terça-feira, 21 de julho de 2015

Wagner Gonzalez - Conversa de pista

Wagner Gonzalez

Cabeça nas nuvens, pés no chão

O mundo da aviação tem muito a ensinar… A morte de Jules Bianchi pode justificar o nascimento de uma nova cultura na F-1: antes de apontar o dedo para possíveis culpados será melhor conhecer o que houve de errado e consolidar novos procedimentos e normas de segurança. Normalmente uma etapa descontraída, o GP da Hungria neste domingo terá um paddock onde o nome Jules será mencionado muitas vezes.


O fim e o começo
Acidentes com aviões têm um elemento comum, qualquer que seja ele: uma vez registrados oficialmente todos eles disparam uma série de investigações com a proposta única de descobrir as causas de sua indesejada existência. Trata-se da maneira mais segura e confiável de melhorar as condições de segurança e diminuir as chances de que a situação se repita. Como o ser humano é, por concepção, imperfeito, o zero absoluto — ou “Zero Kelvin” como um autoentusiasta mencionou no passeio que o site promoveu gosta de mencionar —, isso jamais será consolidado.

Pode parecer que a F-1 está relativamente perto de atingir esse padrão, mas ainda falta muito, a começar pelas posições assumidas por dois dos principais dirigentes ligados à ela. Enquanto Jean Todt tende a isentar de culpa o autódromo de Suzuka e concluiu em sua investigação sobre o acidente que o piloto estaria andando mais rápido que o apropriado para as condições da pista naquele momento, Bernie Ecclestone não esconde que o trator contra o qual Bianchi bateu com seu Marussia não deveria estar no local do acidente.

Pilotos veteranos como Niki Lauda e Alain Prost têm visão diferente do assunto, e uma visão, bom que se diga, bem mais sensata acerca do primeiro acidente fatal em um GP desde aquele que vitimou Ayrton Senna em maio de 1994, em Imola. Para o austríaco Lauda, ele próprio vítima de um acidente em Nürburgring, Alemanha, é um milagre o intervalo de 21 anos entre as duas fatalidades:

“Eu insisto: é um milagre. É notável que se fez muito pela segurança, mas no final das contas temos 20 carros andando a uma velocidade que pode chegar a 340 km/h.”

Rival e amigo de Lauda, o francês Alain Prost concorda com o progresso feito pela segurança dos pilotos, mas repete o que disse quando o acidente de Jules aconteceu, em outubro passado:

“Estamos falando de um acidente sob chuva e com visibilidade bastante precária. Era necessário ter acionado o Safety Car antes de permitir que aquele trator chegasse ao local. Insisto que é preciso falar de alguns pequenos detalhes, alguns erros de cálculo por cujas conseqüências estamos pagando um preço alto.”

Prost lembrou que as investigações da FIA encontraram detalhes que não vieram a público, o que muitos acreditam ser o fato de Bianchi estar andando mais rápido do que seria prudente, algo que não aconteceria se o Safety Car estivesse determinando o ritmo da prova. Compatriota de Bianchi e Prost, Patrick Tambay, que venceu dois GPs pela Ferrari (Alemanha, 1981 e San Marino, 1982), pondera que as circunstâncias do acidente de Jules deverão reaparecer após as emoções de sua morte forem serenadas:

“De qualquer forma, a F-1 é isso: pilotos andam o mais rápido que podem, é uma questão genética. Quanto ao acidente, alguns erros foram cometidos, mas não é hora de falar disso.”

Publicações de língua alemã, como o jornal Bild e a especializada revista Auto Motor und Sport, revelaram que num futuro próximo os carros de F-1 serão equipados com câmeras de TV como capacidade de registrar em super câmera lenta detalhes de como a cabeça dos pilotos reage a impactos em casos de acidente. O equipamento está em fase de desenvolvimento pela Magneti Marelli, empresa do grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e que foi alvo de negociação recente. Quando tal recurso estiver disponível nenhum carro identificado pelo numeral 17 irá usá-lo: como homenagem a Jules Bianchi, a FIA decidiu que esse número não será mais usado no Campeonato Mundial de F-1.

O funeral de Jules Bianchi é hoje na cidade francesa de Nice. Filho de Philippe e Christine Bianchi, era o irmão mais velho de Tom e Mélanie e, lamentavelmente, não foi o primeiro acidente fatal na família. de origem belga. Seu tio-avô Lucien faleceu quando testava um Alfa Romeo P33 em Le Mans; seu avô Mauro disputou corridas de F-3 contra Wilsinho Fittipaldi e, parou de correr por causa de outro acidente. Isso levou os Bianchi a abandonar o automobilismo na condição de pilotos: o pai de Jules, porém, mantinha uma pista de kart em Aix-en-Provence, e foi lá que ele desenvolveu a habilidade que despertou a atenção de Nicolas Todt, seu manager e chefe de equipe desde 2007 e quem proporcionou sua estréia na F-3 em 2008.

Jules foi o primeiro piloto da Ferrari Academy e era cotado para defender a Scuderia na F-1 no futuro próximo. Antes da largada do GP da Hungria deverá haver um minuto de silêncio em homenagem ao piloto que faleceu sexta-feira, 17 de julho.

€ 12 milhões por um finlandês mais jovem
A imprensa italiana, famosa por desvendar os próximos passos da Ferrari em detalhes que as equipes inglesas conseguem manter em sigilo, anunciou que a Scuderia teria pago € 12 milhões pelo passe de Valteri Bottas, atualmente contratado da Williams e provável substituo de Kimi Räikkönen. A notícia foi publicada pelo diário esportivo Corriere dello Sport e vai ao encontro a uma recente declaração de Bottas na qual ele afirmou que “será muito difícil vencer uma corrida com o Williams”.

Tal observação certamente não viria a público caso o piloto estivesse decidido a permanecer na equipe até o final do seu contrato, em 2016. A saída de Bottas deverá fortalecer Felipe Massa em seu terceiro ano como piloto da equipe de Grove, algo que poderá ser anunciado em breve. Jenson Button, Nico Hulkenberg e Felipe Nasr seriam os nomes cotados para preencher a vaga de companheiro de equipe de Massa.

Quanto à Ferrari, alguns jornais italianos destacaram um possível interesse da Scuderia pelo espanhol Carlos Sainz Júnior, que soma nove ponto no campeonato, um a menos que Max Verstappen

DR no paddock
Mais recente e famigerada DR no paddock da F-1, a relação entre a McLaren e a Honda continua fornecendo material para os entusiastas de plantão. O escocês Allan McNish, ex-piloto da equipe nos tempos de glória dessa união, escreveu recentemente sobre as diferenças culturais entre ambas. Como esse não tão pequeno detalhe voltou a ser exacerbado com a falta de resultados da equipe, McNish foi um dos poucos a descobrir a mais nova cartada diplomática de Ron Dennis: a volta de Indy Lall, o responsável pela equipe de testes na época de Ayrton. Este simpático engenheiro com raízes no subcontinente indiano, parece levar jeito para trabalhar com os valores asiáticos e europeus…

Por seu lado o japonês Yasuhisa Arai, líder da Honda na F-1, promete um rendimento surpreendente para o fim de semana. Segundo ele, o fato de Hungaroring ter poucas retas vai permitir usar o sistema de recuperação de energia de forma mais crítica e, conseqüentemente, obter melhor rendimento da unidade de potência. Num box mais para o meio do paddock a Lotus se vê envolta em dois tópicos, ambos diretamente ligados à sua sobrevivência.

Atual embaixador e conselheiro da Renault, Alain Prost declarou que embora o automobilismo esportivo esteja no DNA da marca francesa, “a possibilidade de se afastar totalmente da F-1 existe não deve ser desprezada”, ainda que ele próprio não acredite que isso vá acontecer. Com o desgaste cada vez maior no relacionamento com a Red Bull, a Renault considera três opções: deixar como está, comprar uma equipe ou, como lembrou Prost, “acabar com o programa de F-1”.

Como a Lotus é a principal candidata a ser adquirida e voltar a ser o time oficial dos franceses, a atual onda de cobrança movida por uma série de credores — consta que seriam 27 contas em atraso— contra o lendário nome inglês pode ter conseqüências diretas no futuro da equipe. 

Os débitos chegam próximo a US$ 1 milhão, valor que alguns críticos especializados consideraram baixo ao lembrar que “isso é cerca duma semana do orçamento das equipes pequenas ou cerca do que as equipes de ponta gastam por dia…

Por sua vez, a equipe Manor, que assumiu o passivo da Marussia — a mesma que Jules Bianchi defendeu em 2014 —, estaria prestes a receber investimento substancial dos empresários americanos James Carney e Tavo Hellmund, este último um dos idealizadores do Circuit of the Americas (o Cota), em Austin, no Texas, e bastante ligado a Bernie Ecclestone.

Estoril agora é de Cascais
O Autódromo do Estoril, palco do GP de Portugal entre 1984 e 1996 e da primeira vitória de Ayrton Senna (1985), agora pertence à cidade de Cascais, que o adquiriu da empresa que o explorava por uma quantia que beira os € 5 milhões, aproximadamente R$ 16 milhões . 

O autódromo faz parte de um complexo turístico idealizado e construído pela Companhia Grão Pará, da brasileira radicada no país irmão, Fernanda Pires da Silva. A proposta da Câmara Municipal de Cascais é modernizar a pista para atrair provas internacionais e intensificar o uso do traçado como local de testes pré-temporada, algo possível pelo inverno ameno da região.

Agag promete novidades
O espanhol Alejandro Agag declarou nos últimos dias que junto com a cidade que vai receber uma etapa da F-E entre as corridas de Buenos Aires e Long Beach, “uma décima-segunda etapa poderia ser adicionada ao calendário da temporada 2015/1016.” 

Agag não revelou maiores detalhes desse local e admitiu que já trabalha nas datas da temporada seguinte. Com relação às alterações técnicas ele acredita que “o uso de oito trens de força distintos deverá provocar a quebra dos recordes estabelecidos na primeira temporada. Além disso o barulho dos carros deverá mudar levemente.”

WG

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