Alta Roda nº 717/77 – 24/01/2013 |
Fernando Calmon |
Salões
de automóveis sobem seu astral quando refletem recuperação de vendas e
produção. Essa atmosfera positiva marca o Salão de Detroit que se encerra neste
domingo. Afinal, o mercado está em franca expansão (13% em 2012), embora as
marcas locais, à exceção da Jeep, continuem patinando na preferência do
consumidor.
Simbolismo
do Corvette Stingray, em sua sétima geração, ajuda a levantar autoestima da
Chevrolet. Todo novo, herda características de marcas alemãs como câmbio manual
de sete marcas (até agora só no Porsche 911) e distribuição de peso de exatos
50% em cada eixo (ponto de honra da BMW).
No
outro extremo, a picape pesada Silverado reformada coloca pressão sobre a arquirrival
série F, da Ford. A reação veio da picape conceitual Atlas, visão antecipada da
nova F-150, em 2014. Houve comentários de que a empresa ousou na estratégia e
talvez se reflita nas vendas do modelo atual.
Leves
reestilizações do Grand Chrerokee e Compass, acompanhadas de versões diesel e câmbio
automático convencional no lugar do CVT (no final do ano, aqui), continuam a
animar a Jeep.
Essa
edição do salão está mais atraente para o mercado brasileiro. O SUV-conceito
compacto da Honda sobre arquitetura do Fit e a bem-vinda reinvenção estilística
do Corolla, batizada pela Toyota de Fúria (interior não exibido), antecipam o
que será também produzido aqui, em 2014/15.
Outra
novidade está fora do Salão, mas mostrado a jornalistas na véspera do dia de
imprensa. Mercedes-Benz CLA, sedã compacto anabolizado com base nos Classes A e
B, além de carro mais aerodinâmico do mundo (Cx incrível de 0,22), deverá abrir
a produção no Brasil. Falta a empresa alemã bater o martelo, mas Dieter Zetsche,
principal executivo mundial, admitiu ser mais viável um acordo com a Nissan, na
fábrica em construção de Resende (RJ).
Graças
ao previsto crescimento, nos próximos anos, do mercado brasileiro de marcas
refinadas, esta edição do salão merece um olhar mais atento. Acura e Infiniti têm
novidades: SUV médio MDX e novo sedã Q50, respectivamente. Cadillac, até como
reação ao maior número de concorrentes, é considerada marca de importação certa
pela GM. E o médio-grande ATS, de tração traseira ou 4x4 e menor Cadillac em
dimensões, mostra apelo visual digno dos europeus, o que atrai por aqui.
Entre
outras novidades conceituais, destacam-se o Volkswagen Cross Blue e o Hyundai
HCD-14. O primeiro, um crossover híbrido diesel de sete lugares (no salão,
versão de seis lugares), específico para o mercado local, com preço entre
Tiguan e Touareg. O projeto será ainda aperfeiçoado para provável produção ao
lado do Passat americano. O segundo é a visão do futuro sedã de topo coreano,
Genesis, com portas traseiras “suicidas” à Rolls-Royce. Versão final deve ousar
menos.
Balanço
positivo do salão não impede constatar, mais uma vez, que fabricantes parecem
bem mais empolgados com soluções alternativas do que compradores. Elétricos
puros, híbridos e Diesel, tudo somado, representam apenas 3% das vendas totais
nos EUA. Embora tenda a crescer, na realidade poucos querem pagar a conta. E,
para complicar, motores convencionais têm mostrado queda de consumo de combustível,
a preço que todos suportam.
RODA VIVA
COTAS de produtos mexicanos ainda amarram
planos de importação. SUV compacto Chevrolet Trax (aqui se chamará Tracker)
virá para atrapalhar a vida de EcoSport e Duster, porém falta definir de que
forma Sonic será “prejudicado”. Volta da Alfa Romeo ainda está condicionada,
pela Fiat, à avaliação de cotas previstas no regime Inovar-Auto. Nada
confirmado.
FLUENCE GT, sedã discreto, ao menos faz jus à sigla, ao contrário do
Sandero da própria Renault. Motor turbo de dois litros, 180 cv, coloca-se em
desempenho entre Peugeot 308 THP e Jetta TSI, na faixa dos R$ 80 mil, mas sem
câmbio automático. Bom trabalho de engenharia na suspensão. Faltam coisas simples:
um-toque nas alavancas de limpador e setas.
MESMO sem confirmação pela GM, importação
do novo Malibu é certa, depois da desistência do Omega. Chevrolet concorrente
direto do mexicano Fusion, impostos refletem no seu preço (vem dos EUA, sem
isenções). Retoques externos e internos e motor um pouco mais potente agradam,
em breve avaliação. Banco traseiro, baixo demais, será mudado até meados do ano.
ENQUANTO a taxa cambial ajudou, alguns
modelos nacionais foram competitivos até em países avançados do Hemisfério
Norte. Destaque para o Fox, com 305.000 unidades, maior volume já exportado de
um automóvel brasileiro para a Europa (2005-2012). Voyage, nos anos 1980, teve
202.000 unidades vendidas nos EUA e Canadá, feito para época.
SAIU lista dos 10 mais vendidos na
Europa, em 2012, segundo pesquisa da consultoria inglesa Jato: Golf, Fiesta,
Polo, Corsa, Clio, Focus, Astra, Qashqai (Nissan), Mégane e Passat. Crossover da
Nissan é o único a nunca aparecer por aqui. Os outros, em diferentes gerações,
foram produzidos e/ou importados, nomes familiares aos brasileiros.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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