Alta Roda nº 1050/350– 20/06/2019
Fernando Calmon |
Exportar é
fundamental
Apesar de todos os fatores de desestímulo, a
indústria de veículos instalada no Brasil, incluindo veículos leves e pesados,
tem programado investimentos de aproximadamente R$ 50 bilhões no período
2016-2024, segundo levantamento da Automotive Business. Isso, por si, não
garante que todo esse capital será mesmo despendido. O mercado interno vem se
recuperando mês a mês, porém as exportações vão cair este ano, um dado
preocupante.
O impacto da queda de vendas à Argentina agravou o quadro. Basta lembrar que em
2005 fabricantes nacionais exportaram quase 900.000 unidades, cerca de 40% da
produção daquele ano. Em 2019 o País venderá ao exterior pouco mais de 500.000
veículos, algo em torno de apenas 16% da produção. Situação insustentável
porque haverá necessidade de aumentar importações de componentes caros nos
próximos anos, sem o contrabalanço de faturamento externo.
No Fórum Estadão Think, da semana passada, surgiu ideia de melhorar, em curto
prazo, o volume de exportações em mais 1 milhão de unidades anuais. Seria por
meio de aumento do porcentual de reembolso do programa Reintegra, criado pelo
Governo Federal para compensar impostos embutidos nos veículos vendidos ao
exterior. Sim, o Brasil exporta impostos, algo surreal. Hoje o Reintegra é de
apenas 0,1% e há proposta de aumentar para 10%.
O problema está no orçamento deficitário do governo. Entretanto, estudo
preliminar da consultoria AT Kearney estima 120.000 novos empregos para 1
milhão a mais de veículos. A geração indireta de impostos e encargos
compensaria a aparente perda de receita fiscal. Nada fácil de convencer o
Ministério da Economia. Porém, houve aceno do superintendente da Receita
Federal, presente no evento, para estudar o assunto com foco apenas no volume
adicional a exportar. Não resolve, porém, o reembolso do imposto estadual
previsto em lei e não cumprido.
No mesmo dia do fórum, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva
organizou o Simpósio de Eficiência Energética e Emissões. O mundo está às
voltas com um dilema: a demanda de energia crescerá 30% até 2040 e só depois
desta década o petróleo dará sinais de recuo. Até lá, emissões de CO2 terão de
ser reduzidas pelo Acordo Mundial do Clima. Se o cálculo for feito “do poço à
roda” (da produção primária ao que sai pelo escapamento dos veículos), ficará
ainda mais difícil fechar a conta.
O Brasil está bem nesse cenário graças aos biocombustíveis: etanol
(principalmente) e biodiesel. A meta de emissões de 91 g/km de CO2 para
veículos leves é rigorosa, mas deve ser atendida. Haverá aumento da produção de
etanol para 49 bilhões de litros, quase o dobro do nível atual. E com o
programa RenovaBio poderemos vender créditos de carbono para outros países, em
especial europeus.
No mesmo seminário foi apresentada a próxima especificação da gasolina. Entre
outras mudanças, finalmente se adotará a octanagem RON, de maior difusão no
mundo, e manutenção de 27% de etanol. Dessa forma haverá maior transparência no
processo de produção. Além disso, a referência RON é mais significativa para
motores modernos, inclusive os que utilizam turbocompressores.
ALTA RODA
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VOLKSWAGEN ainda
não confirma, mas picape Tarok (concorrente da Toro) será produzida mesmo em
General Pacheco, Argentina. Dividirá instalações com SUV Tarek (maior que
T-Cross, menor que Tiguan). Ambos os projetos, no entanto, devem atrasar em
razão da situação econômica do país vizinho. Início de produção do Tarek: 1º de
janeiro de 2021. Picape fica para um ano depois.
SEGUNDA geração do Range Rover Evoque estreia na
versão topo de linha: R$ 312.900. Sem mudanças radicais no estilo, tem
entre-eixos 2,1 cm maior, mas externamente não aumentou. Dos recursos
eletrônicos destaca-se o "capô transparente", na verdade um conjunto
de câmeras que forma imagem do solo e a transfere para a tela do console
central. Útil em terrenos difíceis e vagas apertadas.
MATERIAIS de acabamento, equipamento e espaço
interno são pontos fortes do SUV grande JAC T80, para sete passageiros. Há seis
saídas de ar no painel, mas multimídia não aceita pareamento Android Auto/Car
Play. Suspensão e câmbio estão bem acertados, mas, sem injeção direta, o motor
turbo tem consumo relativamente alto. Falta regulagem de distância do
volante.
CITROËN comemora centenário com edição especial
Origins 100, de 550 unidades, distribuídas entre C3, Aircross, C4 Lounge e C4
Cactus. Evento em São Paulo deu chance de dar uma voltinha ao volante de um
Citroën 11 B Normale, 1956. Carro de colecionador muito bem conservado, fácil
de conduzir e com características quase intactas de boa relação
conforto-estabilidade.
JOINVILLE (SC) conseguiu melhorar o trânsito por
meio de uma rotatória, especialmente construída, que teve origem na análise de
dados armazenados em nuvem do aplicativo de rotas Waze. É possível estudar
pontos críticos de congestionamentos e implantar obras dentro de custos
razoáveis. Atualmente, 70 cidades brasileiras estão aptas a usar a
ferramenta.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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