Wagner Gonzalez |
Razão, emoção e contradição alinharam na F-1
Após o GP da Áustria espera-se o fim da contradição que a
emoção, razão de ser do esporte, prevaleça.
O outro venceu de forma triplamente marcante: caiu de
segundo para sétimo após uma largada péssima e em recuperação marcante assumiu
a liderança batendo rodas com o pole position. Nessa balada logrou, finalmente,
o inesperado: interromper o domínio dos até então invencíveis Mercedes.
Sob a luz do antológico GP da França de 1979, tudo isso
seria plenamente aceitável e politicamente correto. Nessa corrida disputada na
terra da mostarda mais famosa do mundo Gilles Villeneuve e René Arnoux
completaram as últimas voltas alargando o asfalto de Dijon-Prenois e
batendo
rodas a cada curva dos 3.800 metros da pista a ponto de fazer todos esquecerem
que o líder Jean-Pierre Jabouille caminhava para a primeira vitória do Renault
Turbo. Nesses outros tempos Villeneuve e Arnoux desceram dos seus carros e
foram seabraçar, sorrindo, felizes da vida.
Três semanas atrás em outra pista de sotaque francês, o
nome de Gilles Villenueve passou de ator principal a coadjuvante. Foi no
circuito que leva seu nome, em Montreal, que Sebastian Vettel e Lewis Hamilton
disputavam a liderança, o Ferrari à frente do Mercedes. Pressionado pelo
inglês, o alemão erra no grampo mas mantém-se à frente por mais
duas ou três
voltas até que, ao iniciar a curva 4, um S de velocidade média-alta, sequência
direita/esquerda, deixa a máquina vermelha escapar para a grama e volta ao
asfalto, ainda ligeiramente à frente do rival. Para evitar o toque que poderia
tirar os dois da prova, Hamilton vai para a área externa do traçado e continua
em segundo. Voltas mais tarde os comissários desportivos da prova decidem punir
Vettel com cinco segundos no seu tempo total de prova.
Poucas vezes uma decisão desportiva repercutiu tanto;
pode-se conjecturar que o alemão da Ferrari não se esforçou para abrir cinco
segundos de vantagem sobre Hamilton, que por sua vez apenas cozinhou o galo.
Numerosos os que dizem que a punição foi correta, numerosos em número ainda
maior contestam, algo típico nos tempos de polarização político que,
infelizmente, vivemos. O fato é que privaram Vettel de uma vitória importante,
uma que pode ter definido quando sua carreira vai acabar.
Falou-se em recurso, sugeriram reconsiderar a decisão,
mas duas semanas depois a sétima vitória consecutiva da Mercedes nas sete
primeiras provas da temporada, estava consolidada. No GP da França desse fim de
semana o australiano Daniel Ricciardo recebeu duas punições de cinco segundos
ao ultrapassar adversários de forma considerada duvidosa. Decisão igualmente
discutível, a penalização sugeriu que alguma consistência, de contexto ainda
mais discutível, estava se consolidando. No asfalto pintado em faixas
multicoloridas, o fato acabaria comparado a uma ilusão de ótica.
Chegamos então às
verdejantes colinas da Styria, região austríaca ao sul de Viena e hoje endereço
do Red Bull Ring, cortesia do mesmo patrocinador que necessitava de um
resultado excelente para manter Max Verstappen sob contrato. Vencedor da prova
em 2018, o holandês moveu milhares de fãs às montanhas e colinas em torno da
pista em Spielberg, presença que em certas ocasiões pode significar alguns
cavalos extras no motor Honda, que voltou a triunfar na F-1 após longa e
tenebrosa tentativa de reconciliação com a Mclaren.
Prova de classificação completada, Sebastian Vettel
sequer teve chance de sair do box na Q-3, aqueles dez minutos que determinam os
dez primeiros lugares no grid; Lewis Hamilton atrapalhou Kimi Räikkönen e
perdeu o segundo lugar. Resumo da ópera, os meninos Charles Leclerc e Max
Verstappen dividiram a primeira fila; o fim de semana indicava um domingo de
fortes emoções e não foi diferente. Bem provável que ninguém esperava que a
grande surpresa do fim de semana seria um GP da Áustria nada nefasto. Ao
cabo de hora e meia de corrida ele trouxe de volta ares de boas disputas, só faltou
Verstappen e Leclerc se abraçarem no pódio. Todos torcemos para que, a partir
de agora, a contradição não anule a emoção, razão de ser do esporte.
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