Alta Roda nº846/196– 23/07/2015
Fernando Calmon |
Carros
produzidos no Brasil estão, paulatinamente, um pouco mais próximos em segurança
aos de regiões do mundo desenvolvido e de maior poder aquisitivo dos
compradores. Os seguidos testes de colisão contra barreira fixa deformável com
40% de área de contato (lado do motorista) executados pela organização não
governamental Latin NCAP, sediada no Uruguai, comprovam isso. O SUV compacto
Jeep Renegade, por exemplo, acaba de receber a classificação máxima de cinco
estrelas tanto para os passageiros adultos nos bancos dianteiros quanto para
crianças no banco traseiro.
É a primeira vez que um veículo fabricado no Brasil consegue essa dupla
pontuação máxima e merece aplausos. Porém, mais uma vez, as coisas são mal
comunicadas pela Latin NCAP. Seu método de avaliação é algo confuso, injusto,
sujeito a erros primários, apesar de estar umbilicalmente ligado ao mais
experiente Euro NCAP, que também faz das suas de vez em quando.
O arcabouço técnico regido por protocolos de todos os Programas de Avaliação de
Carros Novos (NCAP, na sigla em inglês) é conflitante. Há nove deles ao redor
do mundo. Só nos EUA são duas entidades, que às vezes se trombam (a do governo,
NHTSA, e a das seguradoras, IIHS) e ainda na União Europeia, Sudeste Asiático,
Japão, China, Coreia do Sul, Austrália e América Latina. Todos se baseiam em
protocolos que se alteram ao longo do tempo e causam ruídos de comunicação.
Testes de colisão – feitos no Brasil há mais de 40 anos – dependem da
velocidade, do tipo de barreira e de atingir toda a frente do veículo ou 40%.
Em países ricos, que podem e exigem soluções caras para seus produtos, até
quatro veículos são destruídos em cada teste. Latin NCAP, no máximo dois, por
bom-senso: se um modelo alcança cinco estrelas na avaliação frontal, aí se
submete uma nova unidade ao choque lateral.
A proteção de crianças no banco traseiro partiu de premissas erradas da
entidade regional. No protocolo anterior, nenhum carro compacto ou subcompacto
podia alcançar nota máxima porque não havia espaço atrás para colocar três
bancos infantis. Viram a mancada (mais uma) e mudaram o protocolo meio à
surdina. Coincidiu de o Renegade ser o primeiro a se beneficiar do novo
regulamento. O próprio esquema de pontuação dupla foi abandonado na Europa e o
deveria ser aqui também. Euro NCAP já revê exigências consideradas absurdas na
própria região.
Para pôr ordem na casa o governo brasileiro teria obrigação de criar o próprio
NCAP. Se Austrália ou Coreia do Sul, cujos mercados internos são 75% menores
que o brasileiro, podem, por que não o Brasil? Além de entidades sérias de
engenharia automobilística, AEA e SAE, há instituições fortes como Inmetro
(federal) e IPT (paulista), entre outras.
Em novembro, Brasília sediará a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre
Segurança no Trânsito – Tempo de Resultados e seria um excelente fórum, dentro
do âmbito da Década de Ação para a Segurança no Trânsito (2011-2020) criada
pela ONU em 2009, e da qual o País é signatário. Serão dois dias de uma extensa
agenda de discussões, quando caberia revisar programas desconexos e fora da
realidade econômica.
RODA VIVA
ANFAVEA confirma o que analistas da indústria já
indicavam. Mercado de veículos novos neste segundo semestre será, no máximo,
igual ao do primeiro, sem viés de alta. Seriam cerca de 2,8 milhões de
unidades, mas ainda há os que apostam que será menor (2,6 milhões). A
recuperação, bem lenta, deve ficar para o fim do primeiro trimestre de 2016.
VENDAS muita fracas implicarão o fechamento de
concessionárias. Mesmo com algumas redes ampliadas recentemente, como a da
marca Jeep que tem fábrica nova, para a Fenabrave o balanço no fim de 2015
indicará um recuo sem precedentes. Estima que o total de 8 mil pontos de venda
recuará no mínimo 500 unidades, incluindo motocicletas e máquinas agrícolas.
AUDI conseguiu um bom pacote no Q3 ano-modelo
2016. Em antecipação ao início de produção nacional, no primeiro trimestre do
próximo ano, a versão ainda importada é oferecida a partir de R$ 127.190, preço
realmente competitivo entre os utilitários esporte médios-compactos premium.
Motor turbo 1,4 L/150 cv e simplificação de acabamentos explicam a
precificação.
CUPÊ verdadeiramente esporte, Jaguar F-Type une
beleza de linhas, dimensões externas na proporção certa e ótimo acabamento.
Apesar do capô longo, a visibilidade é boa, mas para trás nem tanto. Motor V-6
(na realidade, V-8 com 2 cilindros ocos), 3 L com compressor e 380 cv lida
muito bem com os 1.614 kg do carro e sua sonoridade excita.
SEGUNDO a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis, nos últimos dez anos problemas de não conformidade
dos combustíveis enquadraram-se em padrões internacionais. Em 2004, a média era
de 4,9% para gasolina e 7,4% para etanol. Em 2014, caiu: 1,2% para gasolina e
1,6%, etanol. Em abril último, índice foi de 1,5% para ambos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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