Muito bem, já conseguimos definir contra o que os níveis
básicos e usuais de blindagem no Brasil prometem proteger o cliente. Agora
vamos ver como é construída essa proteção.
Você sabe como é feita a blindagem de um carro? Se a
resposta for: com a aplicação de chapas de chumbo e vidros bem grossos, você
realmente precisa ler essa matéria até o fim.
Como acontece na indústria da guerra, no mundo da
blindagem não existe interesse em vencedores e perdedores, existe interesse em
compradores. Para cada novo tipo de escudo desenvolvido, quase imediatamente um
novo tipo de munição perfurante é criado. Ao longo do tempo, a ciência avançou,
novos materiais foram desenvolvidos e velhos materiais foram remanejados, o que
criou um grande volume de composições possíveis no sentido de aumentar a
resistência e, ao mesmo tempo, reduzir o peso dos materiais empregados em um
sem-fim de projetos. Os Polimeros, compostos químicos de elevada massa molecular,
resultantes de reações químicas de polimerização (repetição de unidades
estruturais menores até formar macromoléculas que determinam o grau de
polimerização) ganharam atenção especial por sua maleabilidade, baixo peso e
infinitas combinações, sendo suas formas comerciais mais conhecidas o PVC, o
Poliestireno, Poliuretano, Policarbonato, Plexiglas, Baquelite etc. A Aramida é
um polímero muito resistente ao calor e sete vezes mais resistente que o aço
por unidade de peso. As fuselagens dos ônibus espaciais da Nasa são
constituídas de mantas de Aramida. O principal “recheio” das blindagens
automotivas atuais também. O peso absurdo do chumbo e aço, e todos os problemas
que acarretavam ao coitado do carro, foram bastante minimizados. Mas é um
material que custa caro. Logicamente, já foram desenvolvidos polímeros
superiores em grau de resistência, maleabilidade e menor peso do que a Aramida,
como o Dyneema, por exemplo, mas aí, sim, o preço da matéria-prima é
exorbitante.
A Nanotecnologia também já entrou na jogada, e materiais
como espuma de alumínio e uma fibra composta basicamente de papel (é, papel...)
estão em desenvolvimento.
O Aço Inoxé uma liga
de ferro e cromo, podendo conter
também níquel, molibdênio e outros
elementos, que apresenta propriedades físico-químicas superiores ao aço comum,
conhecido como Aço Rápido, que já é uma evolução do Aço Ferro-Carbono, com
maior resistência ao ataque de um grande número de substâncias corrosivas, entre
elas o ácido nítrico, soluções alcalinas, soluções salinase sua maleabilidade
permite a construção de peças com alto nível de acabamento.
Então, os materiais empregados na blindagem de um
veículo, até o Nível III-A são hoje, basicamente, mantas de Aramida em camadas de
até 9mm de espessura e Aço Inox AISI 304 de 3mm de espessura nas áreas opacas
(carroceria) do veículo. Usando o mesmo Nível III-A para exemplificar, oAço Inox
AISI 304 é aplicado em parte dos para-lamas, moldura do para-brisa, moldura do vidro
traseiro, colunas e estruturas, moldura do teto, moldura dos vidros e contorno
de portas e fechaduras. Determinadas
áreas, como os vãos entre os vidros, moldura do teto e contornos são chamados
Overlap.A Aramida é aplicada na parte interna das portas, para-lamas, tampa do
porta-malas, teto, encosto do banco traseiro e capô do motor.
Tudo resolvido, então? Já pode sair na rua e encarar a
bandidagem? Não, tem coisa faltando, precisamente os vidros que, junto aos
pneus, são a pior dor-de-cabeça no mundo da blindagem.
O vidro é um óxido metálico super esfriado transparente,
de elevada dureza, essencialmente inerte e biologicamente inativo, normalmentefabricado
com superfícies muito lisas e impermeáveis, obtido pela fusão, em torno de
1.250 ºC, de dióxido de silício, carbonato de sódio e carbonato de cálcio. O vidro
balístico geralmente é composto por vidro (lógico), polivinilbutiral,
poliuretano e policarbonato. São fabricados por dois processos distintos, a laminação
por autoclave, comercialmente conhecidos como vidros laminados, e laminação com
resina, mais conhecidos como vidros resinados. A melhor opção é o vidro
laminado, com policarbonato,por ter a mesma resistência balística com menor
espessura e ser bem mais leve, no caso do Nível III-A sua espessura sendo em média
de 21 mm e o peso de 45 kg/m2. Se fossem laminados com resina esses
númerospulariam para 38mm de espessura e 80 kg/m2 de peso. Sendo um ou outro, a
bala disparadacontra uma folha de “vidro à prova de bala”, como é conhecido vulgarmente,
vai perfurar a camada externa do vidro, o que irá amassá-la, e as camadas de
policarbonato e outros polímerosvãoabsorver a energia dessa bala e pará-la
antes que atravesse tudo e saia pela camada final.A camada de policarbonato,
geralmente composta de produtos como Armormax, Makroclear ,Cyrolon , Lexan ou
Tuffak , está para ser superada pelo recentemente desenvolvido Oxinitreto de
Alumínio, muito mais vele, e só não está em uso regular ainda porque é muito
mais caro do que o policarbonato.
O pneu é exatamente o mesmo de sempre: um artefato
circular feito de borracha, inflado com gases ou água, de cor negra devido ao
fato da adição de negro de fumo à composição da borracha, já que sem esse
elemento os pneus seriam brancos, iam sujar muito e se desgastariam
rapidamente. No caso da blindagem, ninguém adiciona nada de especial em sua
fórmula básica, apenas um aro de segurança, manufaturado em Aço Inox AISI 304,
é inserido em sua parte vertical interna quando de sua montagem na roda, o que
permite ao motorista rodar, a baixa velocidade, por uma curta distância, até
encontrar refúgio.
A aplicação de todo esse material estará adicionando ao
peso original do veículo um valor que varia entre 160 e 280 kg, dependendo do
veículo a ser submetido a blindagem. Se a blindagem chegar ao nível máximo,
esse peso extra será na ordem de 400kga 800 kg.
Pronto, chegamos ao Olimpo da segurança. Você escolheu o
Nível de blindagem que mais te parece indicado porque entendeu tudo até agora.
Já sabe um basicão de armas, munições, materiais e como o carro é blindado. Mas,
antes de sair e comprar o primeiro carro que aparecer e mandar executar o
serviço, que tal entender um pouco da única coisa que não falei até agora,
justamente o carro a ser blindado?
Renato Pereira – renato@autopolis.com.br
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