F-1 COMEÇA A SE
MEXER, CBA CONTINUA A MESMA
Início de ano é sempre uma boa oportunidade para
mudanças, desde aquele regime, parar de fumar (BS e AK estão liberados de
tamanho sacrifício…) ou começar a praticar alguma atividade física com
regularidade teutônica, para não dizer que esqueci do AG. A F-1 é assim: mal
curamos da ressaca do réveillon e já se fala na apresentação dos carros para
2016, novas tendências, contratações etc. No Brasil, porém, há culturas que
parecem pinturas, daquelas rupestres. Exemplo disto é a inigualável disposição
da CBA em promover o esporte criando novas taxas e fingindo que não vê que o
esporte não cresce.
Comecemos pelas mudanças e
pelas novidades anunciadas. A McLaren foi a primeira confirmar a data de
apresentação de seu novo carro, o MP4-31, 21 de fevereiro, em Barcelona,
mesma data e local escolhidos pela equipe Haas, na expectativa de reverter a
trágica — pelo menos para os padrões de uma equipe acostumada a pódios,
vitórias, títulos, enfim, ao sucesso —, temporada de 2015. A aposta do time de
Woking é em um carro de dimensões compactas, explorando ao máximo a
aerodinâmica. Outra novidade na McLaren é a contratação do alemão Joest Capito,
que começou a se destacar no automobilismo internacional na implementação da
Porsche Cup no começo dos anos 1990. Após passagens pela Sauber, Audi e VW,
Capito assume agora a responsabilidade da equipe de F-1 do grupo comandado por
Ron Dennis.
Se a McLaren conta cada vez mais sobre sua programação, o
primeiro modelo da Haas segue guardado a sete chaves: sabe-se apenas que é um
projeto da empresa Dallara e que seu trem de força foi desenvolvido pela
Ferrari em uma versão cliente em especificação superior ao que sempre foi
entregue à Sauber.
Falando da equipe suíça, o novo C-35 só ser testado na
segunda semana de testes no circuito catalão, entre 1 e 4 de março. Nos testes
de fevereiro será usado um chassi de 2015 com algumas peças e sistemas do carro
novo. A Ferrari ainda não confirmou, mas poderá apresentar seu carro no dia 19.
Sergio Marchionne, o chefão executivo da FCA, grupo que controla a Ferrari, não
perde oportunidade para deixar claro que não espera nada menos que o título
desta temporada.
A Williams, que continua com o motor Mercedes, segue por uma linha
diferente e vem com um carro bastante evoluído no que diz respeito à sua
aerodinâmica, em particular na asa dianteira e no extrator traseiro do FW-38.
Este modelo será apresentado, com a frugalidade quase espartana que marca o
time de Frank Williams, na manhã do dia 22 de fevereiro, início dos primeiros
quatro dias de testes oficiais desta temporada.
Tudo indica que a Renault — que anuncia seu programa de F-1
no dia 3 de fevereiro —, só apresente seu novo carro na terceira semana de
fevereiro. De acordo com fotos que teriam vazado na revista oficial da
categoria, a equipe francesa adotará as cores amarelo e preto em seus
monopostos. O chassi, já se sabe, será uma evolução básica do modelo de 2015,
construído para incorporar o trem de força da Mercedes. O investimento na
compra da antiga Lotus e o capital necessário para desenvolver a participação
da marca como construtor significou um forte remanejamento no orçamento da
fabricante para o automobilismo. Isso incluiu o cancelamento do projeto World
Series by Renault, que incluía provas de monopostos das fórmulas 3.5 e 2.0,
provas de GT R.S. e Mégane de competição. A interrupção desse programa vai
deixar saudades.
Quem poderá sentir saudades da F-1 é Pastor Maldonado:
crescem os rumores de que Kevin Magnussen teria conseguido apoio de um
fabricante de roupas dinamarquês para bancar sua participação na temporada de
2016. A atual crise político-econômica que afeta a Venezuela, o preço cada vez
mais baixo do petróleo no mercado internacional e o próprio retrospecto de
Maldonado, jogam contra sua permanência na equipe que está sendo reestruturada.
A Red Bull, que após muito barulho e acusações
desmesuradas contra a Renault, segue usando o motor francês, afirma que a
construção do seu novo monoposto está mais avançado que o cronograma do
projeto. A Manor, até agora uma equipe que jamais teve condição de disputar
posições pontuáveis na F-1, conseguiu a façanha de obter os motores Mercedes
para seus carros de 2016. Seus novos monopostos terão seu desenvolvimento
conduzido pelo grego Nikolas Tombazis, que perdeu seu emprego na Ferrari na
reestruturação que contaminou Maranello em 2014 e agora volta à categoria como
aerodinamicista-chefe. A Manor, que vai usar o sistema de transmissão da
Williams, é a única equipe que ainda não definiu seus pilotos para esta
temporada. O alemão Pascal Wehrlein é tido como favorito, consequência do
contrato da equipe inglesa com o novo fornecedor de motores…
Em se tratando de motores, a FIA poderá anunciar muito
brevemente — questão de horas, no máximo dias— definições com relação à nova
regulamentação de motores para 2017/2018. As equipes inscritas no Mundial de
F-1 tinham até ontem para apresentar propostas para baixar os custos do aluguel
de motores, opção que foi colocada ante a recusa em admitir a adoção de um
regulamento duplo que permitiria a utilização de um motor unicamente de
combustão interna e com algumas vantagens técnicas sobre a unidade de potencia
atualmente em uso, que mescla essa opção e sistemas de recuperação de energias
térmica e elétrica.
A introdução de novas regras em 2017 para o motor e até
mesmo a possível volta do reabastecimento durante as provas, começa a ser
bombardeada pelas equipes. Pat Symmonds, da WIlliams, declarou recentemente que
é prematuro definir mudanças para a temporada do ano que vem “e que seria mais
indicado pensar em alterações para 2018”. Mostra clara que a briga de poder
entre FIA-Bernie Ecclestone e as equipes está longe de um final feliz.
Final infeliz
Não dá para pensar que estamos perto do final de algo
ruim, mas com certeza é mais um capítulo infeliz na novela que caracteriza a
atual administração da Confederação Brasileira de Automobilismo, a CBA. Embora
o automobilismo brasileiro precise urgentemente de propostas que criem
facilidades para a progressão de pilotos recém-saídos do kart e recuperar a
credibilidade da entidade junto aos fabricantes de automóveis, tudo o que se vê
são atitudes contraproducentes a tais objetivos. A última delas é
institucionalizar a prática dos “track days”, que se transformou,
particularmente em São Paulo, na mais nova forma dos clubes que detém o poder
junto à Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp) em auferir lucros sem
qualquer investimento.
Os tais “track days”são
eventos abertos a quem quer acelerar seu carros — geralmente de alto desempenho
— nas pistas. Para seus proprietários é a oportunidade de acelerar seus
brinquedos sem maior compromisso com o investimento necessário para quem
compete com regularidade. Para os clubes nada mais que uma forma de faturar em
cima da paixão desses proprietários, muitos deles sem qualquer pretensão de
fazer carreira no esporte. Respeitados os interesses das partes, a ausência de
qualquer tipo de instrução e aferição da capacidade que cada um tenha ou deixe
de ter para acelerar um carro de alta potência deixa claro que não há qualquer
interesse além do financeiro.
Se os track days usam a pista por horas e horas, quem
investe no esporte e alimenta a cadeia que gera empregos e conhecimento e paga
impostos, se vê espremido em um cronograma que comprime várias categorias em um
curto espaço de tempo única e tão somente para diluir custos. Em outras
palavras, os clubes não querem arcar com os custos de realizar eventos
específicos em dias separados porque exigiria deles esforço e imaginação para
criar um produto que desse o mesmo retorno financeiro. A velha história do
gastar R$ 2 para ganhar R$ 2,5 e jamais investir R$ 3 para faturar R$ 10 e
gerar riqueza e oportunidades para quem forma a base do esporte.
Não bastasse a Fasp ser administrada pelas mesmas pessoas que comandam
os clubes que a formam, a CBA fecha os olhos a tal situação. Se em outras
administrações houve a preocupação de se importar carros da F-3 e garantir ao
campeão a superlicença que dava direito a participar da F-1, há anos nada
semelhante acontece. A contratação de profissionais capazes de criar novas
oportunidades e com condições e competência para implementar as mudanças cada
mais necessárias seria o primeiro passo para reverter essa situação. O que se
vê, infelizmente, é mais do mesmo que há muito tempo só muda para pior o que já
existe.
O número de entusiastas,
incluídos aqui vários ex-pilotos, que admite ter perdido a paixão pelo esporte,
é cada vez maior. Só não nota isso quem está satisfeito com a situação atual e
certamente tira proveito disso.
WG
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