Rapsódias húngaras
Wagner Gonzalez |
Estivesse vivendo nestes tempos,
Franz Liszt teria tido motivo de sobra para compor mais uma de suas rapsódias
magiares. O GP da Hungria deste ano teve acordes de dobradinha da Ferrari,
Rosberg zerando a diferença para o líder do campeonato, Hulkenberg batendo no
final da reta e, no compasso final, Hamilton terminando em sexto na vitória que
igualou Vettel a Senna. Nas bandas de cá, Jan Balder promoveu mais uma etapa do
Torneio Interlagos de Regularidade num fim semana que movimentou o
automobilismo paulistano de raiz.
Domingo tenso
O
domingo húngaro foi tenso desde antes da corrida começar: ainda exibindo as
dores causadas pela perda de Jules Bianchi, os pilotos se reuniram pouco antes
da largada e prestaram o que seria uma derradeira homenagem ao francês Jules
Bianchi. Seria porque ao final da corrida Sebastian Vettel não se conteve após
conseguir sua segunda vitória do ano e mandou ver em francês:
“Vocês me ouvem?
Vocês me ouvem? Esta vitória é para você, Jules!”
Certamente mal passou pela cabeça do alemão que a conquista
em Hungaroring o colocou em pé de igualdade com Ayrton Senna no que diz
respeito ao número de vitórias: agora os dois tem 41. Falando em números, aqui
vai uma overdose do tema: das 70 voltas previstas para o 30º GP da Hungria,
apenas 69 foram realizadas: Felipe Massa não alinhou corretamente e forçou a
realização de uma segunda volta de alinhamento. Com isso abriu a contagem para
uma verdadeira enxurrada de penalizações, pois ganhou um acréscimo de cinco
segundos no seu tempo de corrida. Romain Grosejan, Pastor Maldonado, Lewis
Hamilton, Jos Verstappen e Daniil Kvyat foram os que não escaparam à sanha de
botar ordem na casa.
No quesito ficar de castigo, o venezuelano Maldonado foi o
grande destaque: foi penalizado três vezes e ainda ganhou alguns pontinhos (6)
na carteira, a exemplo de Hamilton (3) e Kvyat (2) e Verstappen (2). Kvyat,
aliás, conseguiu seu primeiro pódio ao terminar em segundo lugar, à frente do
companheiro de equipe Daniel Ricciardo.
Normalmente uma prova modorrenta, a corrida de Hungaroring
deste ano entrou na lista das edições surpreendentes dessa corrida disputada
pela primeira vez em 1986. Nesse ano aconteceu a antológica disputa entre
Nélson Piquet e Ayrton Senna, que terminou com a vitória do primeiro após uma inesquecível
ultrapassagem por fora na curva 1. Outra corrida surpreendente foi a de 1997
quando Damon Hill liderou 62 das 77 voltas daquele ano a bordo de um Arrows
Yamaha que durante aquela temporada se tornou famoso pela freqüência com que
explodia motores a cada fim de semana de corrida…
Em 2015, as surpresas tiveram cenas com intensidade das mais
variadas: a asa dianteira do carro de Nico Hulkenberg soltou quando ele freava
ao final da reta dos boxes. Embora o alemão tenha saído ileso do choque contra
as barreiras de proteção, o mesmo não se pode dizer da sua equipe, a Force
India. No treino de sexta-feira quebrou um triângulo de suspensão do carro de
Sergio Perez e, destroços à parte, ficou no ar se a equipe de Vijay Mallya
estaria confiando demais na resistência dos seus carros ou economizando na
substituição de peças com prazo de validade vencido.
Se o prejuízo da Force India foi alto, o que dizer de Nico
Rosberg? Ele esteve com o champagne e um lugar no pódio nas mãos ao assumir o
segundo lugar quando o SF15T de Kimi Räikkönen começou a dar problemas. Se tudo
corresse bem ele iria fica empatado com Hamilton na liderança do campeonato,
cortesia de um toque entre o inglês e o australiano Daniel Ricciardo, batida
que fez Hamilton cair para 13o lugar. Ou seja, fora da zona de pontos. Só que
Ricciardo mostrou-se um verdadeiro advogado do diabo e acabou cortando o pneu
traseiro esquerdo do carro de Rosberg ao tentar ultrapassá-lo na volta 64. O que
era para ser para ser um acréscimo de 18 pontos acabou se transformando em
apenas quatro. Para piorar um pouco o que já era ruim, Hamilton ainda cruzou a
linha de chegada em sexto lugar e com mais seis pontos no bolso
O resultado completo da corrida você encontra neste link e a tabela de pontos dos campeonatos de
pilotos e construtores está aqui. Uma rápida olhadela será suficiente para
descobrir que duas zebras aconteceram nos resultados: a Red Bull fazendo
segundo e terceiro lugares e — se você estiver em pé eu aconselho a se sentar—
Fernando Alonso em quinto e Jenson Button em nono!
Forza
Ferrari
No início do ano o
novo diretor esportivo da Ferrari, Maurizio Arrivabene, anunciou que a meta
para 2015 era obter “duas vitórias, três seria um milagre”. Hoje, terminada a
primeira metade da temporada, o milagre está próximo de virar realidade e
Vettel, que venceu na Malásia e na Hungria, perto de ser canonizado. Mais do
que isso, nas últimas duas corridas ele somou 37 pontos contra 22 de Rosberg, o
que aumenta as esperanças de Tião em terminar o ano como o melhor alemão da
F-1…
A grande dúvida é se as largadas medianas dos Mercedes em
Silverstone e Hungaroring não seriam conseqüência de um novo equipamento nesses
carros. É sempre bom lembrar que quando a F-1 voltar de férias — dia 23 de
agosto, na Bélgica — os pilotos não terão mais a ajuda eletrônica para largar.
Em outras palavras, grandes emoções à vista: a reta de largada de Spa é curta e
termina em uma curva fechada, de quase 180º. Pilotos sem experiência de largar
soltando a embreagem sem deixar as rodas patinarem demais será a receita para
umas tantas batidas. Da mesma forma que a Mercedes deve ter avaliado um novo
sistema de largada, a Williams deverá ser acompanhada com atenção: tanto na
Inglaterra quanto na Hungria, Bottas e Massa partiram com boa eficiência. Resta
saber se essa toada vai continuar fazendo sucesso ou vai desandar no ritmo das
estratégias do time…
O fim de semana
passado realçou os mistérios do automobilismo praticado em Interlagos: à falta
de informação sobre o andamento das reformas do autódromo paulistano se
contrapôs o dito popular que pobre se contenta com pouca coisa. Em meio a
instalações pouco ou nada decentes o que se viu foi um grande número de
entusiastas enfrentando chuva e frio para disputar provas de F-1600, Classic
Cup, Marcas e o Torneio Interlagos de Regularidade, evento que está registrado
no vídeo abaixo e na galeria de fotos.
Foto: Cláudio Laranjeira |
Certamente tamanha
dedicação tem a ver com a falta do que fazer, posto que desde há muito tempo as
arquibancadas de Interlagos somente são parcialmente ocupadas em eventos que se
pode contar com os dedos de uma mão. Com tamanha competência e eficiência
desses promotores, isso não vai mudar em breve.
WG
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