Alta Roda nº800/150 – 04/09/2014
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Fernando Calmon |
Desde a chegada do
primeiro automóvel importado chinês, em 2008, o Changhe M100 (rebatizado de
Effa M100 pelo importador), o mercado brasileiro foi razoavelmente receptivo,
mas as coisas mudaram com o tempo. A falta de tradição se compensava com preços
bastante competitivos e modelos sempre completos, com todos os equipamentos
mais desejados pelo consumidor. Como os carros são importados do outro lado do
mundo, fica difícil mesmo montar uma oferta diversificada de versões.
As dificuldades começaram em razão do novo regime
automobilístico Inovar-Auto, que impôs regras protecionistas e induziu
importadores a se transformarem em produtores locais. Bom frisar que outros
países, a começar pela China, também praticam protecionismo, às vezes de forma
disfarçada. Mas, antes mesmo do novo regime, que demorou muito a ser
regulamentado, as duas marcas chinesas mais conhecidas, JAC e Chery, já tinham
sinalizado a intenção de construir fábricas no Brasil.
Até dezembro do ano passado, a JAC acumulava desde
2011 cerca de 61 mil unidades vendidas. A Chery, que chegou dois anos antes,
somava 48.000. São volumes bem abaixo do planejado, motivado pelo encarecimento
da importação, acirramento da concorrência e certa seletividade dos compradores
brasileiros, agravada pelo mercado em queda, quando se tende a tomar decisões
conservadoras com menos ímpeto de experimentar. Isso não impediu que mais
marcas chinesas continuassem a se instalar como importadoras, a exemplo da
Geely este ano e da Zotye, em breve.
A Chery acaba de inaugurar sua fábrica para até
150 mil veículos/ano em Jacareí (SP), mas a produção só começa no fim do ano.
Isso permitiu uma reação firme das vendas nos últimos meses (mais 10 mil
unidades até agosto) porque quem compra se sente mais seguro em relação ao comprometimento
da marca com o País. No total será investido R$ 1,2 bilhão, que abrange uma
unidade de motores e um centro de desenvolvimento técnico e de estilo na mesma
cidade.
Os planos incluem exportar para a América Latina,
missão cada vez mais difícil para quem enfrenta o assombroso custo Brasil. A
nova fábrica pode contar com mão de obra qualificada de imediato, pois a
unidade da GM, na vizinha São José dos Campos, dispensou trabalhadores. No
entanto, a região está sob jurisdição do mais radical sindicato de metalúrgicos
do País. Como isso não existe na China, há o desafio adicional de contratar
hábeis negociadores trabalhistas tupiniquins.
Apesar do atraso na construção – que agora atinge
a JAC em Camaçari (BA) –, a Chery sai na frente para ampliar sua rede de
concessionárias. Também focou no núcleo do mercado, onde as coisas realmente
acontecem. Começa com o compacto Celer (hatch e sedã), seguido pelo subcompacto
a ser reformulado QQ (maio de 2015) e o sucessor do SUV compacto Tiggo no
começo de 2016. Todos já foram precificados com antecedência de modo que se
mantêm na faixa atual de R$ 32.000, R$ 24.000 e R$ 52.000, respectivamente.
Chery e JAC almejam conquistar, cada uma, 3% do
mercado brasileiro de veículos leves até 2018. Além de precisar “combinar”
antes com os adversários, parece meta ambiciosa demais no cenário atual com 60
marcas se engalfinhando para conquistar clientes.
RODA VIVA
INÍCIO agora de produção do Golf no México permitirá
aumento gradual da oferta do modelo aqui, em especial se a partir de março de
2015 se ampliarem cotas de importação. Hoje a VW pratica subsídio ao trazer o
modelo da Alemanha com todos os impostos. Produção no Paraná começa no terceiro
trimestre de 2015 com especificações da versão mexicana.
MARCADO para
outubro próximo a produção do sedã compacto Versa, na fábrica da Nissan em
Resende (RJ). Receberá atualizações importantes para deixá-lo em melhor
condições de competir do que a versão anterior. Coincidência – ou não – Livina
e Grand Livina, já em cadência bem lenta, param, no mesmo mês, de ser
fabricados.
DECISÃO correta
do importador de oferecer apenas a versão Sport do Suzuki Swift. Esse hatch
seria mais um na “multidão”, sem o motor de 1,6L/142 cv que permite esticar
marchas na região de 7 mil rpm. A Sport R – deve ser a mais vendida apesar do
preço quase fora de giro de R$ 81.990 – tem bancos bons, muito equilíbrio em
curvas e freios potentes.
KIA produzirá
no México, no primeiro semestre de 2016, o Soul, o Sportage e o compacto Forte.
São fortes (perdão do trocadilho) candidatos a exportação ao Brasil, quando se
retomar o acordo de livre comércio entre os países. Nos últimos tempos os
mexicanos atraíram fábricas da Audi, Mazda, BMW, Honda e Mercedes-Benz por sua
competitividade.
PODE acabar
a farra de fabricantes europeus pousarem de recordistas em consumo de
combustível. Novos regulamentos exigirão que o atual ciclo de testes, brando
demais, seja comprovado em ruas e estradas. Provavelmente, se adotarão fatores
de correção, como ocorre nos EUA e também no Brasil, onde os ciclos teóricos já
eram severos e ainda foram corrigidos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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