Wagner Gonzalez |
DAKAR ABRE TEMPORADA SOB CHUVA
Primeira
etapa cancelada, segunda encurtada: as águas não dão refresco à caravana do
Dakar 2016, que começou domingo na Argentina. Indiferente a isso, Sebastian
Loeb já lidera a competição onde participam os brasileiros Guiga
Spinelli/Youssef Haddad (18º após a segunda etapa), João
Franciosi/Gustavo Gugelmin (66º), Leandro Torres/Lourival Roldan (83º e líderes
na categoria quadriciclos supermodificados), entre os automóveis; Marcelo
Medeiros (4º entre os quadriciclos), e Jean Azevedo (135º Entre as motos). O
Dakar termina dia 16 em Rosário.
Há muito tempo o
hemisfério sul polariza as atenções do automobilismo esportivo na passagem do
ano: o Grande Prêmio da África do Sul foi disputado em torno da passagem do ano
entre 1962 e 1969. No dia 1º. de janeiro de 1968 essa prova marcou também a
última vitória de Jim Clark (Lotus 49-Cosworth). Também no início da década de
1960 começava a Copa Tasmaniana, que em seu ápice chegou a reunir os principais
pilotos da época e levou construtores como Brabham, Ferrari e Lotus a
desenvolver modelos para essa série, baseados nos carros de F-1 pré-1966.
A Tasman Cup, como o torneio disputado na
Austrália e Nova Zelândia era mais conhecido, atualmente tem uma edição vintage
com carros de autorama: em 2016 serão sete etapas abertas para carros que
disputaram as edições de 1964/1965 (mais detalhes aqui). Outro torneio, com carros semelhantes à F-4 e que já teve a
participação de Pedro Piquet até a Confederação Brasileira de Automobilismo
interromper sua campanha e, meses depois, discretamente desculpar-se pelo
erro. Tal qual a nova F-E, esse certame começa em um ano e termina no seguinte,
o que ajuda a consolidar o Dakar como a verdadeira abertura da temporada
anual do automobilismo.
O rally
que ficou mundialmente conhecido como “Dakar” foi idealizado por Thierry Sabine
em 1977, quando ele se perdeu no deserto da Líbia, metade do percurso entre
Abdijan (Costa do Marfim) e a cidade de Nice, na Costa Azul francesa. Sabine
disputou essa prova com uma moto e foi encontrado à beira da morte após ser
dado como desaparecido por quatro dias e, sobrevivente, decidiu criar o evento
que ficou mundialmente conhecido como Dakar. Seu sonho tornou-se realidade e na
noite de 26 de dezembro de 1979, 182 motos, carros e caminhões largaram do
Trocadero, na capital francesa, para chegar a Dakar, capital senegalesa, no dia
14 de janeiro. O percurso de 10.000 km teve Algiers (Algéria) como ponto
intermediário.
Desde
então o rali só cresceu e em 1992 a chegada foi em Capetown, na África do Sul,
num percurso que passou por 11 países! Prova de que nem mesmo a morte de
Sabine em 1986, quando o helicóptero em que viajava caiu nas areias do deserto
do Mali, interrompeu esse sucesso. No início deste século os problemas de
segurança e a instabilidade política dos países do noroeste da África que
serviam de rota ao Dakar foram tomando proporções cada vez maiores a ponto de
acontecerem sequestros e assaltos. O perigo cresceu e o que era considerado
impossível acabou acontecendo: no dia 4 de janeiro de 2008 as equipes de 248
motos, 204 carros e 98 caminhões faziam a vistoria prévia em Lisboa quando o o
diretor da prova, Etienne Lavigne, anunciou o cancelamento do rali embasado em
informações obtidas pelo serviço de inteligência do Ministério de Relações
Exteriores da França.
Na noite de 24 de dezembro de 2007 quatro
turistas franceses foram assassinados em Nouakchott, capital da Mauritânia, e
havia informações seguras sobre a possibilidade de um ataque terrorista contra
os competidores durante a passagem da prova por esse país. De fato, uma semana
após o que seria a chegada em Dakar, a previsão se concretizou naquela cidade,
no primeiro de uma série de atentados de autoria da Al-Qaeda que se repetiram
durante o ano.
A decisão consolidou algo que já era cogitado
há algum tempo: mudar o endereço do evento e a Argentina acabou sendo escolhida
como novo país sede do evento; tratativas para incluir o Brasil no novo roteiro
não deram certo e Bolívia, Chile e Peru acabaram dando o tom internacional
desta nova fase. Este ano o Peru deveria fazer parte do roteiro, mas problemas
políticos forçaram uma alteração de última hora e por isso o percurso terá
etapas que começam e terminam na mesma cidade, como você vê neste link.
Mas
nem só da burocracia surgem as dificuldades de uma prova como o Dakar, que
nossos hermanos chamam de Dácar, com acento agudo na primeira sílaba. Não é
raro que as chuvas atrapalhem os concorrentes e deixem o Malbec bem aguado, mas
o que está acontecendo este ano supera as expectativas. A primeira especial
virou apenas deslocamento — na especial os carros andam contra o relógio e o
tempo vale para a classificação do rali, no deslocamento há um tempo máximo
para se deslocar do ponto de apoio ao início da especial, ou do final desta
para o ponto de apoio seguinte. O francês Sebastien Loeb já demonstrou sua
disposição de superar lama, cascalho, altitude e deserto para conquistar um dos
poucos eventos que ainda não entraram na sua galeria de honra e ontem foi o
mais rápido. Deixou claro quem é o favorito à vitória!
Como acompanhar os resultados do Dakar 2016:
Para saber resultados de automóveis, clique aqui.
Para saber resultados de caminhões, clique aqui.
WG
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