Alta Roda nº827/177– 12/03/2015
Clima de recuperação econômica na Europa, ainda que
bem modesta, reflete-se no Salão do Automóvel de Genebra que
continua até o próximo domingo. Não há um grande destaque, enquanto o público
volta a crescer. Os supercarros se exibem sem pudor, mas mesmo nessa categoria
o avanço dos híbridos fica evidente. Inclusive no Honda NSX (inspirado nos
conceitos de Ayrton Senna) que dispõe de dois motores elétricos dianteiros e um
traseiro e ainda não tem data de estreia. Certamente chegará ao Brasil mesmo
com dólar alto.
Ferrari também aprofunda sua opção pelo turbocompressor no novo 488 GTB
(substituto do 458 Italia) visando baixar consumo e CO2. Afinal, concorrentes
de preço mais baixo como a estreante segunda geração do Audi R8 (610 cv e 50 kg
mais leve) sempre acabam beliscando alguns clientes e ninguém pode ficar
parado. Enquanto Bugatti Veyron se despede do mercado com a versão La Finale,
Bentley EXP 10 Speed 6 mostra o caminho dos cupês de dois lugares da marca
inglesa do Grupo VW. Esta por sua vez exibe o sucessor do CC (cupê de quatro
portas) que batizou de Sport Coupé. Ele se baseia na arquitetura superflexível
MQB do Golf e também estará nos futuros Polo e Passat.
Nota-se que modelos médios-compactos com potência acima de 300 cv já voltam ao
radar dos consumidores. Em Genebra dois chamam atenção: Honda Civic Type R –
turbo 2 L, 310 cv – e Ford Focus RS – turbo 2,3 L, 320 cv. Ambos têm tração
integral com até 70% direcionada para as rodas traseiras, mas o Focus inova com
a opção de controle de derrapagem conhecida como “drift” que atrai fãs ao redor
do mundo.
Land Rover foi além de simplesmente reestilizar meia geração do Ranger Rover
Evoque. Apresenta primeira versão conversível de um SUV, no caso o Evoque.
Mercado é muito restrito, embora traga prestígio em países de alto poder
aquisitivo e apreciadores ao máximo dos dias ensolarados. Grupo PSA Peugeot
Citroën montou um estande separado pela primeira vez para sua marca de prestígio,
reafirmando a independência da marca DS.
Renault, com o novo SUV médio-compacto Kadjar, tem ambições internacionais.
Graças ao euro em forte queda (melhora a competitividade da Eurozona, inclusive
da Itália) sua exportação ao Brasil passa a ser viável. Duster com leves
retoques visuais antecipa em Genebra a versão nacional 2016 no fim deste mês.
Compacto Sway, ainda em forma de carro-conceito, demonstra que a Nissan vira a
página em termos de estilo. Modelos de baixo apelo visual, como foram Tiida e Livina,
não se repetirão. No seu estande, portanto, está o futuro Micra (aqui, March,
lá para 2017). Basta retirar alguns rasgos de ousadia que sempre aparecem para
revelar sem mostrar tudo e não entregar cedo demais as linhas definitivas.
Tucson novo, aliás cada vez mais marcante em estilo, sucede o atual ix35 e o
nome poderá ser aquele em todo o mundo. Grupo Hyundai-CAOA tratou logo de
desmentir sua chegada ou fabricação em Anápolis (GO). No entanto, condições de
concorrência no Brasil são cada vez mais duras e veículos defasados tendem a
diminuir de importância, apesar do fator preço.
BMW Série 1 também evoluiu em estilo e quando for produzido aqui, no segundo
semestre, vai agradar bastante.
RODA VIVA
TOMBO, realmente, forte nas vendas de fevereiro:
primeiro bimestre 23% inferior ao mesmo período de 2014. Estoques, pelo novo
critério da Anfavea que calcula o número de dias dentro de realidade ampliada,
atingiu 50 dias. Significa mais de 40% acima do considerado normal (35 dias).
Em março, a entidade vai rever para baixo previsões para 2015.
PARTE desses números bem negativos deve-se ao
Carnaval no início de fevereiro (ano passado, em março). Se calculado em número
de dias úteis, as vendas em fevereiro deste ano foram piores 14% contra 2014 e
não 28% quando se compara diretamente mês a mês. Preocupa ainda o nível de
emprego 10% menor em relação a fevereiro de 2014.
ALGUMAS regiões do interior de São Paulo começarão
a revelar primeiras concessionárias, digamos, “geminadas” do Grupo PSA. Em
certas cidades um só aglomerado assumirá vendas de Peugeot e Citroën,
dependendo de qual marca prepondere. Embora oficinas sejam unificadas, salões
de exposição continuarão completamente separados, mesmo um ao lado do outro.
LAND ROVER Discovery Sport, ainda importado nos
próximos 18 meses, tem preço definido que será referência para modelo idêntico
produzido em Itatiaia (RJ). Partirá de R$ 179.900, em abril, e ao longo do
tempo sofrerá correções. SUVs tiveram pequena queda de participação no mercado
total este ano, mas será revertida logo com lançamentos.
ANTECIPAÇÕES de ano-modelo geram mais distorções.
Um dos maiores imbróglios está no programa de etiquetagem de consumo de
combustível: colabora para confundir o consumidor. No mesmo ano-calendário
poderão ser vendidos veículos de três anos-modelo. Salvo identificação de
“novo”, “new”, “plus”, todos terão a mesma etiqueta e os mesmos dados. Absurdo.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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