Alta Roda nº828/178– 19/03/2015
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Cenário raro em termos de lançamento no Brasil:
três modelos estreiam ao longo de 30 dias para disputar o mesmo mercado de SUVs
compactos, que os americanos também chamam de crossovers só por ter aspecto de
utilitário porém com estrutura monobloco e mais baixos. Conceitualmente
crossover é mais do que isso e o Honda HR-V “abre os trabalhos”, seguido nas
próximas três semanas pelo Jeep Renegade e Peugeot 2008. Um degrau acima em
porte, ainda em abril, estreará o chinês JAC T6.
O EcoSport criou, em fevereiro de 2003, o que seria considerado pouco mais que
um nicho. Ideia nasceu no Brasil, cresceu em vendas de modo impressionante e o
modelo da Ford só teria concorrente em outubro de 2011, Renault Duster. O
mexicano Chevrolet Tracker surgiu em outubro de 2013 e enfrenta cota de
importação.
Suzuki Jimny, de tração 4x4 temporária, não se enquadra exatamente no conceito.
Chegou do Japão em 1998, saiu de mercado, mas em 2012 passou a ser fabricado
aqui. O goiano Mitsubishi TR4, de 2002 (também diferenciado pela tração 4x4 não
permanente) cumpriu papel modesto, mas já saiu de produção.
O HR-V pretende ser nova referência dentro desse segmento e deve incomodar
bastante Ford, Renault, Jeep e Peugeot. Em relação ao líder EcoSport tem 5 cm a
mais no comprimento, porém garante espaço interno maior pelos 9 cm extras de
entre-eixos. Mesmo sendo 11 cm mais baixo que o pioneiro rival, só pessoas com
mais de 1,85 m tocam de leve a cabeça no teto, porém há recurso de reclinar —
pouco — o encosto do banco traseiro.
Estilo é marcante e harmônico sem estepe pendurado na porta de carga (ótimos
437 litros) e maçanetas traseiras ocultadas nas colunas traseiras. Na parte
interna, quadro de instrumentos, volante pequeno diâmetro ajustável em dois
planos e console central com a parte inferior vazada agradam. Como o
ar-condicionado digital não é de duas zonas, a Honda criou uma discreta saída
de ar tripla de fluxo diferenciado e regulável mais facilmente pelo passageiro.
Recurso inédito e de série entre os carros aqui produzidos, o freio de
estacionamento elétrico acionado por botão a tem liberação automática ao se
tocar o acelerador. No para-e-anda do trânsito é um recurso de extremo valor,
quanto mais que 99% dos HR-V serão produzidos apenas com câmbio automático CVT
de sete marchas virtuais. Compensa com folga a ausência de itens secundários, a
exemplo do sensor de iluminação para acendimento dos faróis.
A Honda fez um balanceamento de custos razoável entre as versões, a partir de
R$ 69.900 (LX, de câmbio manual e rodas de aço, representará simbólico 1% das
vendas, ou seja, só para constar). Intermediária EX custa R$ 80.400, sem GPS. A
de topo, por R$ 88.700, tem GPS e inédita tela tátil (entre carros nacionais)
que aceita movimentos de pinça com os dedos. Carros japoneses e alemães não são
baratos e isso não vai mudar. Por acaso, dominam vendas no mundo...
Dinamicamente o HR-V vai muito bem, embora deva um pouco de potência para sua
massa de 1.271 kg. A exemplo de todo câmbio CVT, quando se exige a fundo o
motor, apresenta comportamento linear sem entusiasmo. Em acelerações normais é
aceitável, inclusive pelo freio-motor e seleção manual de “marchas”.
O motor flex de 1,8 L (igual ao do Civic com câmbio automático convencional)
entrega 139 cv/etanol e 140 cv/gasolina. Na prática não muda nada, mas é
estranho no caso de motores aspirados (sem turbo). Fabricante atribui aos
câmbios diferentes e à necessidade de conter consumo com etanol.
RODA VIVA
COTAÇÃO do dólar, que atingiu R$ 3,25 na semana passada
(Anfavea previu R$ 3,10 para dezembro), muda de forma radical as tais
comparações de preços alopradas feitas há menos de dois anos. A referência eram
carros “idênticos” vendidos no exterior, em especial nos EUA, onde a carga de
impostos é menos de um terço da brasileira. Muitos se revoltaram. Coluna
voltará ao assunto em breve para pôr pingo nos is.
MINI passa a oferecer Cooper (R$ 105.950) e Cooper
S (R$ 123.500) com quatro portas, de melhor acesso ao banco traseiro. Cresceu
16 cm no comprimento (7,2 cm no entre-eixos), mas largura mantida em 1,72 m não
ajuda no conforto de quem vai atrás. Essencialmente, trata-se de carro de
imagem para 2 adultos + 2 crianças. Motores turbo de 1,5 L (3-cilindros, 136
cv) e 2 L (192 cv), por ora só a gasolina.
MOTOR turbo dá nova vida ao redesenhado (no final
de 2013) Lexus NX 200t, que chega ao Brasil a partir de R$ 216.300. Marca do
Grupo Toyota (antes o menos entusiasmado com motores superalimentados) tem
forte presença mercadológica nos EUA e se esforça para se tornar mais conhecida
no Brasil. Seu estilo agrada bastante, acabamento é ótimo, salvo pormenores
pouco visíveis.
CORREÇÃO. Ao contrário do Focus RS (320 cv), o hatch
médio-compacto Honda Civic Type R (310 cv), citado na coluna da semana passada
como uma das atrações do Salão de Genebra encerrado dia 15 último, tem tração
apenas dianteira e não nas quatro rodas como seu rival.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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