O Brasil votou! Não há mais
espaço para experimentos!
*Por: Andreas Renschler - CEO Mundial grupo Traton
O Brasil votou. Esta “eleição
das eleições” foi mais do que a simples escolha de um novo presidente. Foi o
culminar de uma espécie de autodescoberta política para a quinta maior nação do
mundo. Concepções políticas para o país foram fortemente questionadas. A
análise dos casos de corrupção envolveu figuras públicas centrais. Os partidos
consolidados foram desafiados - respostas claras, mas muitas vezes
insuficientes. Além disso, as chamadas fake news impediram por diversas vezes
discussões construtivas sobre tópicos substanciais. Tudo isso acabou por
polarizar as pessoas, dia após dia, fazendo crescer a tensão dentro e fora do
país. Em uma eleição democrática, o Brasil decidiu-se por um recomeço, com a
figura de Jair Bolsonaro. O que isso significa para o país? E para a economia
alemã?
Uma coisa é certa: Muitas
tarefas aguardam pelo novo governo e as expectativas são consequentemente
altas. Ele deve reunir novamente a sociedade dividida e criar um quadro
político estável. E deve levar em conta que não há mais espaço para
experimentos e retórica vazia, se fazendo necessário um sólido trabalho
político.
Porque o país precisa de
crescimento. Com quase oito por cento de déficit orçamentário, a recuperação do
prejuízo dos cofres públicos não é mais uma questão de querer. O mesmo se
aplica às reformas estruturais, como a previdência e o sistema tributário. Há
também muito a se fazer no que diz respeito ao desenvolvimento da
infraestrutura, uma vez que os problemas de logística têm sido um empecilho
para a concorrência. Sem uma melhora de cenário, não será possível obter de
forma suficiente os investimentos tão necessários para o país. E, é claro -
esses investimentos precisam de segurança a longo prazo.
Mesmo que o Brasil consiga um
saldo equilibrado como potência agrícola e de matérias-primas e tenha uma baixa
dívida externa, tal não será suficiente a longo prazo. Somente uma economia
moderna e diversificada é garantia de crescimento estável. Já existe um plano
concreto: Com a digitalização, espera-se um salto de produtividade até 2022. A
ênfase está na Internet das Coisas para Cidades Inteligentes, Saúde, Indústria
e Agricultura. As chances de sucesso são grandes: A maioria dos jovens
brasileiros é bastante aberta às novas tecnologias. Os brasileiros passam mais
tempo na internet do que qualquer outra nacionalidade - são cerca de 90 milhões
de usuários de internet somente em smartphones. Não é à toa que as mídias
sociais tiveram um enorme papel durante a campanha eleitoral.
Para nós, na Alemanha, fica
agora a pergunta: Como podemos apoiar o recomeço no Brasil? Com mais de 1.300
empresas alemãs, o país é o terceiro maior receptor de investimentos alemães
fora da Europa. Politicamente, a parceria estratégica com o Brasil celebra seu
décimo aniversário este ano - a Alemanha possui tal relação com somente oito
países. A grande importância de nossa cooperação bilateral está, portanto, fora
de questão. Contudo, esta cooperação precisa ser cuidada e expandida. À
primeira vista, muita coisa poderia continuar da mesma forma - isso se
recentemente não tivéssemos tido um forte vento contrário: A concorrência com
os EUA, China e outros países ameaça tirar a posição que a Alemanha sustenta no
Brasil em muitos setores. Por isso, devemos aproveitar as oportunidades
oferecidas pelo recomeço que se aproxima. O país é a maior economia da América
Latina e representa cerca de um terço do PIB e da população da região! São
oportunidades mais do que suficientes para fazer uso do potencial inovador da
economia alemã no desenvolvimento do Brasil. A Indústria 4.0 e os novos
conceitos de logística e mobilidade são apenas alguns dos campos em que a
economia alemã é líder mundial.
Ainda que as eleições tenham
inicialmente fragmentado a sociedade, os 210 milhões de brasileiros já
mostraram por diversas vezes ser capazes de encontrar rapidamente o caminho de
volta para a unidade. A conformidade legal existe, as instituições são sólidas.
Portanto, não devemos nos preocupar com o cenário de tensão. E o governo sabe:
Ele será julgado por suas ações, e não por seu discurso. Existem muitas razões
para acreditar. O país é mais forte do que seus desafios - e a economia alemã
pode e irá contribuir para o seu sucesso!
*Andreas Renschler, CEO mundial do Grupo TRATON, acompanha de perto o que acontece no Brasil e aponta ações que considera fundamentais para o país seguir na rota de crescimento. Em artigo publicado no jornal FAZ, um dos mais prestigiados da Alemanha, ele detalha as oportunidades que enxerga para a relação econômica bilateral, considerada estratégica.
Recém-criado como nova identidade da antiga Volkswagen Truck & Bus, o Grupo TRATON é um dos maiores players mundiais da indústria de veículos comerciais com as marcas Volkswagen Caminhões e Ônibus, MAN e Scania. A organização tem no Brasil um de seus principais mercados, liderando as vendas de caminhões no país.
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