Fernando Calmon |
O Salão do Automóvel de Paris, o mais longo entre as
exposições internacionais e que se encerra no dia 16, evidenciou a aposta da
maioria dos fabricantes em modelos híbridos, híbridos plugáveis e elétricos.
Embora a indústria veja esse cenário como oportuno, ainda não se tem certeza de
como os consumidores dos mercados maduros do Hemisfério Norte vão “abraçar a
causa”.
Nos elétricos, a autonomia tem aumentado, mas não há a segurança de recarga
rápida e capilar. E por ainda demandar subsídios governamentais para trazer os
preços a uma realidade aceitável, mesmo para compradores de alto poder
aquisitivo, sobram dúvidas.
O mercado europeu continua a caminhar, até certo ponto, de forma contrária,
ancorado nos baixos preços atuais da gasolina e do diesel. A crescente
aceitação de SUVs e crossovers ficou marcada mais uma vez em Paris, apesar de
significar aumento de consumo de combustível e, como consequência direta, de
CO2.
Um dos modelos conceituais que chamaram atenção foi o BMW X2, um crossover
compacto que segue a moda. Seu estilo, sem dúvida, é o mais atraente da gama X
do fabricante alemão, que não revelou sua mecânica, mas deverá ser a do X1 de
tração dianteira. No outro extremo está o novo Land Rover Discovery de sete
lugares que, apesar das dimensões avantajadas, perdeu quase 500 kg de massa por
usar estrutura de alumínio.
Dois compactos, no entanto, roubaram a cena. O novo Nissan March (Micra, na
Europa) rompeu com o estilo convencional e ficou ainda mais ousado que o Kicks.
A marca japonesa afirmou que o modelo ainda está distante de produção no
Brasil, vai depender da recuperação do mercado aqui. Mesmo discurso adotou a
Citroën em relação ao novo C3, cuja atualização estilística é marcante. Mas
tudo pode não passar de dissimulação, o tradicional “esconder o jogo”. Sem
dúvida, o cronograma de lançamento para esses dois modelos pode se dilatar, mas
quem ficar parado no tempo correrá o risco de se dar mal no futuro.
Sandero e Logan (Dacia na Europa) passaram a ter estilo um pouco mais refinado
e, tudo indica, os Renault homônimos produzidos no Brasil e em 2017 também na
Argentina não acompanharão. O CH-R, que de tão arrojado parecia um exercício de
estilo, estreou no salão praticamente igual à forma original concebida e pode
inspirar as linhas do futuro crossover que a Toyota produzirá no Brasil.
Novo Audi Q5 a ser feito no México dentro de alguns meses e, portanto, com
preço competitivo aqui, impressionou bem pelo desenho marcante que dá início à
estratégia de diferenciar mais a linha de automóveis dos crossovers e SUVs. A
Volkswagen procurou demonstrar uma guinada tecnológica em direção à
eletrificação e aos carros autônomos para virar a página em relação aos motores
a diesel. Sem lançamentos de impacto este ano em Paris entre os carros esporte,
os Mercedes-AMG GT Roadster e C Roadster acabaram por roubar a cena.
Tornaram-se a demonstração viva de que, embora o clima não ajude, sempre há
espaço para conversíveis, mesmo que representem parcela quase simbólica das
vendas totais. Mas dessa liberdade os europeus não abrem mão.
RODA VIVA
SETEMBRO foi um mês ruim para o mercado interno por ter menos dias úteis e
greve bancária. Volkswagen estava sem estoques depois de 30 dias com as suas
três fábricas paradas em razão de conflito com um fornecedor de bancos. Queda
atingiu 20% sobre o mesmo mês do ano passado e 23% no acumulado de 2016.
Anfavea manteve previsão anual em menos 19% sobre 2015.
ESTOQUES totais de 40 dias de setembro (mesmo sem nada nos pátios da VW e
da sua rede) continuam altos. Sinalização para o último trimestre indica leve
recuperação, na realidade números um pouco menos negativos. Fenabrave
(associação das concessionárias) prevê que vendas de automóveis, comerciais
leves e pesados encolherão cerca de 20% nos 12 meses deste ano.
FIAT MOBI tem vantagem na hora de entrar numa vaga mais apertada por suas
dimensões menores e a versão Way, com altura de rodagem elevada, mostra
eficiência em pisos irregulares. Visibilidade traseira é um ponto fraco, em
especial no uso urbano. Em termos de desempenho quase nada muda em relação ao
Uno quando tinha os antigos motores de quatro cilindros.
POR CAUSA da legislação, que considera picapes de cabine estendida ou dupla
como veículos comerciais, a Fiat Toro receberá o novo motor de quatro cilindros
flex com cilindrada maior de 2,4 litros e 175 cv. O mesmo motor, colocado no
Jeep Compass (considerado automóvel), precisou se limitar a dois litros para
enquadramento competitivo no IPI.
PASSARAM-SE cinco anos e o Denatran não implantou o sistema que aponta se
o veículo sujeito a recall por problema de segurança deixou de atender a
convocação. A notificação sairia no certificado de licenciamento anual e
poderia melhorar o índice de comparecimento às concessionárias, hoje inferior a
50%. E, pior, sem solução à vista para essa estranha omissão.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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