Alta Roda nº 993/343 – 17/05/2018
Fernando Calmon |
Quem achava que leis de mercado são pouco efetivas para
aumentar a competição e baixar preços de automóveis no Brasil, pode colocar as
barbas de molho. O cenário atual de rápida recuperação das vendas, que
acumularam 21% de crescimento no primeiro quadrimestre de 2018 frente ao mesmo
período de 2017, não impediu a expansão de promoções. Bônus e outras vantagens
indiretas (gratuidade de despesas obrigatórias e primeiras revisões; períodos
adicionais de garantia) também responderam pelo menor desembolso direto ou
indireto ao comprar um modelo novo.
Como houve drástica queda de vendas de quase 50%, entre 2013 e 2016, carros
vendidos no período e hoje considerados seminovos estão escassos. Por esse
motivo as concessionárias vêm dando preferência em descontos para quem coloca
na negociação um veículo seminovo. A situação atual se deu pelo acirramento de
concorrência entre as marcas, chegada de novos modelos e urgência em diminuir a
capacidade instalada ociosa. Este cenário veio para ficar e nada indica mudanças
nos próximos anos.
O prejuízo financeiro acumulado por quase todas as marcas só não foi maior
porque o preço médio de modelos comercializados subiu de patamar. Quem
continuou a comprar nos anos de recessão tinha bom poder aquisitivo para
escolher modelos mais caros e completos, às vezes com todos os opcionais
possíveis.
Um dos fenômenos de mudança de comportamento foi o avanço dos SUVs, mas nada se
compara à contínua aceitação dos câmbios automáticos e automatizados. Em
modelos na faixa de R$ 80.000 a participação supera, hoje, 70% e chega quase a
100% acima de R$ 100.000.
Estudo da FCA projeta que, em quatro anos, no máximo 45% da totalidade de
modelos comercializados internamente continuarão com câmbio manual. Isso em
período de aceleração de vendas e da volta de compradores de menor renda sem
condições aparentes de pagar R$ 6.000, em média, por um automático.
Levantamento, por parte da filial brasileira da consultoria inglesa Jato
Dynamics, revelou avanços surpreendentes, de 2008 a 2018, de vários equipamentos
antes considerados caros ou sofisticados. A evolução no período apontou as
diferenças entre os 10 modelos mais vendidos no Brasil ao longo daquele
período:
Controle de estabilidade (ESC) de 0% para 40%; direção assistida, 52%/100%;
travas elétricas, 23%/100%; ar-condicionado, 17%/100%; vidros elétricos,
20%/99%; conexão USB, 8%/89%; Bluetooth, 3%/88%; espelhamento para celulares,
0%/46%; rodas de liga leve, 20%/55%; rodas de aro 15 pol., 15%/55%; controle de
velocidade de cruzeiro, 0%/30%; revestimento em couro (legítimo ou imitação),
0%/25%, GPS, 0%/20%.
Fenômeno ainda mais impressionante: em 2008 nenhum modelo entre os 10 mais
comercializados no Brasil saía de fábrica com câmbio automático ou
automatizado. Hoje, o manual alcança apenas 55%.
Em suma, o mercado mudou, porém haverá espaço para todos os segmentos de
compradores, inclusive de automóveis mais básicos. Com a diferença que o básico
de hoje é mais equipado que o do passado recente e o seu preço médio continuará
inferior ao de variação da inflação.
RODA VIVA
AMÉRICA Latina terá capítulo mais aprofundado no plano de
negócios mundiais 2018-2022, da FCA, a ser anunciado em 1º de junho próximo, em
Balocco, Itália. Será o último planejamento antes da aposentadoria de Sergio
Marchionne, em março de 2019. Seu sucessor, apesar das especulações sobre
nomes, não será anunciado neste evento.
ANTONIO Filosa, novo CEO da FCA para América Latina, mostrou entusiasmo
sobre o programa Rota 2030. Para ele, o melhor conjunto de diretrizes
governamentais do mundo, quando aprovado. Quanto à Fiat, prevê atualização do
Uno, possível versão aventureira do Argo e motores de 1 litro só com três
cilindros. Picape RAM 1500 é estudada também. Sobre Alfa Romeo, improvável a
volta ao Brasil.
FONTES da coluna preveem que o Grupo CAOA, até o final do ano, chegará a
um acordo para a própria Hyundai assumir importações da sua marca. Produção em
Anápolis (GO) do novo Tucson e ix35 também deve parar em prazo mais longo, a
definir. Nova fábrica da sul-coreana seria construída na Argentina para
equilibrar seu comércio bilateral dentro do Mercosul.
VIRTUS, sedã compacto anabolizado da VW, tem estilo discreto e acabamento com
materiais simples. Em troca oferece amplo espaço para pernas no banco traseiro
e alto nível de segurança. Acelerações do motor 1-litro turbo são convincentes,
porém saída em baixa velocidade do câmbio automático é brusca demais. Motor 1,6
L (câmbio manual), silencioso em cidade; na estrada, há ruído de aspiração ao
acelerar.
ESTAMOS em pleno Maio Amarelo, mês focado no trânsito seguro, e o Contran
decidiu interromper – provisoriamente, acredita-se – obrigatoriedade do
mecanismo adicional para evitar levantamento da caçamba de caminhões
basculantes com veículo em movimento. Atendeu pleito absurdo de alguns caminhoneiros:
eles dizem não encontrar o equipamento.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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