Por
Fernando Calmon
Por
muito tempo ainda as grandes cidades do mundo terão de conviver com os
problemas de emissões de sua frota circulante. Os parâmetros são difíceis de
estabelecer entre o viável, técnica e economicamente, e as exigências de
ambientalistas. Esses sempre querem metas exageradas, como se nenhum progresso
tecnológico tivesse sido feito em décadas de contínua evolução que resultou em nítida
melhora da qualidade do ar.
Há
exemplos claros, como Los Angeles, nos EUA, e mesmo São Paulo, que avançou em
relação a 20 ou 30 anos, apesar do grande aumento de veículos. Em Paris,
recentemente, um embate menos técnico do que político levou ao rodízio
emergencial 50% da frota, porém suspenso antes de afetar os 50% restantes, no
segundo dia. Referências da OMS (Organização Mundial de Saúde) são, obviamente,
rígidas e aceitas em países de alto poder aquisitivo e populações de idade avançada.
Médicos cumprem o papel de minimizar riscos; não precisam fazer contas.
Seminário
de Emissões 2014, organizado em São Paulo pela Associação Brasileira de
Engenharia Automotiva (AEA), debateu este tema. Discutiu-se harmonização de
regras antipoluição (Nota Verde) e de eficiência energética (redução de
consumo) do programa Inovar-Auto. Ao homologar há que se verificar se a versão
do modelo cabeça de família em termos de emissões é a mesma que apresenta o
menor consumo. Uma sugestão seria dispensar modelos eficientes de nova
certificação complexa e onerosa.
Por
outro lado, se notou alguma resistência em aumentar custos com adoção de
sistema a bordo do veículo para recuperação de vapores no abastecimento em
postos. Menor reatividade do etanol na atmosfera, utilizado em larga escala no
Brasil (sozinho ou adicionado à gasolina), já ajuda. Este controle, no entanto,
beneficia frentistas expostos a concentrações de vapores de hidrocarbonetos
cancerígenos como o benzeno.
Especial
atenção terá de se dar aos motores com injeção direta de gasolina. Sua
capacidade de diminuir consumo (consequentemente emissão de CO2) e
aumentar potência/torque vem acompanhada de maior liberação de material
particulado. Ou seja, ao seu custo elevado deverá se somar um filtro similar,
porém mais simples e barato, aos utilizados em motores a diesel. Apenas o
etanol é livre de particulados em sua combustão.
A
interrupção da inspeção veicular ambiental no município de São Paulo também
chamou atenção. Será restabelecida nos próximos meses com periodicidade anual só
para veículos com mais de 10 anos de uso. Até três anos estão dispensados (a
exemplo do resto do mundo); entre 4 e 10 anos, inspeção bienal, como no
exterior. Motores diesel continuarão com inspeção anual na capital paulista.
Programas
experimentais apontaram que 10% mais emissores emitem o mesmo que os 90% menos
poluentes. O resultado ambiental seria extraordinário, se a grande evasão não
fosse justamente daquele grupo menor pesquisado. Carros com placas de outros
municípios, que circulem mais de 120 dias por ano em São Paulo, deverão também
passar por inspeção. Uma falha no programa está na ausência de medições com motor
em carga, quando rolos mecânicos simulam o mundo real. Motocicletas também
teriam que ser inspecionadas todos os anos em função do uso intensivo.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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