GT:
prós e contras
Negociações
mal resolvidas e projetos apressados marcaram a última batalha na luta para
reviver a categoria dos supercarros
Wagner Gonzalez |
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O
capítulo mais recente desta realidade aconteceu na semana passada e envolveu uma
das categorias mais longevas da atualidade e outra que há anos tenta renascer de
cinzas, a F-Truck e a GT, respectivamente. Anos atrás era possível ver nas
pistas nacionais grids de algumas dezenas de modelos das raças Aston Martin,
Audi, BMW, Corvette, Ferrari, Ford GT, Ginetta, Lamborghini, Lotus, Maserati,
Porsche, Viper; enfim, verdadeiros espécimes de autos para entusiastas.
Gentlemen and very rich drivers não se poupavam de investir pesado
e contratar pilotos profissionais para dividir essas máquinas nas provas de
rodada dupla, nem mesmo disputar freadas que não raro deixavam marcas de guerra
nessas preciosidades mecânicas.
O
regulamento seguia o conceito da categoria GT internacional e funcionou bem
durante alguns anos, até que… Se não é novidade que o automobilismo brasileiro
anda mal das rodas, também não é novidade que quando uma nova categoria começa a
se firmar surgem grupos interessados em faturar glórias e lucros sobre as bases
de um projeto ainda em vias de consolidação. Com a GT isto também aconteceu isso
e foi nesse processo que, tudo indica, uma questão familiar mal resolvida teria
marcado o início do que se vê hoje.
Várias
das fontes consultadas na elaboração deste texto pediram anonimato e não abriram
mão disto mesmo quando informadas que suas declarações coincidiam com a de
outros entrevistados. E aqui entra o Grupo Petrópolis, cervejaria que era
representada nas pistas pelos irmãos Cleber e Vanuê Faria e pela marca Itaipava
como principal patrocinador. Vale lembrar que Marçal Melo disputava esse
campeonato levando em seu carro, um Ginetta, o patrocínio da cervejaria. Segundo
uma das fontes consultadas, a crise atual teria sido deflagrada quando os irmãos
Faria decidiram abrir mão de suas ações no Grupo Petrópolis, uma empresa que
volta e meia aparece nas páginas de economia como possível alvo de cervejarias
estrangeiras de grande porte.
De
acordo com essa fonte, familiar com o mercado cervejeiro, “o Cleber acertou um
preço num dia e, dois dias, depois, pediu uma quantia bem mais alta. Essa
dinâmica teria induzido o acionista majoritário do Grupo Petrópolis a concluir
que ele teria alterado o valor sob influência de um ou dois pilotos da
categoria.” Em outras palavras, essa foi a primeira negociação mal-resolvida
entre outras que viriam acontecer e que determinaram o fim da GT; outra delas
foi a questão da equalização dos carros quando o campeonato já era gerenciado
pelo grupo de Antônio Hermann e Walter Derani. Este episódio, no final da
temporada de 2012, levou Hermann a abandonar o automobilismo nacional e investir
em uma equipe brasileira para disputar o mundial da categoria em
2013.
Com
a saída do empresário e ex-piloto entrou em cena a Loyal, empresa fundada a
partir da Momentum, agência de marketing promocional com alguma experiência em
ações focadas em automobilismo. Antes do final da temporada a Loyal abandonou o
projeto e o campeonato sofreu novo baque. Ainda em 2012, no final da temporada,
Marçal Melo apresentou o projeto do TRC (Touring Race Cup), mais um campeonato
nacional do gênero monomarca e usando como base o Subaru Impreza. No projeto
estavam envolvidos outros nomes, entre eles o diretor de planejamento e
marketing da Confederação Brasileira de Automobilismo, Paulo Gomes, desde sempre
apresentado por Melo em postagens em redes sociais como grande amigo e parceiro.
Lançada com pompa e circunstância, a proposta não vingou e Melo acabou
disputando a temporada de GT 2013 com um Porsche. No final desse ano um dos dois
Subaru construídos disputou a 12 Horas de Tarumã; problemas mecânicos marcaram
essa participação.
A
participação da Loyal na temporada de 2013 nunca obteve os resultados esperados
e quando a temporada foi disputar uma etapa na Argentina (2 e 3 de novembro de
acordo com o calendário original) a empresa comunicou que não seguiria com a
empreitada, confirmando rumores que há muito circulavam no meio. A decisão
implicava que cada proprietário deveria resolver por conta própria a burocracia
para a reentrada dos carros no Brasil. Até então o depositário legal dos
automóveis era a empresa SRO Latin America (formada por Hermann, Derani e a SRO
européia) que desde o início da temporada não participava mais da categoria. Com
o final da temporada da categoria GT e o cancelamento da última etapa, a maioria
absoluta dos carros foi transportada para os Estados Unidos para cumprir as
exigências legais da que permitem a importação temporária com impostos reduzidos
e condições especiais.
Enquanto
os Mercedes-Benz SLS AMG foram levados para a Europa, onde deverão disputar a
temporada de 2014, os carros enviados para a Flórida poderão ser usados por
brasileiros que disputam as provas da FARA, uma liga que promove corridas para
diversas categorias no circuito de Homestead. Neste cenário Melo, seu
companheiro de equipe Alex Fabiano e Johnny Weisz começaram a se dedicar ao
projeto de reviver o Brasileiro da categoria GT dentro de um novo
formato.
Após
um período de planejamento foram feitas algumas reuniões com pilotos e os
responsáveis pela F-Truck, especificamente a presidente da empresa que explora o
evento, Neusa Navarro. A aproximação entre ela, Melo, Fabiano e Weisz se deu
através de Djalma Fogaça, um dos pilotos mais conhecidos do circo dos caminhões:
“Eu não participei diretamente da negociação, só apresentei as partes”, declarou
Fogaça, para quem "Neusa Navarro estendeu a mão e entrou de coração aberto.”
Quando a negociação chegou a um acordo, no dia 20 de janeiro, também foi aceso o
estopim que detonou o fim dessa parceria: Melo e Fabiano divulgaram a conquista
unilateralmente.
“Erramos
nisso, foi um ânimo excessivo da nossa parte. Nós não esperamos ela nos avisar
que soltaríamos a notícia em conjunto”, admite Melo.
A
confirmação do acordo só foi endossada publicamente pela F-Truck no dia 25;
nesse período a única nota emitida por Navarro só falava de “negociações”.
Enquanto isso os promotores da GT insistiam em garantir que estava tudo
garantido e nessa sexta-feira divulgaram o calendário do certame. Nos dias dias
5 e 6 de fevereiro foram realizadas duas reuniões com pilotos, em São Paulo e em
Porto Alegre. Em nenhum momento falou-se de algum patrocinador ou fornecedor de
combustível ou pneus, mas de uma nova forma de gestão do
evento:
“Iríamos
bancar o campeonato através de uma planilha aberta, uma espécie de cooperativa
formada pelos pilotos e equipes. A Truck bancaria toda a estrutura básica e nós
apenas teríamos que arcar com os gastos extras”, informa Marçal Melo, que
completa “não tínhamos nenhum patrocinador”.
Em
seguida a bomba explodiu de vez. Em pleno processo de convencer pilotos e
equipes a participar da prova, Melo, Fabianoe Weisz notaram alguns sintomas
estranhos e no dia 11 outro post de Melo em sua página no Facebook mostrava
sinais de que algo não ia bem. Os sinais ficaram cada vez mais fortes e no dia
14 a presidente da F-Truck, Neusa Navarro, tornou público que informou Johnny
Weisz de sua decisão em uma reunião realizada em Santos (SP), onde fica seu
escritório. A razão alegada por ela menciona que por causa das diferenças de
perfil entre as duas categorias e da impossibilidade de alinhamento comercial
entre os patrocinadores dos dois campeonatos, não foi possível chegar a um
acordo para a temporada de 2014. “Isso impossibilitou que a parceria seguisse.
Não será possível que a efetivemos neste ano, quem sabe em um futuro próximo.
Preferimos não causar nenhum tipo de problema a nenhuma das duas categorias e a
seus patrocinadores neste momento”, concluiu Neusa Navarro.
Segundo
Melo, na reunião com Neusa Navarro Johnny
Weisz teve a notícia que “a Itaipava estava tentando travar o acordo.” A
proposta de um comunicado de imprensa alegando a citada “incompatibilidade de
patrocinadores” foi refutada pelo trio da GT.
A
pressão deixa claro que o final da história da marca Itaipava nas pistas não foi
bem resolvida e deixou resquícios. Com isto fecha-se o ciclo iniciado com a
negociação mal sucedida na reformulação societária da família Faria. Quem
conhece Neusa Navarro e acompanha sua categoria de caminhões sabe que ela conduz
com mão de ferro seus negócios; assim, não foi surpresa para ninguém que, entre
perder um importante patrocinador e abraçar uma categoria com histórico
problemático, ela preferiu resguardar seu patrimônio.
O
fim da história, porém, parece não ter chegado ainda: Marçal Melo admite que nas
atuais circunstâncias há problemas para formar o grid, mas que nem tudo está
perdido. Depois de ter anunciado, ainda sob impacto da ruptura da parceria, que
disputaria provas no exterior, ele afirma que há chances remotas de que a GT
ainda corra em pistas nacionais: “Estamos conversando com os organizadores do
Moto GP e pode ser até que façamos acordo com alguns campeonatos em separado.”
Petrobrás
confirma hoje parceria com Williams
A
presidente da Petrobras, Graça Foster e a chefe adjunta da equipe Williams de
F-1 anunciam hoje o novo contrato que vai levar a empresa brasileira a
desenvolver combustíveis e lubrificantes para a escuderia inglesa. O acordo visa
principalmente o desenvolvimento desses produtos e deverá ter as primeiras
conseqüências práticas na segunda metade da temporada em função do período de
testes e homologação desses produtos, em particular da gasolina que será usada
nos carros de Felipe Massa e Valteri Bottas. Especula-se que dentro de 15 dias a
Williams anuncie também acordos comerciais com o Banco do Brasil e com a
Martini, que poderá ser o patrocinador principal da equipe cujos carros são
equipados com motores Mercedes-Benz.
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