Alta Roda nº 773/123– 27/02/2014 |
Fernando Calmon |
Depois de anos sem grandes preocupações em investir em
economia de combustível, a indústria terá que acelerar bastante o passo para
atingir metas – obrigatória e voluntárias incentivadas – do programa
Inovar-Auto. Mesmo o objetivo compulsório de diminuir o consumo (ganho de 12%
em eficiência energética) até 2017 não parece tão fácil porque refletirá a
média da frota de modelos vendidos por cada fabricante. A Fiat que está em
processo de fusão com a Chrysler, por exemplo, tem modelos como Jeep que são
pesados e empurram a média para cima.
Em parte, essa negligência se deu porque o
combustível ficou mais barato em termos reais (descontada a inflação). Quando o
governo se deu conta de que os gastos com importação de gasolina estavam em
curva cada vez mais ascendente, resolveu intervir. E estimulou um esforço até
2020 para atingir uma redução adicional: 15,4% e 18,8% com corte temporário de
1% e 2% de IPI, respectivamente. Caso todos os fabricantes encarem o desafio
máximo, se conseguirá economia bem além de 12 bilhões de litros de gasolina, em
sete anos.
Vários obstáculos precisam ser removidos, conforme
se discutiu no Seminário de Eficiência Energética, da Autodata. Antônio Megale,
presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva que completa 30
anos de existência, lembrou que avanços em eficiência dependem também de
melhora na infraestrutura viária e de controle eletrônico do tráfego (semáforos
inteligentes). O estado de ruas e estradas implica aumento do vão livre dos
carros e a consequente piora do coeficiente aerodinâmico. Seguir as dicas de
economia de combustível em computadores de bordo exigirá adesão maior dos
motoristas.
Fabricantes de pneus admitiram que todos os carros
novos, até 2016, terão tecnologia de menor resistência ao rolamento. Podem
custar até 10% mais, contudo se pagam rapidamente ao economizar combustível. De
novo, buraqueira e lombadas atrapalham. Há limitações, por isso, em compostos
de borracha e dificuldade de generalizar o uso de estepes temporários – 10 kg a
menos na massa de um modelo compacto com reflexos no consumo – pela incidência
alta de furos e danos nos pneus.
Margarete Gandini, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acenou sobre inclusão de bônus
técnicos nos ciclos de consumo em laboratório, indicados no programa de
etiquetagem. Normas brasileiras são mais rígidas que europeias, estas muito
vistosas, porém longe da realidade. Função desliga-liga o motor, por exemplo,
reflete-se no ciclo europeu e aqui, não. Compressores de ar-condicionado de
geometria variável poupam combustível, mas sua vantagem desaparece na captação
de dados. Monitor de pressão de pneus igualmente atua nos números potenciais de
consumo, sem receber nenhum bônus.
Apesar de admitir que, pela experiência no
exterior, programas mandatórios funcionam melhor que os voluntários, o governo
escalonou até 2017 a adoção de etiquetas de consumo. Trata-se de decisão
contraditória e agravada pela falta de fiscalização. Basta ir aos salões das
concessionárias: relativamente raro ver etiquetas e muito menos alguém disposto
a esclarecer dúvidas dos consumidores.
RODA VIVA
DOIS lançamentos de peso estão na programação da VW
este ano: a reestilização do Fox (inclusive versão CrossFox) e a picape Saveiro
cabine dupla (permanecerá apenas com duas portas; duas a mais sairia muito
caro). Previsão para primeiro e segundo semestre, respectivamente. Produção do
up! 2-portas já começou e vendas, fim de março. Em seguida, câmbio
automatizado.
FAMÍLIA Peugeot
agora partilha controle da PSA Peugeot Citroën com chinesa Dongfeng e governo
francês. Atuação de famílias no setor, entretanto, ainda continua bem forte. Em
alguns casos, executivos do clã estão no comando direto mesmo em empresas de
capital aberto. Entre outras BMW, Fiat, Ford, Hyundai, Suzuki, Toyota e VW
(duas famílias, Porsche e Piëch).
OUTRA combinação
preciosa de motor turbo (1,6 L/165 cv, mais potente que versão europeia) e
hatch médio-compacto: Peugeot 308 não merece menos que isso. Atmosfera interna
do carro é bem atraente. Suspensões, freios, direção e câmbio automático de
seis marchas formam conjunto muito equilibrado. Só as portas, ao bater,
deveriam ter sonoridade encorpada.
COSTUMA se dizer que “apenas” em quatro
Estados o etanol tem preço competitivo em relação à gasolina, na maior parte do
ano. São eles São Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. Há um pormenor
esquecido: interessa saber a frota que pode usufruir. No caso, representam
quase 50% (47%, em 2013) do total de veículos em circulação no País. Muda de
figura.
CONDIÇÕES de
concorrência levaram os bancos controlados pelos fabricantes a manter a taxa de
juros quase estável (subiu de 1,25% para 1,27% ao mês), de 2012 para 2013. Isso
apesar da disparada da taxa básica de juros (Selic). Mesmo comportamento no
varejo: de 1,52% para 1,62% ao mês. Cenário deve se repetir em 2014.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga
também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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