Alta Roda nº 772/122– 20/02/2014 |
Fernando Calmon |
Segurança no trânsito pode ser abordada por vários aspectos
e pelo menos três estão na ordem do dia. O mais estranho é essa espécie de
rebelião na Câmara dos Deputados que, de repente, resolveu trazer para discussões
em regime de urgência um projeto que dispensa as autoescolas de instalação
obrigatória de simuladores de direção. A iniciativa assemelha-se à mobilização,
15 anos atrás, que extinguiu a exigência de kit de primeiros socorros em todos
os veículos. De fato, era uma proposta mal elaborada e, pior, mal executada
pela má qualidade do kit.
Não parece ser o caso dos simuladores, quando se sabe do
baixo nível de eficiência dos agora chamados pomposamente de centros de
formação de condutores (CFC). Trata-se de um equipamento útil cujo maior
“pecado” é aumentar em até 20% o custo para o candidato a motorista, como se
isso fosse algum impeditivo frente ao preço de qualquer veículo. A ideia foi do
Contran que, inclusive, mostrou pesquisa nos EUA em que o uso do simulador pode
reduzir em 50% os acidentes nos dois primeiros anos após a habilitação do
motorista.
Esta celeuma já levou ao adiamento por seis meses da
obrigatoriedade, pois só há, por enquanto, quatro fornecedores para milhares de
CFCs. Bom lembrar que muitos países permitem que o candidato a motorista, a
partir de 16 anos, dirija acompanhado por um maior de 25 anos já habilitado.
Dessa forma, quando o jovem atingir os 18 anos terá se sujeitado a muitas
situações reais de trânsito e o aprendizado será melhor, mesmo com a obrigação
de frequentar depois a autoescola oficial. Como isso (ainda) não é possível no
Brasil, o simulador ajuda no processo de tornar o trânsito mais seguro.
Outro programa útil que, afinal, começa a sair da longa preparação
é o Siniav, Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos. Pela
primeira vez se tornará possível conhecer e controlar a verdadeira frota
brasileira, pois carros novos e usados terão etiquetas eletrônicas em curto
prazo. A iniciativa vai bem além de apenas facilitar os que pagam impostos em
dia. Há várias aplicações em mobilidade urbana, gestão do trânsito, integração
de planejamento e informações entre os três níveis de governo, controle de
veículos clonados e roubados, além de possível utilização em pedágios,
estacionamentos públicos e garagens particulares.
E, finalmente, parece que dessa vez se aprovará uma lei
nacional (sem risco de vetos do Executivo) de regulamentação severa dos
desmanches – ou mesmo depósitos sem controle – de veículos sinistrados ou
aposentados por “invalidez total”. É fundamental para diminuir roubos de
veículos. Também ponto de partida para as essenciais ações de reciclagem –
embrião de qualquer programa de renovação de frota – e o aproveitamento
racional de peças usadas.
O que preocupa é certa condescendência do projeto em nível
federal. Em São Paulo, vigora desde o mês passado lei estadual mais rigorosa e
restritiva quanto a desvios e punições. Em vez de se aproveitar os esforços de
quem já se aprofundou (inclusive por ter a maior frota veicular do País),
trata-se de se flexibilizar as interpretações quanto a componentes ligados à
segurança que não podem ser reciclados ou revendidos.
RODA VIVA
RENAULT atiça
seus planos para o Brasil. Além da picape leve derivada do Duster, já confirmada,
empresa admite que entrará na faixa dos subcompactos mais baratos. Projeto
nasceu em parceria com a indiana Bajaj, mas a versão brasileira será de nível
superior. Essa faixa, hoje, representa 8% do mercado e em quatro anos poderá significar
16%.
NÃO será apenas a
diretoria da Toyota que sairá de São Paulo, em breve, de volta à sede
histórica, em São Bernardo do Campo (SP). Há planos de produzir nas instalações
do município vizinho o híbrido Prius. O governo deve conceder isenções para sua
importação, mas induzirá a montagem do carro no Brasil em baixa escala.
VENDAS mundiais
de 83,5 milhões de veículos leves e pesados bateram novo recorde no ano passado.
Aumento de 5% abala essa história de ruas saturadas como desculpa pelos males do
trânsito mal administrado. Ranking dos dez maiores mercados é o mesmo de 2012:
China, EUA, Japão, Brasil, Alemanha, Índia, Rússia, Reino Unido, França e
Canadá.
NESTA terça-feira
os dois Suzuki Jimny da fábrica, que iniciaram a maratona de 100.000 quilômetros
em 100 dias, atingiram 17.775 quilômetros rodados em 13 dias. Poucos
incidentes, além de pedras nos para-brisas. Há 50 anos, um Gordini da fábrica
completou 51.233 km em 21 dias, rodando sem parar (exceto para revisões) no
autódromo de Interlagos.
GOVERNO chinês
pretende liberar fábricas estrangeiras para atuar livremente no país. Hoje
estão obrigadas a ter um sócio chinês com 50% de participação de capital. Decisão
deve levar ao desaparecimento da maioria das marcas 100% chinesas.
Sobreviveriam apenas as mais fortes, que teriam de aumentar qualidade, investir
em marketing e redes de concessionárias.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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