Alta Roda nº 870/220– 07 /01 /2016
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Fernando Calmon |
No recente Salão
do Automóvel de Tóquio não foram apenas modelos autônomos e futurísticos que
roubaram a cena. O governo japonês se empenha em disseminar a ideia da era do hidrogênio e nada como os carros para dar partida
a uma verdadeira aposta. Esse elemento químico é o mais abundante do universo e
está presente na água (H2O), que representa 70% da Terra.
Uma nova “sociedade baseada no hidrogênio” será difícil de florescer. Para
obtê-lo a partir da água é preciso eletricidade em grande escala. Se esta vier
de fontes fósseis ou não renováveis – como na maior parte do mundo – o balanço
final é negativo em termos de emissões de CO2 e do temido efeito estufa. Mas se
pode extrair o gás também de biogás de esgoto ou lixo.
A pilha a hidrogênio para gerar eletricidade a bordo seria boa solução para
carros elétricos, pois emite apenas vapor d’água. Permite tempo de
abastecimento e autonomia semelhantes aos combustíveis líquidos, ocupa menos
espaço e é mais leve e fácil de reciclar.
Incentivada pelo governo do Japão, a Toyota desistiu de esperar pela evolução
das baterias. Em 2015 passou a fabricar em pequena série e vender apenas no seu
país o Mirai, com estética de certa forma discutível por ousar demais. A
produção, de 700 unidades no primeiro ano, subirá para 3 mil em 2017, contando
com exportações para EUA e Europa. Até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, o
fabricante esperar ver 12 mil carros circulando no Japão e 30 mil no mundo. O
preço do Mirai, pouco maior que de um Camry, é bem elevado: US$ 70 mil (R$ 280
mil). Mas pelo menos 25% desse valor terá subsídio governamental.
Mas onde abastecer o tanque com hidrogênio? Há uma meta
de abrir 100 postos no Japão até março próximo, mas cada um custa lá US$ 4
milhões (R$ 16 milhões), 15 vezes mais do que um convencional. Apenas 80
estarão inaugurados, quase todos dentro de instituições públicas e privadas.
A Honda aproveitou o Salão de Tóquio para apresentar
a versão definitiva do seu elétrico com pilha a hidrogênio, o Clarity. Chamados
de FCX Clarity, 50 carros rodam em quatro cidades da Califórnia, EUA, desde
2008, em leasing por se tratar de unidades experimentais de propriedade do
fabricante. Ela perdeu a corrida para oferecer o primeiro automóvel específico
fabricado em série no mundo, pois só estará à venda em março próximo,
inicialmente no Japão.
Este modelo, do mesmo porte do Mirai, porém mais
elegante, tem autonomia de 700 quilômetros, superior à do rival. O conjunto
pilha e motor elétrico ocupa volume um terço menor que no Mirai, equivalente a
um motor V-6 convencional. Isso permitiu colocá-lo sob o capô e liberou espaço
no habitáculo para cinco adultos e porta-malas mais amplo. A Honda desenvolveu
um container transportável para produzir hidrogênio e um conversor para o
Clarity fornecer energia elétrica a uma casa ou de forma emergencial.
Grandes fabricantes mundiais também desenvolvem
pilhas a hidrogênio há mais de uma década. A Hyundai tem um Tucson/ix35
adaptado à venda nos EUA. Alguns ainda não consideram a tecnologia
suficientemente madura para justificar um modelo específico, como Mirai ou
Clarity. O tempo dirá quem, de fato, está certo.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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