Alta Roda nº 973/323 – 28 /12 /2017
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O
mundo mudou nos últimos 100 anos ao ampliar tremendamente a capacidade de
mobilidade do ser humano e possibilitar locomoção de maneira rápida,
confortável e livre. Agora, o automóvel começa se tornar vítima neste processo
inovador e disruptivo, que a própria indústria criou.
Em cenário cada vez mais conectado e integrado, os carros poderão deixar de ser
o ponto focal da mobilidade e se tornar apenas mais um elemento em uma
plataforma bem maior e dinâmica para atender necessidades multifacetadas dos
consumidores. Esta é a previsão de pesquisa, publicada este ano, pela
consultoria Ernest & Young (E&Y) ao abordar a remodelação deste setor
produtivo.
O estudo destaca que, apesar dos enormes avanços tecnológicos refletidos nos
atuais veículos, há um processo em curso de descolamento da vanguarda na
inovação. Na opinião da consultoria, a consolidação do negócio obrigou os
fabricantes a encarar grandes mudanças administrativas, nos seus processos e na
forma de atender a novas demandas.
“É necessário que essas empresas, com alta confiabilidade no mercado, não
tenham medo de fazer diferente e se conscientizem de que só alcançarão êxito se
enfrentarem antigos modos de operação, repensando seu modelo de negócio
urgentemente”, avalia Rene Martinez, sócio da E&Y e encarregado por
análises da indústria automobilística.
A pesquisa identificou cinco desafios para transformar problemas em
oportunidades. Exigirão mudanças radicais sobre a maneira de como costumam ver
os clientes, os parceiros de negócio (entre os principais suas redes de
concessionárias), os funcionários e, principalmente, a si mesmos.
O primeiro desafio se refere à inovação e, para isso, é necessário novo modelo
de negócio. Segundo o levantamento, poucas companhias do setor mostram
abordagem objetiva no desenvolvimento e avaliação de novas ideias e propostas.
Há necessidade de revolucionar o seu próprio negócio.
O segundo desafio refere-se à conectividade. O cliente quer ser ouvido. As
novas gerações estão acostumadas a serviços móveis “sob demanda”. O problema,
agora, é desenvolver relacionamento contínuo com o consumidor e criar produtos
e serviços personalizados. Fundamental aprimorar a capacidade de interação.
Será necessária colaboração externa, mais uma dificuldade, pois por seu tamanho
a indústria automobilística estabeleceu uma relação muito rígida com o mercado
e seus parceiros. A nova indústria da mobilidade requer colaboração ampla
envolvendo todos os participantes.
Atrair novos talentos, de outras áreas, também não é fácil. Pesquisa com jovens
profissionais de tecnologia indicou que estes não veem o setor automobilístico
como inovador e, por isso, existe baixo interesse em trabalhar nele.
Porém, segundo o estudo, a indústria precisará atrair especialistas em
inteligência artificial e cientistas de TI para se adequar à remodelação da
mobilidade. E isso leva ao quinto desafio: deixar de lado métodos operacionais
desatualizados. É necessária ruptura com a velha tradição de apenas alavancar
antigos processos operacionais e sistemas. Assim, além de criar novas unidades
de negócio para manter a competitividade, deverão ser desenvolvidos modelos
condizentes.
E&Y é uma consultora conceituada, mas esse “caminho das pedras” já vem
sendo seguido há algum tempo por quase todos os atores do setor. Constatável
por qualquer observador mais atento.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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