terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Wagner Gonzalez - Conversa de pista

GT: prós e contras
 Negociações mal resolvidas e projetos apressados marcaram a última batalha na luta para reviver a categoria dos supercarros  


Wagner Gonzalez
Que o automobilismo brasileiro vai mal das rodas não chega a ser algo que justifique manchete ou maior destaque no raro espaço do jornalismo ainda ocupado pelo esporte. O que gera curiosidade e desilusão é a forma como novos projetos são desenvolvidos: duram pouco tempo e causam estragos duradouros. No ano passado, por exemplo, a F-Vee, que nos anos 1960 ficou conhecida como Fórmula Vê e preparou uma geração de nomes como Emerson e Wilson Fittipaldi e José Carlos Pace  renasceu, cresceu… e foi dividida. 

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O capítulo mais recente desta realidade aconteceu na semana passada e envolveu uma das categorias mais longevas da atualidade e outra que há anos tenta renascer de cinzas, a F-Truck e a GT, respectivamente. Anos atrás era possível ver nas pistas nacionais grids de algumas dezenas de modelos das raças Aston Martin, Audi, BMW, Corvette, Ferrari, Ford GT, Ginetta, Lamborghini, Lotus, Maserati, Porsche, Viper; enfim, verdadeiros espécimes de autos para entusiastas. Gentlemen and very rich drivers não se poupavam de investir pesado e contratar pilotos profissionais para dividir essas máquinas nas provas de rodada dupla, nem mesmo disputar freadas que não raro deixavam marcas de guerra nessas preciosidades mecânicas. 

O regulamento seguia o conceito da categoria GT internacional e funcionou bem durante alguns anos, até que… Se não é novidade que o automobilismo brasileiro anda mal das rodas, também não é novidade que quando uma nova categoria começa a se firmar surgem grupos interessados em faturar glórias e lucros sobre as bases de um projeto ainda em vias de consolidação. Com a GT isto também aconteceu isso e foi nesse processo que, tudo indica, uma questão familiar mal resolvida teria marcado o início do que se vê hoje. 

Várias das fontes consultadas na elaboração deste texto pediram anonimato e não abriram mão disto mesmo quando informadas que suas declarações coincidiam com a de outros entrevistados. E aqui entra o Grupo Petrópolis, cervejaria que era representada nas pistas pelos irmãos Cleber e Vanuê Faria e pela marca Itaipava como principal patrocinador. Vale lembrar que Marçal Melo disputava esse campeonato levando em seu carro, um Ginetta, o patrocínio da cervejaria. Segundo uma das fontes consultadas, a crise atual teria sido deflagrada quando os irmãos Faria decidiram abrir mão de suas ações no Grupo Petrópolis, uma empresa que volta e meia aparece nas páginas de economia como possível alvo de cervejarias estrangeiras de grande porte. 

De acordo com essa fonte, familiar com o mercado cervejeiro, “o Cleber acertou um preço num dia e, dois dias, depois, pediu uma quantia bem mais alta. Essa dinâmica teria induzido o acionista majoritário do Grupo Petrópolis a concluir que ele teria alterado o valor sob influência de um ou dois pilotos da categoria.” Em outras palavras, essa foi a primeira negociação mal-resolvida entre outras que viriam acontecer e que determinaram o fim da GT; outra delas foi a questão da equalização dos carros quando o campeonato já era gerenciado pelo grupo de Antônio Hermann e Walter Derani. Este episódio, no final da temporada de 2012, levou Hermann a abandonar o automobilismo nacional e investir em uma equipe brasileira para disputar o mundial da categoria em 2013. 

Com a saída do empresário e ex-piloto entrou em cena a Loyal, empresa fundada a partir da Momentum, agência de marketing promocional com alguma experiência em ações focadas em automobilismo. Antes do final da temporada a Loyal abandonou o projeto e o campeonato sofreu novo baque. Ainda em 2012, no final da temporada, Marçal Melo apresentou o projeto do TRC (Touring Race Cup), mais um campeonato nacional do gênero monomarca e usando como base o Subaru Impreza. No projeto estavam envolvidos outros nomes, entre eles o diretor de planejamento e marketing da Confederação Brasileira de Automobilismo, Paulo Gomes, desde sempre apresentado por Melo em postagens em redes sociais como grande amigo e parceiro. Lançada com pompa e circunstância, a proposta não vingou e Melo acabou disputando a temporada de GT 2013 com um Porsche. No final desse ano um dos dois Subaru construídos disputou a 12 Horas de Tarumã; problemas mecânicos marcaram essa participação. 

A participação da Loyal na temporada de 2013 nunca obteve os resultados esperados e quando a temporada foi disputar uma etapa na Argentina (2 e 3 de novembro de acordo com o calendário original) a empresa comunicou que não seguiria com a empreitada, confirmando rumores que há muito circulavam no meio. A decisão implicava que cada proprietário deveria resolver por conta própria a burocracia para a reentrada dos carros no Brasil. Até então o depositário legal dos automóveis era a empresa SRO Latin America (formada por Hermann, Derani e a SRO européia) que desde o início da temporada não participava mais da categoria. Com o final da temporada da categoria GT e o cancelamento da última etapa, a maioria absoluta dos carros foi transportada para os Estados Unidos para cumprir as exigências legais da que permitem a importação temporária com impostos reduzidos e condições especiais. 

Enquanto os Mercedes-Benz SLS AMG foram levados para a Europa, onde deverão disputar a temporada  de 2014, os carros enviados para a Flórida poderão ser usados por brasileiros que disputam as provas da FARA, uma liga que promove corridas para diversas categorias no circuito de Homestead. Neste cenário Melo, seu companheiro de equipe Alex Fabiano e Johnny Weisz começaram a se dedicar ao projeto de reviver o Brasileiro da categoria GT dentro de um novo formato. 

Após um período de planejamento foram feitas algumas reuniões com pilotos e os responsáveis pela F-Truck, especificamente a presidente da empresa que explora o evento, Neusa Navarro. A aproximação entre ela, Melo, Fabiano e Weisz se deu através de Djalma Fogaça, um dos pilotos mais conhecidos do circo dos caminhões: “Eu não participei diretamente da negociação, só apresentei as partes”, declarou Fogaça, para quem "Neusa Navarro estendeu a mão e entrou de coração aberto.” Quando a negociação chegou a um acordo, no dia 20 de janeiro, também foi aceso o estopim que detonou o fim dessa parceria: Melo e Fabiano divulgaram a conquista unilateralmente. 

“Erramos nisso, foi um ânimo excessivo da nossa parte. Nós não esperamos ela nos avisar que soltaríamos a notícia em conjunto”, admite Melo. 
 
A confirmação do acordo só foi endossada publicamente pela F-Truck no dia 25; nesse período a única nota emitida por Navarro  só falava de “negociações”. Enquanto isso os promotores da GT insistiam em garantir que estava tudo garantido e nessa sexta-feira divulgaram o calendário do certame. Nos dias dias 5 e 6 de fevereiro foram realizadas duas reuniões com pilotos, em São Paulo e em Porto Alegre. Em nenhum momento falou-se de algum patrocinador ou fornecedor de combustível ou pneus, mas de uma nova forma de gestão do evento: 

“Iríamos bancar o campeonato através de uma planilha aberta, uma espécie de cooperativa formada pelos pilotos e equipes. A Truck bancaria toda a estrutura básica e nós apenas teríamos que arcar com os gastos extras”, informa Marçal Melo, que completa “não tínhamos nenhum patrocinador”. 

Em seguida a bomba explodiu de vez. Em pleno processo de convencer pilotos e equipes a participar da prova, Melo, Fabianoe Weisz notaram alguns sintomas estranhos e no dia 11 outro post de Melo em sua página no Facebook mostrava sinais de que algo não ia bem. Os sinais ficaram cada vez mais fortes e no dia 14 a presidente da F-Truck, Neusa Navarro, tornou público que informou Johnny Weisz de sua decisão em uma reunião realizada em Santos (SP), onde fica seu escritório. A razão alegada por ela menciona que por causa das diferenças de perfil entre as duas categorias e da impossibilidade de alinhamento comercial entre os patrocinadores dos dois campeonatos, não foi possível chegar a um acordo para a temporada de 2014. “Isso impossibilitou que a parceria seguisse. Não será possível que a efetivemos neste ano, quem sabe em um futuro próximo. Preferimos não causar nenhum tipo de problema a nenhuma das duas categorias e a seus patrocinadores neste momento”, concluiu Neusa Navarro.

Segundo Melo, na reunião com Neusa Navarro Johnny Weisz teve a notícia que “a Itaipava estava tentando travar o acordo.” A proposta de um comunicado de imprensa alegando a citada “incompatibilidade de patrocinadores” foi refutada pelo trio da GT. 

A pressão deixa claro que o final da história da marca Itaipava nas pistas não foi bem resolvida e deixou resquícios. Com isto fecha-se o ciclo iniciado com a negociação mal sucedida na reformulação societária da família Faria. Quem conhece Neusa Navarro e acompanha sua categoria de caminhões sabe que ela conduz com mão de ferro seus negócios; assim, não foi surpresa para ninguém que, entre perder um importante patrocinador e abraçar uma categoria com histórico problemático, ela preferiu resguardar seu patrimônio.   

O fim da história, porém, parece não ter chegado ainda: Marçal Melo admite que nas atuais circunstâncias há problemas para formar o grid, mas que nem tudo está perdido. Depois de ter anunciado, ainda sob impacto da ruptura da parceria, que disputaria provas no exterior, ele afirma que há chances remotas de que a GT ainda corra em pistas nacionais: “Estamos conversando com os organizadores do Moto GP e pode ser até que façamos acordo com alguns campeonatos em separado.”

Petrobrás confirma hoje parceria com Williams


A presidente da Petrobras, Graça Foster e a chefe adjunta da equipe Williams de F-1 anunciam hoje o novo contrato que vai levar a empresa brasileira a desenvolver combustíveis e lubrificantes para a escuderia inglesa. O acordo visa principalmente o desenvolvimento desses produtos e deverá ter as primeiras conseqüências práticas na segunda metade da temporada em função do período de testes e homologação desses produtos, em particular da gasolina que será usada nos carros de Felipe Massa e Valteri Bottas. Especula-se que dentro de 15 dias a Williams anuncie também acordos comerciais com o Banco do Brasil e com a Martini, que poderá ser o patrocinador principal da equipe cujos carros são equipados com motores Mercedes-Benz. 

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