quinta-feira, 9 de maio de 2013

Derrubando Mitos: Blindagem Automotiva –Capitulo final - Por Renato Pereira



A ideia da blindagem tem mais de 220 milhões, quando a natureza criou a tartaruga. O ser humano, com essa mania estúpida de guerrear por qualquer motivo, seguiu o exemplo e inventou carapaças, armaduras, escudos etc para se proteger.Para exportar o conceito aos veículos foi um pulo. A ideia tomou impulso na 1ª Guerra Mundial, que foi um combate de trincheiras. Os tanques até podiam romper as linhas inimigas, mas e como fazer para atravessar as tropas de Infantaria e continuar o avanço? Os aliados desenvolveram, então, um mastodonte esquisito chamado Mark IX, para levar as tropas. Possivelmente, nunca existiu nada mais feio e desengonçado do que essa máquina, que realmente conseguia atravessar os campos carregando tropas, mas isso só dava certo enquanto estava andando, já que os inimigos desenvolveram um jeito de estragar tudo, explodindo o sistema de rodagem e ateando fogo nesses blindados ao pararem, fazendo com que seus ocupantes saíssem correndo...epimba! Entendeu?


Todo esse investimento que você fez, que criou essa máquina aparentemente inexpugnável, contra o criminoso pé-de-chinelo – esse que rouba posto de combustível e relógio em semáforo, geralmente armado com revolver .38 – te deixou mais ou menos protegido, e o mais ou menos é por culpa dessa história de deixar a blindagem imperceptível, que nada mais é do que um eufemismo barato para o fato de que, quanto mais protetiva for a blindagem, mais feio o carro ficará, mas você vai ter problemas do mesmo jeito. VOCÊ sabe que o carro é blindado; o Zé-Arruela que está te ameaçando não sabe, vai atirar e estragar de maneira irrecuperável onde quer que atire e dá-lhe prejuízo. Já contra ameaças maiores, a blindagem não transformou você em Super-Homem, apenas dificultou um pouco o objetivo dos criminosos até te alcançar.O crime organizado não tem essa definição a toa; se for mesmo uma quadrilha organizada, e cismar de pegar você, eles vão pegar você, de carro blindado e tudo. A Kriptonita deles é o simples fato de que, uma hora, você vai ter de sair de dentro do carro!

Se você, leitor, observou com atenção, então certamente percebeu que, em momento algum, eu menciono “disparo” ou “tiro” no plural. Porque é exatamente isso. Todo material sofre deformação e perde a resistência com a repetição dos disparos. Se seus agressores te emboscarem descarregando pistolas e fuzis, as balas vão rasgar o blindagem como se fosse papel. Nem tanque de guerra é 100% seguro. E comecemos pelo começo: você sabe dirigir? Não, não estou falando de ir pra frente, pra trás, virar a esquerda, a direita e estacionar. Sabe dirigir? Sabe como detectar uma situação de risco, sabe como escapar de tentativas de bloqueio, conhece manobras evasivas? Não, eu sei que não... então, gaste mais dinheiro e faça um Curso de Proteção Empresarial, e você descobrirá que tudo o que pensava que sabia de direção estava longe da realidade. O mais correto, no entanto, é contratar um profissional capacitado; ele saberá o que fazer para te proteger, além do desprendimento emocional e não dar a menor bola para o que vai sobrar do veículo. O objetivo de um motorista desse calibre é salvar você.

Mesmo assim, se o objetivo dos criminosos for ter acesso a você, dificilmente isso não acontecerá, a menos que esteja usando blindagem Nivel IV pra cima, o que não me parece o caso se você não for diplomata norte-americano, negociante do mercado negro do leste europeu ou viver no Oriente Médio. Para essas pessoas, embora não divulgado, existem veículos que, além da segurança passiva proposta pela blindagem, são desenvolvidos sistemas de defesa ativa, bem camuflados e escondidos, prontos para devolver aos agressores os tiros recebidos. Além do fato de jamais saírem sozinhas, essas pessoas utilizam diversos veículos absolutamente idênticos, com placas encobertas, e ou os criminosos explodem todo o comboio ou terão de ser adivinhos para saber em qual carro seu objetivo está. Como não é o caso, voltemos a nossa realidade.

Minha afirmativa de que você, mesmo protegido pela concha blindada, não está a salvo da ação de criminosos que estudam, investigam, investem tempo e dinheiro para saber todos os detalhes dos costumes de suas potenciais vítimas, não é infundada. Ttoda a blindagem possível não protege o principal do veículo, que é o motor. Os blocos dos motores são feitos em ferro fundido ou alumínio. Mesmo “bloqueado” pelos radiadores de água e do condicionador de ar, além da grade, é alvo fácil para qualquer atirador médio, munido de uma arma com calibre adequado, precisamente o que a blindagemNivel III-A se propõe a deter. Uma vez perfurado, imediatamente para de funcionar. E agora? Lembra-se de eu dizer que, em algum momento, você terá de sair de dentro do veículo? Pois é...

Enquanto seu carro pára e você telefona para a Policia vir em seu socorro, entramos na situação mencionada de vários disparos em um mesmo lugar. Uma descarga sucessiva, com a salva de tiros cadenciada e agrupada em um espaço de 15cm², abre a blindagem. Até o terceiro, quarto disparo o material resiste, daí em diante está aberta a fronteira. Por isso, se você é alguém que sofre ou está propenso a sofrer ameaças de morte ou sequestro, o carro blindado é apenas uma parte do esquema de proteção, que deve incluir escolta armada etc. Em casos mais corriqueiros talvez, ao perceber tratar-se de um veículo blindado, o agressor opte por um alvo mais fácil, da mesma maneira que optará por um veículo com alarme mais simplificado. Mas esse agressor precisa saber que aquele vidro que ele esta tentando estourar é blindado. Se não souber, vai tentar abrir, não vai conseguir, você até vai embora, mas bastante assustado e com um imenso prejuízo.

Eu não disse, em nenhum momento, que a blindagem não é uma maneira de se proteger; o que eu disse, até agora, é que essa é, talvez, uma maneira errada de se proteger, para a grande maioria dos consumidores, pelo custo que agrega, nível de proteção que oferece e pelo desconhecimento de quem a usa. Já ficou claro que um carro, para ser blindado e ser um mínimo eficiente, tem de ter acima de 250 Cv de potência, e pessoas com poder aquisitivo para adquirir um carro desses começam a ter justificativa para a necessidade de proteção extra, mas que não funciona se não for agregada a outros esquemas conjuntos de segurança. Blindagem parcial, além de inútil, não é permitida; a despesa com a manutenção decola para níveis estratosféricos, o valor de revenda cai vertiginosamente – de novo, por causa da total falta de cultura popular, já que veículos blindados são muito mais cuidados e conservados do que veículos convencionais, e as próprias blindadoras contribuem para isso, já que na ânsia de venderem seus estoques de carros novos, depreciam barbaramente os blindados usados, no mais das vezes tão perfeitos como quando saíram da blindagem, principalmente se foram blindados por concorrentes.

Encerrando, ainda é bastante nebulosa a proteção e garantia de sucesso de se estar revestido de blindagem por todos os lados; como já mencionado, para cada novo material de blindagem, novas munições, como as KineticEnergy Penetrator ou Armor-Piercing (AP) Shell também surgem, e os valores das inovações protetivas inviabilizam seu emprego pela maioria dos mortais. Blindar o carro com o melhor nível possível de armadura dificulta, mas não impede a ação contra você; equipar o blindado com o mais moderno sistema de alarme e trava existente é pouco útil, porque assim que é lançado, esse novo sistema é imediatamente desvendado pelas quadrilhas especializadas; complementar isso tudo com um sistema de rastreamento, além de ser bastante caro (e as quadrilhas sabem muito bem como lidar com veículos rastreados...), significará para os criminosos que você é, efetivamente, o alvo interessante que eles acreditam que você seja.Resta, então, complementar este pacote com uma escolta armada e, só assim, você estará seguro. Até descer do carro.

Renato Pereira – renato@autopolis.com.br

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