Alta Roda nº 971/321 – 14 /12 /2017
Fernando Calmon |
Duas boas notícias brindam este fim de ano e
resolvem – ou pelo menos indicam caminhos para – algumas pendências
legislativas sobre assuntos de alto interesse para os consumidores de veículos,
os fabricantes, os três níveis de governo e os cidadãos comuns, incluídos os
não motorizados. Os temas são sensíveis: emissões e segurança
passiva/ativa.
Esta Coluna sempre defendeu a Inspeção Técnica Veicular (ITV) de forma integrada,
ou seja, um único centro de controle capaz de verificar simultaneamente itens
ligados à poluição atmosférica e aqueles vitais para circulação segura.
Inspiração é o modelo europeu bastante testado, a custos suportáveis e vigente
por mais de meio século. Parece surreal que o Código de Trânsito Brasileiro,
desde 1997, tenha previsto um programa nacional de inspeções e “apenas” 20 anos
depois tenha sido regulamentado.
O Estado do Rio de Janeiro criou um arremedo de ITV, a partir de 1998, mas
sempre foi algo polêmico e sem grande rigor técnico. Agora, a Resolução 716 do
Contran estabelece a data de 31 de dezembro de 2019 para todos os governos
estaduais iniciarem as inspeções. O prazo parece bem apertado e é improvável
que os 26 Estados e o Distrito Federal cumpram integralmente o
cronograma.
Persistem algumas dúvidas. As inspeções serão bienais e a partir do quarto
licenciamento (veículos com mais de três anos de uso). No Rio de Janeiro é
anual e teria, em teoria, de se ajustar. Também faltam esclarecimentos sobre
periodicidade menor para motocicletas (por seu uso intensivo) e veículos leves
a diesel (limites frouxos de emissões). Precisaria ainda uma campanha de
esclarecimento para convencer muitos motoristas de que o valor da tarifa
compensaria os gastos com a falta de manutenção preventiva. Por fim,
possibilitaria algum grau de renovação da frota em médio prazo.
Ainda mais importante é a Resolução 717. Trata de uma previsão sobre itens de
segurança que passarão a ser exigidos de todos os veículos novos importados ou
produzidos no Brasil. Finalmente há uma iniciativa de racionalidade e, acima de
tudo, de previsibilidade em um campo onde o País precisa avançar. No total são
38 regulamentações, de diferentes níveis de complexidade, porém respeitarão
prazos rígidos de estudos e posterior implantação.
Estaria aberta, assim, a possibilidade em médio termo de um racional e efetivo
Brasil NCAP (sigla, em inglês, para Programa de Avaliação de Veículos Novos),
outra bandeira desta Coluna. Com uma frota de mais de 42 milhões de veículos
leves e pesados, que continuará a se expandir ainda por muito tempo, é
perfeitamente factível criar um roteiro de médio e longo prazos. O objetivo
está claro: adequar nível maior de segurança aos volumes de produção que
promoveriam uma relação harmoniosa entre custos, escala econômica e,
principalmente, dentro do poder aquisitivo de quem compra os veículos.
Não basta oferecer modelos mais seguros. Eles precisam estar dentro da
realidade do mercado nacional (ou regional, no caso Mercosul). Exigências em
países desenvolvidos servem de parâmetro, mas tentar replicá-las aqui por mero
voluntarismo trata-se apenas de jogo de cena.
RODA VIVA
OTIMISTAS dessa vez acertaram. Anfavea admite que
as vendas ao mercado interno, a partir dos números consolidados até novembro,
deverão crescer 10%, acima de sua previsão de 7,3% para 2017. No mês passado a
média subiu para mais de 10.000 emplacamentos/dia e estoques se mantiveram
dentro da normalidade: 34 dias. Só nível de financiamentos ainda preocupa.
EXPORTAÇÕES, por sua vez, continuam batendo recordes
seguidos. Este ano devem crescer cerca de 50% sobre 2016, o que impulsionou a
produção e a recuperação de empregos. Até meados de 2018 todos os funcionários
em layoff (suspensão temporária de trabalho) voltarão aos seus postos. Para o
próximo ano já se fala em crescimento de até 15% do mercado.
KWID pode demorar ainda alguns meses para se
consolidar no mercado de subcompactos, porém continua com ótima relação
preço-benefício. Internamente, um pouco estreito e rústico no acabamento.
Porta-malas muito bom, mas tanque de combustível é pequeno. Faltam apoio para
pé esquerdo e pouco mais de “peso” no volante. Desempenho coerente com a
proposta.
POLO foi eleito Carro do Ano 2018 pela revista
Autoesporte. Outros vencedores: Audi A5 (Carro Premium); BMW Série 5 (Carro
Superpremium); Nissan Frontier (Picape); Ford 1,5 3-cilindros, do EcoSport
(Motor abaixo de 2 litros) e Chevrolet Ecotec, do Equinox (Motor igual ou acima
de 2 litros). No total, 29 jornalistas e engenheiros votaram nessa 51ª edição
do prêmio.
SSANGYONG ainda não fixou preços para os quatro
produtos que chegam a partir de março. Três SUVs e uma picape, no entanto, têm
faixas de preços estimados bem competitivas. Importadora Venko espera comercializar
até 10.000 veículos/ano (incluído novo Rexton), sem fixar datas. Com 30.000
veículos/ano seria possível pensar em operação CKD.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
Nenhum comentário:
Postar um comentário