entrou na categoria por razões comerciais, ao contrário de muitos, como o próprio Felipe Massa, que dedicaram sua vida para chegar onde estão.

O resultado completo do Grande Prêmio da Inglaterra e a posição do Campeonato Mundial de F-1 você vê aqui. Hoje (terça) e amanhã as equipes testam no circuito de Northamptonshire, sendo que a Lotus poderá avaliar o uso de rodas com aro de 18 polegadas, alteração que poderá homologada para uso em 2015 ou 2016.

Nasr vence na GP2
O brasileiro Felipe Nasr venceu mais uma prova na temporada da GP2 e manteve a segunda posição no campeonato, atrás do inglês Jolian Palmer, filho do médico e ex-piloto de F-1 Jonathan Palmer, atual administrador de Brands Hatch e mais outros quatro circuitos ingleses. Com cinco rodadas disputadas, e mais seis previstas, Palmer soma 143 pontos, contra 105 do brasileiro e 94 de Johnny Cecotto Jr, filho de outro ex-piloto de F-1 e que também conseguiu destaque no motociclismo mundial.  O resultado da prova e a tabela de pontos da categoria podem ser vistos aqui.
WG


Um comentário:

  1. Caro Wagner, acredito antes de tudo que FM não é um talento natural tal como Alonso, Hamilton, Vettel, Kimi e Button, andou muito bem quando tinha uma Ferrari que era muito superior aos outros carros, mas desde algum tempo venho notando que em ritmo de corrida perde muito para qualquer que seja seu companheiro de equipe, coisa que na F.Um atual é muito fácil de se notar...penso que mais que a molada na cuca a perda do campeonato de 2008 o abalou demais. Ele está, acredito, como sempre foi apenas com muito mais grana que quando começou!rs Um dia ainda teremos outro campeão. Um abração

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