Alta Roda nº 994/344 – 24/05/2018
Fernando Calmon |
O futuro da indústria automobilística aponta, ninguém sabe com certeza em que ritmo, para a tração elétrica e avanço das tecnologias de condução autônoma. É uma aposta industrial e de infraestrutura caríssima, sujeita a altos riscos econômicos e de difícil implantação fora de países ricos ou superpopulosos como a China e, eventualmente, a Índia. Pular a etapa racional dos híbridos pode se tornar um erro grave, talvez tarde demais para reverter.
No entanto, automóveis continuarão a existir e para rodar vão continuar precisando de pneus. Esses são o único e estreito vínculo entre o veículo e o solo. Os fabricantes desses produtos de borracha estão longe de atuar com indiferença sobre os cenários que se apresentam nas próximas décadas.
Uma das apostas mais ousadas é o pneu esférico da americana Goodyear, Eagle 360 Urban, que dispensa rodas. Um exercício de ficção científica com uma espécie de pele biônica na superfície de rodagem, nunca fura, utiliza inteligência artificial e pode levitar magneticamente em uma estrada especialmente construída para ele. Nem a empresa consegue fazer previsão de quando se tornará realidade.
Os desafios para carros elétricos também não são poucos. Os pneus precisam de um rodar silencioso. Mesmo com dimensões mais estreitas devem compensar o desgaste extra pelo peso das baterias e torque instantâneo do motor que proporciona acelerações fortes.
De qualquer forma a evolução terá de vir também para os carros atuais. O tema foi motivo de análise aprofundada pelo site inglês www.just-auto.com, do qual este colunista é correspondente. Primeira preocupação é diminuir peso. A japonesa Yokohama trabalha para reduzir massa em 25%.
Cada pneu de automóvel exige 40 litros de petróleo para ser produzido. É possível economizar ao usar de óleo de soja na composição da borracha. A francesa Michelin desenvolve com DNA brasileiro uma roda flexível capaz de se deformar e evitar que o pneu esvazie ao passar por buracos, sonho de consumo por aqui.
Muito interessante é a proposta da alemã Continental. Câmeras rastreiam o spray de água em pista molhada e, com ajuda de outros parâmetros, antecipa o risco de aquaplanagem. Interage, então, com controles eletrônicos para diminuir a velocidade, resolvendo um dos maiores problemas de um veículo com direção autônoma e mesmo de motoristas comuns.
A italiana Pirelli promete, no fim deste ano, introduzir a troca de informações em tempo real entre pneus e a eletrônica de bordo, em particular com Sistemas de Assistência Avançada ao Motorista (ADAS, na sigla em inglês).
E que tal um pneu que “respira” e limpa o ar em torno dele? Pois a Goodyear propõe exatamente isso. Desenvolveu um protótipo de um não-pneumático com estrutura aberta que aumenta a aderência ao absorver água da pavimentação molhada. Na lateral existem musgos capazes de utilizar umidade e iniciar um processo de fotossíntese absorvendo CO2 e devolvendo oxigênio para a atmosfera.
Portanto, de onde menos se espera, brota alta tecnologia. Mesmo de uma estrutura circular, de cor negra e que aparentemente nada agrega. Quem pensava assim estava redondamente enganado, nos dois sentidos do termo.
RODA VIVA
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HONDA abriu a “porteira” para crossovers derivados de hatches com o WR-V, em março de 2017. Fórmula simples: maior altura de rodagem, mudanças estéticas na frente e traseira, penduricalhos de sempre. Primeiro seguidor, Ka Freestyle, chega em julho. Volkswagen não confirma, mas deve lançar no próximo ano o T-Track (nome provisório) com base no Polo.
OUTRO sinal positivo de recuperação sustentável do mercado interno de veículos veio da ampliação em 27,6% do crédito liberado para financiamentos (incluído leasing), em relação ao primeiro trimestre do ano passado. O dado ruim: apesar de nível da inadimplência perto da mínima histórica os bancos ainda estão bem seletivos. Mais de 40% das propostas são recusadas.
FIM do Inovar-Auto e do super-IPI voltou a viabilizar importações desde 1º de janeiro. McLaren aproveitou. Seu representante Eurobike acumula grande experiência em automóveis caros. Já em 2019 espera vender 24 unidades. A marca inglesa, claro, enfrenta Ferrari e Lamborghini. Cupê 570S começa em R$ 1,9 milhão e o 720S vai a R$ 3,1 milhões.
NOVAS placas de veículos do Mercosul adiadas, de novo, para dezembro próximo. Planejamento agora está correto: carros novos e os que trocam de proprietário ou cidade. Identificação mais segura; conjunto de quatro letras e três números permite mais de 200 milhões de combinações. Fabricantes de veículos se queixam de dimensões impróprias: não foram consultados.
TESLA continua a enfrentar grandes dificuldades industriais para deslanchar seu modelo elétrico de porte médio, em Fremont, Califórnia. O dono e bilionário, Elon Musk, pensava que fábrica de automóveis era mina de ouro e descobriu mina de problemas. Mais fácil produzir foguetes. Parafraseando o ditado, está comendo o pão que o diabo, ou melhor, o carro amassou...
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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