terça-feira, 28 de julho de 2015

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Rapsódias húngaras

Wagner Gonzalez
Estivesse vivendo nestes tempos, Franz Liszt teria tido motivo de sobra para compor mais uma de suas rapsódias magiares. O GP da Hungria deste ano teve acordes de dobradinha da Ferrari, Rosberg zerando a diferença para o líder do campeonato, Hulkenberg batendo no final da reta e, no compasso final, Hamilton terminando em sexto na vitória que igualou Vettel a Senna. Nas bandas de cá, Jan Balder promoveu mais uma etapa do Torneio Interlagos de Regularidade num fim semana que movimentou o automobilismo paulistano de raiz.


Domingo tenso

O domingo húngaro foi tenso desde antes da corrida começar: ainda exibindo as dores causadas pela perda de Jules Bianchi, os pilotos se reuniram pouco antes da largada e prestaram o que seria uma derradeira homenagem ao francês Jules Bianchi. Seria porque ao final da corrida Sebastian Vettel não se conteve após conseguir sua segunda vitória do ano e mandou ver em francês:
“Vocês me ouvem? Vocês me ouvem? Esta vitória é para você, Jules!”

Certamente mal passou pela cabeça do alemão que a conquista em Hungaroring o colocou em pé de igualdade com Ayrton Senna no que diz respeito ao número de vitórias: agora os dois tem 41. Falando em números, aqui vai uma overdose do tema: das 70 voltas previstas para o 30º GP da Hungria, apenas 69 foram realizadas: Felipe Massa não alinhou corretamente e forçou a realização de uma segunda volta de alinhamento. Com isso abriu a contagem para uma verdadeira enxurrada de penalizações, pois ganhou um acréscimo de cinco segundos no seu tempo de corrida. Romain Grosejan, Pastor Maldonado, Lewis Hamilton, Jos Verstappen e Daniil Kvyat foram os que não escaparam à sanha de botar ordem na casa.

No quesito ficar de castigo, o venezuelano Maldonado foi o grande destaque: foi penalizado três vezes e ainda ganhou alguns pontinhos (6) na carteira, a exemplo de Hamilton (3) e Kvyat (2) e Verstappen (2). Kvyat, aliás, conseguiu seu primeiro pódio ao terminar em segundo lugar, à frente do companheiro de equipe Daniel Ricciardo.

Normalmente uma prova modorrenta, a corrida de Hungaroring deste ano entrou na lista das edições surpreendentes dessa corrida disputada pela primeira vez em 1986. Nesse ano aconteceu a antológica disputa entre Nélson Piquet e Ayrton Senna, que terminou com a vitória do primeiro após uma inesquecível ultrapassagem por fora na curva 1. Outra corrida surpreendente foi a de 1997 quando Damon Hill liderou 62 das 77 voltas daquele ano a bordo de um Arrows Yamaha que durante aquela temporada se tornou famoso pela freqüência com que explodia motores a cada fim de semana de corrida…

Em 2015, as surpresas tiveram cenas com intensidade das mais variadas: a asa dianteira do carro de Nico Hulkenberg soltou quando ele freava ao final da reta dos boxes. Embora o alemão tenha saído ileso do choque contra as barreiras de proteção, o mesmo não se pode dizer da sua equipe, a Force India. No treino de sexta-feira quebrou um triângulo de suspensão do carro de Sergio Perez e, destroços à parte, ficou no ar se a equipe de Vijay Mallya estaria confiando demais na resistência dos seus carros ou economizando na substituição de peças com prazo de validade vencido.

Se o prejuízo da Force India foi alto, o que dizer de Nico Rosberg? Ele esteve com o champagne e um lugar no pódio nas mãos ao assumir o segundo lugar quando o SF15T de Kimi Räikkönen começou a dar problemas. Se tudo corresse bem ele iria fica empatado com Hamilton na liderança do campeonato, cortesia de um toque entre o inglês e o australiano Daniel Ricciardo, batida que fez Hamilton cair para 13o lugar. Ou seja, fora da zona de pontos. Só que Ricciardo mostrou-se um verdadeiro advogado do diabo e acabou cortando o pneu traseiro esquerdo do carro de Rosberg ao tentar ultrapassá-lo na volta 64. O que era para ser para ser um acréscimo de 18 pontos acabou se transformando em apenas quatro. Para piorar um pouco o que já era ruim, Hamilton ainda cruzou a linha de chegada em sexto lugar e com mais seis pontos no bolso

O resultado completo da corrida você encontra neste link e a tabela de pontos dos campeonatos de pilotos e construtores está aqui. Uma rápida olhadela será suficiente para descobrir que duas zebras aconteceram nos resultados: a Red Bull fazendo segundo e terceiro lugares e — se você estiver em pé eu aconselho a se sentar— Fernando Alonso em quinto e Jenson Button em nono!

Forza Ferrari

No início do ano o novo diretor esportivo da Ferrari, Maurizio Arrivabene, anunciou que a meta para 2015 era obter “duas vitórias, três seria um milagre”. Hoje, terminada a primeira metade da temporada, o milagre está próximo de virar realidade e Vettel, que venceu na Malásia e na Hungria, perto de ser canonizado. Mais do que isso, nas últimas duas corridas ele somou 37 pontos contra 22 de Rosberg, o que aumenta as esperanças de Tião em terminar o ano como o melhor alemão da F-1…

A grande dúvida é se as largadas medianas dos Mercedes em Silverstone e Hungaroring não seriam conseqüência de um novo equipamento nesses carros. É sempre bom lembrar que quando a F-1 voltar de férias — dia 23 de agosto, na Bélgica — os pilotos não terão mais a ajuda eletrônica para largar. Em outras palavras, grandes emoções à vista: a reta de largada de Spa é curta e termina em uma curva fechada, de quase 180º. Pilotos sem experiência de largar soltando a embreagem sem deixar as rodas patinarem demais será a receita para umas tantas batidas. Da mesma forma que a Mercedes deve ter avaliado um novo sistema de largada, a Williams deverá ser acompanhada com atenção: tanto na Inglaterra quanto na Hungria, Bottas e Massa partiram com boa eficiência. Resta saber se essa toada vai continuar fazendo sucesso ou vai desandar no ritmo das estratégias do time…

Os mistérios de Interlagos
O fim de semana passado realçou os mistérios do automobilismo praticado em Interlagos: à falta de informação sobre o andamento das reformas do autódromo paulistano se contrapôs o dito popular que pobre se contenta com pouca coisa. Em meio a instalações pouco ou nada decentes o que se viu foi um grande número de entusiastas enfrentando chuva e frio para disputar provas de F-1600, Classic Cup, Marcas e o Torneio Interlagos de Regularidade, evento que está registrado no vídeo abaixo e na galeria de fotos.

Foto: Cláudio Laranjeira
Como se pode constatar nesse registro, o que mais importa para os autoentusiastas de carteirinha é confraternizar em torno de máquinas que são usadas com carinho e a devida atenção. No entanto, o que não pode e não deve ocorrer é o descaso dos responsáveis pelo esporte com a sobrevivência dos profissionais que dependem do autódromo para seu sustento. Estes responsáveis são, em maior parte, a administração do autódromo e a Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp), ambos atados a um relacionamento turbulento e pouco sadio. Este ano o local ficou interditado à prática do esporte e já se fala em nova interdição em 2016. Por enquanto poucos sabem o que será feito, inclusive os clubes filiados à Fasp e maiores interessados em contar com uma estrutura eficiente.

Nada contra receber um Grande Prêmio de F-1 no Brasil: é esse evento que mantém Interlagos em condições que não seriam possíveis sem a realização dessa prova. Há que se atentar, porém, sobre como o autódromo vem sendo usado, metodologia que vai além de permitir a realização de shows e festivais em detrimento do esporte, atividade fim do local.

No fim de semana anterior a agenda da Fasp indicava que o autódromo estava reservado para o Clube do Fusca, mas quem foi ao circuito notou um evento da revenda Divena e um track day organizado pela empresa Driver. Além de não existir nenhuma informação a respeito desses eventos nos sites da Fasp e do autódromo ou na entrada do circuito, um dos responsáveis pela segurança, da empresa Faqui, se mostrava dono do local e queria fazer valer sua suposta autoridade, algo que alguns colegas, em particular os fotógrafos, já haviam comentado. Para ele, um assovio era o mesmo que a sinalização para parar na entrada do estacionamento tomado pela Divena.

Certamente tamanha dedicação tem a ver com a falta do que fazer, posto que desde há muito tempo as arquibancadas de Interlagos somente são parcialmente ocupadas em eventos que se pode contar com os dedos de uma mão. Com tamanha competência e eficiência desses promotores, isso não vai mudar em breve.

WG




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