Alta Roda nº786/136 – 29/05/2014 |
Fernando Calmon |
Parece próximo de ser anunciada a estratégia governamental
para estimular o uso de veículos híbridos e elétricos. Tudo indica que o
imposto federal IPI poderá zerar e na cidade de São Paulo haveria um desconto
de 50% na alíquota do IPVA, ou seja, o município abriria mão dos 50% que lhe
cabem nesse tributo estadual. Sem dúvida é condição necessária, mas não
suficiente, para impulsionar essas tecnologias no Brasil.
No caso específico dos carros híbridos que utilizam dois
motores (a combustão e elétrico) o caminho é bem menos difícil. Seu preço
menor, a inexistência do problema de baixa autonomia e de ansiedade por não
encontrar um local de abastecimento abrem possibilidade de aceitação maior que
os elétricos puros. No nosso caso ainda é possível ter o motor a combustão
flexível em combustível (etanol e/ou gasolina), o que reduziria bastante as
emissões de CO2. A produção mundial de híbridos, atualmente mais de
30 vezes superior frente aos elétricos, também indica que essa solução
intermediária vai prosperar.
Uma das possibilidades estudadas na capital paulista é o
subsídio direto aos compradores, a exemplo do que ocorre no exterior. Trata-se
de iniciativa complicada por aumentar os gastos públicos e deixar margem aos
críticos fáceis de plantão ao transporte individual nos grandes centros. Mais
palatável seria, por exemplo, liberar as vagas de estacionamento rotativo e
dispensá-los do rodízio, uma má ideia imposta aos paulistanos pelo alcance
limitado e que aumentou a poluição ao agregar carros mais antigos e poluentes
como alternativa legítima.
Quanto aos elétricos há ainda sérias dúvidas sobre o que
deve ocorrer. Em artigo recente à parte da Alta Roda, esse colunista chamou a
atenção sobre um possível impasse a prejudicar seu avanço. Parte dos
interessados acredita que as baterias terão resolvidos os empecilhos de autonomia,
tempo de recarga, peso/volume e reciclagem. Outros apostam que as pilhas a
hidrogênio e uma futura rede mundial de abastecimento seriam mais viáveis.
O maior fabricante de automóveis do mundo, a Toyota, acaba
de anunciar oficialmente que abriu mão de 20 anos de pesquisas sobre baterias.
Sua aposta agora é nas pilhas a hidrogênio, capazes de gerar eletricidade a
bordo. Admitiu que baterias têm mesmo alcance limitado e as pilhas, mais
baratas e eficientes from well to wheel (ciclo energético fechado).
Começará a produzir veículos desse tipo já em 2015, porém reconhece a
necessidade de um grande esforço conjunto das próprias fábricas, das
distribuidoras de combustíveis e dos governos para montar a rede de
abastecimento.
Para dar exemplo, a japonesa desenvolveu uma estação móvel
de hidrogênio ao custo de US$ 2 milhões/R$ 4,4 milhões, cerca de metade de um
posto fixo desse gás. Calcula que precisará de 68 instalações para cada 10.000
carros com pilhas a hidrogênio para evitar a ansiedade.
Interessante é que pouco antes de anunciada essa decisão,
uma empresa japonesa especializada em baterias disse que planeja fabricar uma
unidade de duplo carbono capaz de recarregar 20 vezes mais rápido que uma
convencional de íons de lítio. Essas promessas já foram feitas anteriormente e a
espera acabou por cansar.
RODA VIVA
INFORMAÇÕES não
oficiais indicam início de produção nacional do Versa (o sedã do March) em
outubro próximo e vendas no mês seguinte. Por outro lado, fornecedores não
estariam mais entregando peças para fabricação do Livina. Tanto pode significar
estoques altos demais, como sinalização para importar o Note do México, seu
substituto no futuro.
PEUGEOT lançou crossover
francês 3008 2015 com retoques na dianteira para se integrar à nova
identificação da marca e mais equipamentos. Além de navegador GPS, o sistema de
projeção de informações no para-brisa agora é colorido. Decidiu oferecer versão
única– Griffe – por R$ 99.990 e se manter simbolicamente abaixo da linha de R$
100.000.
ANTECIPAR 2015 é
recurso de marketing cada vez mais evidente, em mercado de vendas cadentes.
Citroën anunciou mudança de ano-modelo da linha C3, praticamente sem alterações
visuais. Readequou o nome de algumas versões, adicionou equipamentos sem
repasse ao preço e acrescentou câmbio automático à versão intermediária
Tendance.
PALIO Fire,
apesar de bem aceito, tem preço de entrada artificialmente baixo. Na versão
duas-portas parte de R$ 24.730, mas equipamentos importantes como cintos de
três pontos retráteis nas extremidades do banco traseiros, dois encostos de
cabeça e desembaçador/limpador do vidro traseiro são opcionais. Essa estratégia
mina os esforços de melhorar a segurança.
ADIADA pela
quinta vez a aplicação compulsória de rastreadores em todos os veículos.
Denatran postergou para julho de 2016 o uso desse equipamento que, quando
muito, deveria ser opcional. Além não ter comprovado em testes seu bom
funcionamento, tornou-se um assunto que beira o surrealismo. Quem ainda
acredita que essa inutilidade um dia chegará de fato?
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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