As aparências
enganam, mas nem tanto
Wagner Gonzalez |
Se o resultado dos testes de Barcelona
podem ser considerado fiáveis para indicar os principais candidatos ao título
deste ano, considere as equipes Mercedes, Williams e Ferrari como os destaques
do GP da Austrália, prova de abertura do Campeonato Mundial de F-1 de 2015, que
começa dia 15 em Melbourne. No paddock certamente muitos lamentarão a morte de
Gérard Ducarouge, que faleceu na semana passada. Nascar prosseguiu em Atlanta
com mais acidentes.
Na F-1 os
testes de entressafra têm tudo para dar uma idéia bastante aproximada do que
vai acontecer durante o ano: normalmente um carro que “nasce” ruim terá poucas
chances de subir ao altar que consagra o casamento com o piloto campeão da
temporada.
Dito isto é bom lembrar
que a Mercedes e seus dois pilotos tiveram momentos de “DR”, mesmo demonstrando
superioridade sobre seus rivais. Mas nem tudo é assim tão simples e há fatores
nus e crus e outros nem tanto que abrem o debate desta semana. Concentremos em
dois deles: o emborrachamento da pista e as surpresas de última hora, o
primeiro mais fácil de ser analisado, o outro nem tanto.
Comparado a um treino livre, a
programação de um GP oferece um número bem menor de voltas e embrulhado num
pacote que tem muito a ver com um presente de grego em época de crise. Verdade que
o volume de carros andando na pista é menor — em Barcelona eram cerca de nove
por dia —, mas a quilometragem de cada um era equivalente a um GP por dia, ou
próximo a isso. Tal situação não se repetirá nos treinos para a corrida da
Austrália ou qualquer outra etapa, o que faz sugerir um “coeficiente de acerto”
para os tempos marcados nos últimos dias: afinal, quanto mais emborrachada,
mais aderente o piso, o que pode compensar certas deficiências do chassi. Vale
lembrar que Lewis Hamilton declarou que não entendeu o que aconteceu com os
carros da Mercedes nos últimos dias de treino.
Outro ponto importante nesta
linha é a quilometragem percorrida por cada motor. Se em uma primeira instância
a distância que uma equipe cobre nos treinos é um bom sinal, ao se analisar a
quilometragem média de pilotos que usam o mesmo motor, a figura muda. No caso
das quatro equipes equipadas com motor Mercedes (Mercedes, Williams, Force
India e Lotus), esse índice foi bem inferior ao da Ferrari, que equipa apenas
duas (Ferrari e Sauber). Estas duas últimas percorreram 516 voltas e aquelas,
376. Se o desempenho da Mercedes e da Williams foram superiores, o fator
resistência é algo que não pode ser esquecido.
Seguindo este raciocínio e
lembrando que por duas vezes a Williams parou de treinar quando faltava mais de
uma hora para o encerramento dos treinos, é lícito esperar que o time de Felipe
Massa e Valteri Bottas tem grandes possibilidades de surpreender a torcida na
Austrália. Uma demonstração da confiança com que o time encara o início da
temporada. Pode-se esperar algumas novidades da equipe para a prova de
Melbourne, o que permite esperar uma boa atuação de Massa e Bottas.
No reino de Maranello
ficou óbvio que a preocupação da nova gestão neste início de temporada foi
centrada na resistência de um conjunto notadamente mais eficiente que o usado
no ano passado. Vivendo um processo de ressurreição, a Ferrari aposta em
entregar carros confiáveis e que permitam se concentrar em desenvolvimento
durante a temporada e não na correção de falhas de projeto.
Até mesmo
a Sauber entrou nesse esquema e foi a equipe que mais andou nos últimos quatro
dias de ensaios na Catalunha. Felipe Nasr foi o piloto que ganhou mais
experiência — 300 voltas — e novamente se impôs frente ao seu companheiro de
equipe. Provavelmente a Sauber deverá andar mais perto da Force India, o que
gera a preocupação de disputas com o mexicano Sérgio Pérez, famoso por seus
rompantes de arrojo…
Ainda no departamento da
Mercedes, a Force India demonstrou que tem chances de importunar equipes
maiores se for levado em conta que seu novo carro demonstrou ser bastante
resistente e confiável. Como Bernie Ecclestone anunciou que vai adiantar alguns
trocados para as três atuais nanicas — Force India, Lotus e Sauber), confie em
surpresas boas por parte dos comandados de Vijay Mallia.
Quarta e última equipe da
Mercedes, a Lotus tem que se esmerar para viver uma nova temporada de
resultados que convençam não os fãs desse nome tradicional, ainda que a equipe
não tenha mais nada a ver com aquele criado por Anthony Colin Bruce Chapman. A
causa é voltada a investidores que garantam os recursos para desenvolver o
modelo E23 e fabricar as peças de reposição que se farão necessárias para
reparar, no mínimo, o carro de Pastor Maldonado.
Força tradicional na
fabricação de motores confiáveis e potentes, a Renault vive uma situação
antagônica: reformulou toda sua estrutura interna para recuperar o prestígio
perdido em sua volta à categoria e optou por se concentrar nas duas equipes
bancadas pela Red Bull (Red Bull e Toro Rosso). Ocorre que Christian Horner e
Helmut Marko têm asas e enxergam o mundo de outra perspectiva: o motor precisa
fornecer a cavalaria necessária para fazer frente à Mercedes e aproveitar toda
a criatividade dos discípulos de Adrian Newey.
A contratação de Mario
Illien — pai dos motores Mercedes de F-1 —, não serenou os ânimos, muito pelo
contrário, e na medida que o cada volta de Ricciardo e Kvyat demora mais tempo
para ser completada crescem os rumores de que a Renault estaria considerando
voltar a ter sua própria equipe para recuperar de maneira mais eficiente o
pesado investimento em sua fábrica de motores. A marca francesa já dominou a
categoria com motores turbos e aspirados e até venceu dois campeonatos com seus
próprios carros, o que caracteriza uma briga de cachorro grande. A ver quanto
tempo essas diferenças tomarão para se cicatrizar ou rachar de vez uma união que
já foi muito feliz.
União por união é o que não se
espera dos dois pilotos da Toro Rosso. Depois de tomar tempo de Max Verstappen
em todos os treinos anteriores, Carlos Sainz Jr inverteu o jogo no último dia
de treinos e segue mais confiante para a Austrália. Não se surpreenda com a
reedição das brigas entre Sebastian Vettel e Mark Webber durante a temporada.
Finalmente, o que dizer da
McLaren e da Honda? Pouco, muito pouco em se tratando de possibilidades de
sucesso e muito, mas muito mesmo no que se refere à confusão que ronda o
outrora invencível exército de Ron Dennis.
Cada vez mais pipocam estórias e
histórias a respeito do acidente que envolveu Fernando Alonso e tudo o que se
divulga oficialmente ajuda em coisa nenhuma para esclarecer o que aconteceu de
fato. Há informações de que a equipe decidiu usar seu próprio MGU-K (o
recuperador de energia cinética), em lugar do equipamento fabricado pela Honda,
o que reforça a teoria de que essa peça seja um dos pontos fracos do atual
MP4/30-Honda e, por que não?, um dos motivos que teria causado o acidente. O
discurso clássico “estaremos prontos para Melbourne” já foi substituído por
outro do tipo “teremos um começo de temporada difícil”, algo óbvio, ainda que
longe do que esperam os fãs da tradicional escuderia por onde passaram Emerson
Fittipaldi, Nelson Piquet (num carro semioficial), Ayrton Senna, Roberto Moreno
e Ricardo Zonta, estes dois últimos como pilotos de testes.
Gérard Ducarouge (1941/2015)
Figura
tão tranqüila quanto carismática, o francês Gérard Ducarouge foi um dos grandes
engenheiros do automobilismo de competição na segunda metade do século passado.
Formado em engenharia pela Escola Técnica Nacional de Aeronáutica, Ducarouge se
destacou em várias categorias do automobilismo, notadamente no Campeonato
Mundial de Protótipos, onde desenvolveu vários carros vencedores para a equipe
Matra, e na F-1, onde os Lotus de 1986 e 1987 tiveram sua marca.
Sempre de bem com a vida e
aberto à troca de idéias com pilotos e jornalistas, ele foi um dos poucos a
convencer Ayrton Senna a enxergar o mundo extra-F-1 mesmo durante a temporada.
Seu perfil de homem bon-vivant, praticamente um hedonista, e profissional
dedicado jamais se curvaram aos caprichos corporativos da categoria, algo que
provavelmente lhe custou o reconhecimento da sua capacidade.
Nascar prossegue com mais
acidentes
Uma semana após a
frenética Daytona 500, a temporada da Nascar prosseguiu rumo ao norte da costa
leste com a disputa da Atlanta Quiktrip 500. A vitória de Jimmie Johnson o
colocou na vice-liderança da Sprint Cup, com 87 ponto, um atrás de Joey Logano.
Kevin Harvick (86 e Dale Earnhardt Jr (84) vem a seguir. Como é comum nas
provas da categoria, a competição foi marcada por vários acidentes, veja detalhes neste vídeo.
O certame prossegue dia 15 em Phoenix, Arizona.
WG
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