Alta Roda nº811/161 – 20/11/2014
Fernando Calmon |
Depois de analisar as possibilidades de aumento da taxa
de motorização da população brasileira para os próximos 20 anos, que se
concentrará em cidades pequenas e médias, a Coluna se volta às preocupações de
curto prazo. No fim da semana passada, entraram em vigor as regras que aceleram
a retomada de veículos por falta de pagamento. À
primeira vista, como os calotes representam hoje 4,4% dos financiamentos, não
parece importante, mas é. Afinal, 50% de todas as vendas são intermediadas por
bancos (outros 10% por consórcios e até 10% em curto prazo pelas lojas).
O problema é o alto custo de recuperação dos bens
por si só de valores elevados. Leva tempo, passa por etapas judiciais e muitas
vezes os carros vinham com dívidas de impostos, multas e ainda desvalorizados
por falta de manutenção. A nova lei pode encurtar o processo de um ano (após
seu início) para três meses. Por consequência, deve ocorrer maior liberação de
crédito e numa segunda etapa até redução dos juros pela diminuição dos riscos
operacionais.
Na avaliação da Fenabrave, até 30.000 carros por
mês poderão agora obter parcelamentos, antes negados por falta de garantias.
Anfavea acredita que já em dezembro haverá reflexos nas vendas e ajudaria a
mitigar os números bem negativos deste ano, previstos em menos 10% sobre 2013.
Um fator de antecipação de compras seria o IPI maior a partir de 1º de janeiro
próximo. Se o governo decidir voltar à alíquota cheia, terminaria o compromisso
de manter empregos por parte da indústria. Escalonado o aumento mais uma vez,
só haveria demissões voluntárias como ocorre agora.
Por tudo isso fica difícil fazer previsões para
2015. Na dúvida, a maioria dos analistas prevê que o próximo ano terá
crescimento zero de vendas e recuperação mesmo só em 2016. Com certeza comprometerá
algumas expectativas mais otimistas para esta década, porém não retirou ânimo
de quem decidiu investir conforme se observou no seminário Direções, da Quatro
Rodas, realizado na segunda-feira, 17, em São Paulo.
Para Jörg Hofmann, presidente da Audi, apenas 2%
do mercado brasileiro se concentra em marcas premium ou de valores elevados.
Com poder aquisitivo em elevação e o estímulo da produção local nada impediria
o porcentual saltar para 5%, como hoje na Austrália. Na China é 9%, nos EUA,
10% e na Alemanha, 13% puxado por vendas corporativas. No Brasil, a premiação
de altos funcionários com o uso de veículos caros está em ascensão, embora
possa haver diferenças culturais entre São Paulo e Rio de Janeiro apontadas em
debates no evento.
No outro extremo, Luis Curi, da Chery, destacou a
aposta das marcas chinesas no peso próprio do País e sua influência nos países
vizinhos. Lembrou da transição das motos para automóveis na China e que toma
corpo aqui. E Sérgio Ferreira, da FCA, apontou o desafio vencido de implantar
uma fábrica Jeep no Brasil, longe dos grandes centros fornecedores e
consumidores.
A estratégia do grupo ítalo-americano se alinha à
forte aceitação dos SUVs e, em particular, das suas alternativas compactas.
Continuarão a avançar sobre stations, monovolumes e, de acordo com os
debatedores, incomodarão até sedãs em razão dos estreantes Renegade, HR-V e
2008 em 2015.
RODA VIVA
Leitores perguntam por que os números
da frota registrada pelo Denatran e Detrans não são confiáveis. Simplesmente porque,
ao contrário do controle total sobre veículos novos, os antigos que já não
rodam são abandonados sem baixa oficial nos registros. Isso se dá pela
burocracia e altos custos para os proprietários. Problema que se acumula há
anos sem sinal de solução.
Renault rejuvenesceu o Fluence para
manter capacidade de competir no segmento de sedãs médios-compactos que
representam 8% do mercado, mas têm oferta altamente diversificada: uma dúzia de
opções. Parte frontal segue a linguagem estilística da marca e LEDs estão nas
lanternas traseiras. Quadro de instrumentos digital, novo sistema multimídia e
travamento automático das portas com chave no bolso completam o modelo, sem
alterações mecânicas e de preços: R$ 66.890 a 82.900.
Outro a entrar na onda aventureira,
o Chevrolet Spin Activ, apenas na versão de cinco lugares, marca o visual pelo
estepe fixado na porta traseira que ainda atrai por aqui, mas cai em desuso no
exterior. Sensor de distância traseiro é de série, o que diminui a possibilidade
de o pneu protuberante danificar outros carros em manobras. Dinâmica do Spin
não se alterou pelos bons ajustes de suspensão, mas 60 kg acrescentados em
razão do suporte do estepe já se sentem no desempenho.
Realmente o termo Active está na moda.
Active Flex, na BMW; Nissan March Active (carroceria da geração anterior agora
de volta com mais equipamentos a preço mais baixo) e o Spin Activ (apenas sem a
letra “e” final). Os dois últimos lançados no mesmo dia (Spin já estava no
Salão do Automóvel, mês passado). Todos registrados no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI). Como pode?
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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