Coluna 4717 - 24.11.2017 edita@rnasser.com.br |
Carta ao Og Pozzoli
*1930, Itaboraí, RJ
+2017, S Paulo, SP
Velho amigo,
sei,
não me tomará por insensível a esta altura dos fatos, mas seu passamento
trouxe-me e seus amigos a sensação de alívio. Seus últimos tempos por aqui não
lhe foram fáceis nem tranquilos. O Fábio Amorim, meu editor na Gazeta de
Alagoas, ligou-lhe ao seu aniversário e me sugeriu não chamá-lo: você estava
hospitalizado. Fernando Siqueira, mesma função na Tribuna do Norte, foi
visitá-lo e fez-me cenário pouco claro. Entendi, você estava aquecendo o velho
motor para a passagem.
Cartas a amigos idos no usual têm acentos de perdas e lamúrias pelo que
não foi feito. Não é o caso e peço entenda-a como ode a uma personalidade de
ações indeléveis. Sei claramente, neste país sem memória, poucos se lembrarão
você ter sido o remanescente do trio paulistano implantador do antigomobilismo
no Brasil. Com o Roberto Lee e o Eduardo Matarazzo mostraram ser o colecionar
automóveis atividade de agentes históricos culturais, longe do rótulo de rico
ocioso. Juntaram outros sonhadores, como o Júlio Christiano e o Fernando
Carneiro Leão no Rio, o Pacífico Mascarenhas na mineira BH, para espraiar a
ideia. Meados dos anos ’60 auxiliaram criar o primeiro dos Veteran Car Club, no
Rio de Janeiro e, a seguir em S Paulo. Este, com molde internacional, foi a
semente disseminadora de tantos clubes assemelhados até na razão social.
Fluminense de Itaboraí, RJ, criado em Natal, RN, de nome peculiar
– parto complicado, seu pai fazia palavras cruzadas, e não conseguiu fechá-las:
faltava uma – Rei de Bazan, duas letras. Nascido, foi premiado com a
descoberta ...
Com tal início você foi peculiar no colecionar, na opção mudar-se da
Paulistânia para grande chácara na periferia, sobre carregando a querida Maú
com toda a enorme logística envolvida para criar quatro meninos, pelo olhar
profissional aplicado em sua bem sucedida vida de empreendedor. Distante, criou
estrutura para restaurações em domicílio, uma vila abrigando os prestadores de
serviço e de manutenção constante. Sua visão de preservar discrepava do
inicialmente praticado, focando nos veículos especiais, de relevo, pouca
produção, optando pelos muitos norte-americanos disponíveis. Você antevia, logo
desapareceriam, trocados pelos novos produtos da então nascente indústria
automobilística nacional.
Macio de convívio, modesto como enciclopédia de conhecimentos, em
especial os produzidos nos EUA, garimpador de veículos e de sua história, você
foi exemplo de seriedade às atividades do antigomobilismo no Brasil. Antes de
conhecê-lo, o admirava: ao fim da década de ’60 para preservar o acervo
nacional você e o Roberto Lee conseguiram ato federal vedando exportar veículos
antigos – fosse válido atualmente impediria o dispersar da frota antiga
brasileira. Por sua densidade no meio, em 1985, quando organizei a dita
rematada maluquice, e na prática a pioneira longa viagem em carros antigos, no
caso em Fords A entre São Paulo e Brasília, fui pedir sua presença, aval de
importância e seriedade. Em Brasília, entregamos aos Ministros dos Transportes
e da Justiça o pedido de criação da figura do veículo antigo no Código de
Trânsito, o hoje dito Placa Preta. Criávamos ali, todos os 100
participantes, o Turismo Antigomobilístico, pois até então os antigos na
estrada eram apreendidos por falta de equipamentos tornados obrigatórios
posteriormente à produção. Um disparare jurídico, mas era o que se cometia.
Logo em seguida, com a crise do Veteran Car Club SP, para manter vivo o
movimento, você criou a SPAA, Sociedade Paulista de Automóveis Antigos,
reunindo os colecionadores da capital.
Realizou a viagem de S Paulo-Natal, muitos quilômetros e
efeito-demonstração de factibilidade dos clubes de veículos antigos,
disseminando a atividade por infindável sequência de cidades.
Quando propus a criação da Federação Brasileira de Veículos Antigos e me
indicaram presidente, condicionei-a a você aceitar ser o Vice – e sucessor-,
para lastrear credibilidade aos antigomobilistas espalhados pelo país. Mesma
razão, sua presença ajudou a formar a sólida base para o Encontro Nacional, em
Araxá, tornar-se a grande referência nacional.
Faço um salto para reverência pessoal.
Há algum tempo, após 12 anos de tratativas, a Ford atendeu a solicitação
minha para cancelar o contrato de comodato de cinco automóveis com o museu
implantado pelo Roberto Lee em Caçapava, SP, incluindo um Overland 1906 e o
único exemplar do Willys Capeta ao Museu Nacional do Automóvel, em Brasília.
O
Lee se fora, o Museu estava vilipendiado, peças e veículos desapareciam, os
carros da Ford haviam sido saqueados. Cautela de advogado, para retirada e
recebimento, preparei laudos descritivos, constando estado dos veículos e
ausência de componentes. E convoquei-o para co-assiná-los. Que manhã, Alah.
Aberto o prédio, o ar era impregnado de mofo, unidade, matérias em
decomposição, fezes de pássaros e de roedores, água empoçada. Os automóveis,
degradados, pilhados, e deles muitos você participou da localização,
restauração, revivificação para serem entronizados no Museu.
Andávamos com
dificuldade, e o ar nos era pesado física e emocionalmente pelas lembranças e
pelo desprezo deste país e suas pretensas autoridades às tentativas
particulares em formar acervo cultural para a posteridade. Eu examinava os
carros sendo retirados, conferia os itens para entregar os laudos ao advogado
da Ford, e me surpreendi ao procurá-lo, dando com você encostado num pilar, num
choro silencioso e sentido. Foi para mim a maior declaração de amor à causa, de
respeito à ideia que você ajudou a apresentar, praticar, manter viva, ante o
retrato do desrespeito do Estado à Cultura. Entendi também, você, quase
octagenário, me distinguia muito, dirigindo quase 300 km para me ajudar. E
sabia, você estava nitidamente preocupado com o futuro seu acervo, pois a
Secretaria de Cultura em S Paulo inflava esperanças de perpetuar sua coleção,
adquirindo-a para implantar merecido e óbvio Museu do Automóvel em S Paulo – depois
condensou a proposta em um valor: R$ 0. Queria recebe-los em comodato, sem
custos …
Nada de história, cultura ou antigomobilismo, mas apenas marketagem
politica barata. Nesta trilha da insensibilidade oficial, lamentei
profundamente não ter tido êxito ao conduzir, junto à Presidência da República
sua generosa proposta, de ceder e conduzir conversível antigo em uma das posses
da má lembrada Presidente Dilma. Nas providências alguém acometido de ataque de
idiotia considerou-o de pouca segurança, condicionando aceitar, com condução
por motorista do Palácio do Planalto, impossível pela falta intimidade e de
tempo para treino. Resultado, trapalhada óbvia – abriram mão do automóvel
impactante, histórico, conduzido por um dos ícones do antigomobilismo, alugando
adulterado Ford 1929, conduzido pelo dono, pois o tal de motorista não
conseguiu dirigi-lo …
Há, evidentemente, muito mais, em especial pelo legado do seu exemplo de
seriedade, confiabilidade e dedicação ao extremada ao tema, de seu jeito
objetivo e prático para restauração e uso dos automóveis, pelo cultivar a
história e conta-la, com riqueza de detalhes, a todos os interessados em beber
em fonte tão privilegiada. Das muitas lembranças generosamente geradas por
você, duas trazem-me especial registro: a férrea vontade em manter unidade da
coleção, resistindo vende-la em partes, apesar de todas as dificuldades
externas sinalizando como a mais óbvia das soluções; segunda, de orgulho
pessoal, e você se lembra do telefonema que lhe dei em março do ano
passado, desde o aeroporto de Orlando, Fla. Relatei-lhe minha surpresa e
alegria, contando, indo ao Amelia Island Concours d’Élegance, em Jacksonville,
no balcão da imigração o oficial perguntou o propósito da minha viagem.
Expliquei-lhe o assistir ao evento em Amelia. E ele, surpreendendo,
indagou se eu conhecia a certain mister Possoli (?!), a famous Brazilian
cars collector. Foi a glória no país do mensalão, da lava jato, da
descrença nos poderes da República, das dúvidas quanto ao futuro, da emigração:
na terra do automóvel um brasileiro limpo, ético, era reconhecido!
Soube da sua última notícia ao fim de desafio a 4x4 nas serras mineiras,
chegando a sinal para comunicação, recebi da Vera, mulher do nosso
enciclopédico Zé Luiz Vieira, sintética mensagem: Og se encantou hoje à
tarde.
Ela usava conceito do escritor e diplomata Guimarães Rosa – as
pessoas não morrem, ficam encantadas. Delicada e adequado. Durante sua
vida de estelares conquistas profissionais e pessoais, da implantação do
antigomobilismo, do co-optar pessoas ao novo hobby, a localizar veículos e
suas partes, contando histórias, descrevendo automóveis, implementando a ideia,
encantou a todos. E ao final, coerente, encantou-se.
Fique em paz, velho amigo. Roberto Nasser
Jipe Lada pode ser paranaense
AutoVAZ, a grande fabricante russa hoje controlada
pela união Renault-Nissan-Mitsubishi, anunciou atualizar o Niva, o quarentão
jipe Lada. O brilhante projeto inicial, mesclando Fiats 124 e 127, foi revisto
pela GM ao controlar a marca e, com assunção do controle pela líder francesa,
novamente adequado aos métodos, processos e controles da Aliança. Resistente
até em projeto, terá modificações totais, trocando plataforma e mecânica, de
princípio nova carroceria sobre a base mecânica comum aos Renaults Logan,
Sandero, Captur, Oroch, Duster, estes com opção de tração 4x4, sendo fácil
faze-lo.
Possibilidade de produção no Brasil é grande. No
Continente há demanda e inexiste produto para cumprir a função de jipe, mas
apenas utilitários esportivos com tração nas quatro rodas. Factibilidade ficou
patente há 15 dias em conversa entre Olivier Murguet, presidente da Aliança
para operações no continente sul, e alguns jornalistas. Indagado da
possibilidade de ter a nova geração do pequeno hatch Twingo, foi
claro ao declarar, produtos no Brasil terão a plataforma multi aplicada do
Logan. É base para serviço duro, desenvolvida na Romênia pela Dacia, sub marca
de sub preços da Renault, adequada às exigências das condições
terceiro-mundistas do mercado nacional.
2021, com a mesma aptidão, mas fugindo à simpática
imagem de pequeno jipe.
Roda-a-Roda
De volta – Marco profundo na história da Toyota no Brasil, picape e jipe
Bandeirante podem voltar ao mercado, por importação ou produção na Argentina. O
espírito, a resistência, são atributos da atual linha T70.
Jogo duro – Parece veículo do início dos anos ’90, até pela motorização
diesel antiga, V8, DOHC, 4,5 litros, 200 cv e 500 Nm de torque. Projeto em
análise.
Mudança – Na Europa Uber negocia com a Volvo aquisição de 24
mil (!) veículos com tecnologia autônoma. Inicia mudar o negócio, deixando de
ser apenas gestão de aplicativo.
Quando – Possibilidades de vir ao Brasil ? Remotas. Carro
autônomo exige adequada infra estrutura urbana. Quer dizer, participação na via
de rolamento com faixas, placas, sinalização a ser lida pelo pacote de
eletrônica veicular.
Constatação – Buracos, asfalto de terceira categoria, sinalização ausente ou
deficiente, placas encobertas por matos urbanos, espantam os autônomos. Só os
teremos após mudança conceitual: quando houver respeito ao contribuinte.
Clareza – Tempo de confusão quanto a definições de morfologia
– o que é um SUV? -, e de técnica, Bob Sharp, editor do ótimo
sítio Autoentusiastas, baixou regra interna. O câmbio CVT – sigla de Continuous
Variable Transmission - será tratado como Câmbio Automático de Polias
Antagônicas.
Parabéns para o Compass
Ao completar um ano de produção o Jeep Compass, feito pela FCA em sua
novíssima fábrica em Goiana, norte de Pernambuco, tem muito a comemorar, em
especial enorme liderança: no disputado segmento domina 57% do mercado – a soma
de todos os concorrentes.
Até o início do mês havia emplacado 39.489 unidades,
num crescendo com patamar mais elevado em outubro, ao faltar apenas 36 para
atingir a plataforma de 5 mil vendas mensais. É o terceiro produto da fábrica
pernambucana, segundo da marca Jeep, e sua performance de vendas fomentou
crescimento de 57%, recorde dentre as 10 maiores marcas no mercado nacional.
Superou previsão FCA/Jeep de 2.000/mês.
Projeto para mercados mundiais, o Brasil foi o primeiro país a
produzi-lo e a iniciar exportar, pela Argentina, à América do Sul. Atualmente
México, China e India o produzem e vendem a mais de 100 países. O desenho das
vendas no mercado brasileiro é pela faixa superior de dotação e preço. No caso,
35% dos compradores optam pelo conjunto mecânico oferecido com exclusividade:
motorização diesel, 2,0 litros, 170 cv de potência e 35,7 kgmf de torque,
câmbio automático de 9 marchas, tração nas quatro rodas e reduzida. A opção
mais vendida, 65%, emprega motor flex, dito TigerShark, 2,0 litros, 166 cv e
20,5 m.kgf de torque, eficiente transmissão automática Aisin de seis
velocidades.
Melhor dotado dentre os nacionais, pode ser bem equipado, com sistemas
de condução semi autônoma, controle adaptativo de velocidade (ACC); alerta de
colisão com frenagem automática (FCWp), monitoramento de mudança de faixa de
direção (LDW); indicador de veículo nas laterais; estacionamento semi autônomo
(Park Assist).
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