Alta Roda nº812/162 – 27/11/2014
Fernando Calmon |
Nos últimos 12
anos, quando as vendas anuais de veículos no Brasil subiram 140%, o perfil dos
compradores mudou e, mais ainda, a segmentação de produtos. Em grande parte
isso se deve ao aumento de poder aquisitivo e ao fato de que os carros subiram
menos que a inflação em termos reais por qualquer que seja o indicador
pesquisado. Na base do mercado os preços nominais subiram 14%, em média,
enquanto os salários avançaram 32%. O segmento de entrada, de longe o mais
importante, que se subdivide em três (básico, intermediário e superior),
assistiu a fenômenos interessantes.
Não é de surpreender que hoje, das vendas totais, 70% dos modelos saiam de
fábrica com ar-condicionado e 60% com direção assistida. O chamado carro
“pelado” nunca foi opção de ninguém e sim mero reflexo do dinheiro curto para
ter acesso ao automóvel. Parece óbvio, mas alguns ainda acreditam que a
indústria era a única responsável por carros sem conforto ou acabamento
rústico. Recursos de conectividade eram reservados para carros maiores e caros.
Agora, já estão em 25% dos básicos e em 35% dos intermediários do segmento de
entrada.
No nível de segurança veicular, a produção média local ainda está uns seis anos
atrasada em relação à Europa Ocidental, mas à medida que novas arquiteturas
globais cheguem e as vendas voltem a crescer a defasagem diminuirá. O ritmo
será ditado, de novo, pelo poder aquisitivo ou “riqueza” dos compradores.
Em termos de segmentação por tipo de carroceria o mercado brasileiro apontou em
direção aos SUVs e a tendência vai se aprofundar porque ainda há poucos modelos
(EcoSport e Duster) na categoria de SUVs compactos. A atual distribuição entre
veículos de passageiros se apresenta assim: 60%, compactos (41% hatches, 18%
sedãs e 1% peruas); 14%, picapes; 9%, médios; 4%, monovolumes; 1%, grandes;
10%, SUVs e 2%, outros.
A preferência pelos utilitários esportivos tem explicações que vão da
visibilidade à possibilidade de lidar melhor com piso irregular ou sem
pavimentação, mas passa igualmente pela evolução financeira dos clientes da
indústria. A previsão de estreia de pelos menos três novas versões compactas no
próximo ano (HR-V, Renegade e 2008) e lançamentos também de SUVs médios apontam
que esse tipo de carroceria representará em curto prazo 15% do mercado, à custa
de sedãs e monovolumes, principalmente.
Caminho ainda pouco claro diz respeito aos subcompactos. As famílias
brasileiras decidiram ter menos filhos e, desse modo, diminuiria a exigência
por porta-malas grande. Por outro lado, aumentarão as famílias que poderão
adquirir um segundo carro e poderia ser um subcompacto: dimensões menores
oferecem vantagens na cidade e facilidade de estacionar. Teria menor consumo de
combustível (em especial frente a um SUV pequeno) e preço em conta, porém há
dúvidas sobre sua aceitação nos próximos anos.
Câmbio automático pode atrair mais interessados, pois além do maior conforto no
trânsito, ganhou em eficiência energética e também se beneficiaria da folga
financeira. Até preferência de cores mudou. Por décadas o branco, em um país de
clima quente, ficou de lado e agora já divide a preferência com prata e preto.
RODA VIVA
ROMBO nas contas externas brasileiras deixa mais distante a
possibilidade de voltar o livre comércio entre Brasil e México, a partir do
próximo ano. As cotas de importação devem continuar e os fabricantes sabem não
haver solução de curto prazo, salvo se ocorrer grande desvalorização do real,
fora das previsões da maioria dos analistas.
PREÇO é bem salgado – quase R$ 80.000, quando à venda
em dezembro –, mas o Fiat 500 Abarth convence pelo conjunto. Necessidade de
alterações na carroceria prejudicou um pouco a pureza de estilo. Quadro de
instrumentos digital agora ficou muito bom com o fim do conflito de ponteiros.
Pontos altos: motor de 167 cv/23 kgfm e suspensões não excessivamente duras.
SAVEIRO cabine dupla comprova no dia a dia que atende
a quem exige espaço maior para carga e flexibilidade para transportar no banco
traseiro até três pessoas (Strada, apenas duas). Portas são as mesmas do Gol
2-portas, mais largas. Novo motor de 1,6 L/120 cv é econômico e referência em
termos de suavidade de funcionamento, embora não seja o mais potente.
ESTILO ousado, sem dúvida, o novo Jeep Cherokee tem de
sobra, principalmente na parte frontal. Se vai agradar seus fãs ou atrair novos
clientes, como já acontece nos EUA, é cedo para dizer no caso do Brasil. Sua
mecânica está bem provada, inclusive o motor V-6 de 271 cv. Acabamento e
materiais são de boa qualidade, porém há rangidos inexistentes na geração
anterior.
EURO NCAP, que faz testes de colisão, terá um sistema de
pontuação dupla a partir de 2016. Admitirá certos equipamentos de segurança
como opcionais, na Europa, o que permitirá a carros menores (com limitações de
preço) obter cinco estrelas máximas sem as penalizações atuais. Finalmente um
pingo de bom senso, que falta no Latin NCAP.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga
também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário