Wagner Gonzalez |
Cabeça nas nuvens, pés no chão
O mundo da aviação tem muito a
ensinar… A morte de Jules Bianchi pode justificar o nascimento de uma nova
cultura na F-1: antes de apontar o dedo para possíveis culpados será melhor
conhecer o que houve de errado e consolidar novos procedimentos e normas de
segurança. Normalmente uma etapa descontraída, o GP da Hungria neste domingo
terá um paddock onde o nome Jules será mencionado muitas vezes.
O
fim e o começo
Acidentes com aviões têm um elemento comum, qualquer que
seja ele: uma vez registrados oficialmente todos eles disparam uma série de
investigações com a proposta única de descobrir as causas de sua indesejada
existência. Trata-se da maneira mais segura e confiável de melhorar as
condições de segurança e diminuir as chances de que a situação se repita. Como
o ser humano é, por concepção, imperfeito, o zero absoluto — ou “Zero Kelvin”
como um autoentusiasta mencionou no passeio que o site promoveu gosta de
mencionar —, isso jamais será consolidado.
Pode parecer que a F-1 está relativamente perto de
atingir esse padrão, mas ainda falta muito, a começar pelas posições assumidas
por dois dos principais dirigentes ligados à ela. Enquanto Jean Todt tende a
isentar de culpa o autódromo de Suzuka e concluiu em sua investigação sobre o
acidente que o piloto estaria andando mais rápido que o apropriado para as
condições da pista naquele momento, Bernie Ecclestone não esconde que o trator
contra o qual Bianchi bateu com seu Marussia não deveria estar no local do
acidente.
Pilotos veteranos como Niki Lauda e Alain Prost têm visão
diferente do assunto, e uma visão, bom que se diga, bem mais sensata acerca do
primeiro acidente fatal em um GP desde aquele que vitimou Ayrton Senna em maio
de 1994, em Imola. Para o austríaco Lauda, ele próprio vítima de um acidente em
Nürburgring, Alemanha, é um milagre o intervalo de 21 anos entre as duas
fatalidades:
“Eu insisto: é um milagre. É notável que se fez muito
pela segurança, mas no final das contas temos 20 carros andando a uma
velocidade que pode chegar a 340 km/h.”
Rival e amigo de Lauda, o francês Alain Prost concorda
com o progresso feito pela segurança dos pilotos, mas repete o que disse quando
o acidente de Jules aconteceu, em outubro passado:
“Estamos falando de um acidente sob chuva e com
visibilidade bastante precária. Era necessário ter acionado o Safety Car antes
de permitir que aquele trator chegasse ao local. Insisto que é preciso falar de
alguns pequenos detalhes, alguns erros de cálculo por cujas conseqüências
estamos pagando um preço alto.”
Prost lembrou que as investigações da FIA encontraram
detalhes que não vieram a público, o que muitos acreditam ser o fato de Bianchi
estar andando mais rápido do que seria prudente, algo que não aconteceria se o
Safety Car estivesse determinando o ritmo da prova. Compatriota de Bianchi e
Prost, Patrick Tambay, que venceu dois GPs pela Ferrari (Alemanha, 1981 e San
Marino, 1982), pondera que as circunstâncias do acidente de Jules deverão
reaparecer após as emoções de sua morte forem serenadas:
“De qualquer forma, a F-1 é isso: pilotos andam o mais
rápido que podem, é uma questão genética. Quanto ao acidente, alguns erros
foram cometidos, mas não é hora de falar disso.”
Publicações de língua alemã, como o jornal Bild e a
especializada revista Auto Motor und Sport, revelaram que num futuro próximo os
carros de F-1 serão equipados com câmeras de TV como capacidade de registrar em
super câmera lenta detalhes de como a cabeça dos pilotos reage a impactos em
casos de acidente. O equipamento está em fase de desenvolvimento pela Magneti
Marelli, empresa do grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e que foi alvo de
negociação recente. Quando tal recurso estiver disponível nenhum carro
identificado pelo numeral 17 irá usá-lo: como homenagem a Jules Bianchi, a FIA
decidiu que esse número não será mais usado no Campeonato Mundial de F-1.
O funeral de Jules Bianchi é hoje na cidade francesa de
Nice. Filho de Philippe e Christine Bianchi, era o irmão mais velho de Tom e
Mélanie e, lamentavelmente, não foi o primeiro acidente fatal na família. de
origem belga. Seu tio-avô Lucien faleceu quando testava um Alfa Romeo P33 em Le
Mans; seu avô Mauro disputou corridas de F-3 contra Wilsinho Fittipaldi e,
parou de correr por causa de outro acidente. Isso levou os Bianchi a abandonar
o automobilismo na condição de pilotos: o pai de Jules, porém, mantinha uma
pista de kart em Aix-en-Provence, e foi lá que ele desenvolveu a habilidade que
despertou a atenção de Nicolas Todt, seu manager e chefe de equipe desde 2007 e
quem proporcionou sua estréia na F-3 em 2008.
Jules foi o primeiro piloto da Ferrari Academy e era
cotado para defender a Scuderia na F-1 no futuro próximo. Antes da largada do
GP da Hungria deverá haver um minuto de silêncio em homenagem ao piloto que
faleceu sexta-feira, 17 de julho.
€
12 milhões por um finlandês mais jovem
A imprensa italiana, famosa por desvendar os próximos
passos da Ferrari em detalhes que as equipes inglesas conseguem manter em
sigilo, anunciou que a Scuderia teria pago € 12 milhões pelo passe de Valteri
Bottas, atualmente contratado da Williams e provável substituo de Kimi
Räikkönen. A notícia foi publicada pelo diário esportivo Corriere dello Sport e
vai ao encontro a uma recente declaração de Bottas na qual ele afirmou que
“será muito difícil vencer uma corrida com o Williams”.
Tal observação certamente não viria a público caso o
piloto estivesse decidido a permanecer na equipe até o final do seu contrato,
em 2016. A saída de Bottas deverá fortalecer Felipe Massa em seu terceiro ano
como piloto da equipe de Grove, algo que poderá ser anunciado em breve. Jenson
Button, Nico Hulkenberg e Felipe Nasr seriam os nomes cotados para preencher a
vaga de companheiro de equipe de Massa.
Quanto à Ferrari, alguns jornais italianos destacaram um
possível interesse da Scuderia pelo espanhol Carlos Sainz Júnior, que soma nove
ponto no campeonato, um a menos que Max Verstappen
DR
no paddock
Mais recente e famigerada DR no paddock da F-1, a relação
entre a McLaren e a Honda continua fornecendo material para os entusiastas de
plantão. O escocês Allan McNish, ex-piloto da equipe nos tempos de glória dessa
união, escreveu recentemente sobre as diferenças culturais entre ambas. Como
esse não tão pequeno detalhe voltou a ser exacerbado com a falta de resultados
da equipe, McNish foi um dos poucos a descobrir a mais nova cartada diplomática
de Ron Dennis: a volta de Indy Lall, o responsável pela equipe de testes na
época de Ayrton. Este simpático engenheiro com raízes no subcontinente indiano,
parece levar jeito para trabalhar com os valores asiáticos e europeus…
Por seu lado o japonês Yasuhisa Arai, líder da Honda na
F-1, promete um rendimento surpreendente para o fim de semana. Segundo ele, o
fato de Hungaroring ter poucas retas vai permitir usar o sistema de recuperação
de energia de forma mais crítica e, conseqüentemente, obter melhor rendimento
da unidade de potência. Num box mais para o meio do paddock a Lotus se vê
envolta em dois tópicos, ambos diretamente ligados à sua sobrevivência.
Atual embaixador e conselheiro da Renault, Alain Prost
declarou que embora o automobilismo esportivo esteja no DNA da marca francesa,
“a possibilidade de se afastar totalmente da F-1 existe não deve ser
desprezada”, ainda que ele próprio não acredite que isso vá acontecer. Com o
desgaste cada vez maior no relacionamento com a Red Bull, a Renault considera
três opções: deixar como está, comprar uma equipe ou, como lembrou Prost,
“acabar com o programa de F-1”.
Como a Lotus é a principal candidata a ser adquirida e
voltar a ser o time oficial dos franceses, a atual onda de cobrança movida por
uma série de credores — consta que seriam 27 contas em atraso— contra o
lendário nome inglês pode ter conseqüências diretas no futuro da equipe.
Os
débitos chegam próximo a US$ 1 milhão, valor que alguns críticos especializados
consideraram baixo ao lembrar que “isso é cerca duma semana do orçamento das
equipes pequenas ou cerca do que as equipes de ponta gastam por dia…
Por sua vez, a equipe Manor, que assumiu o passivo da
Marussia — a mesma que Jules Bianchi defendeu em 2014 —, estaria prestes a
receber investimento substancial dos empresários americanos James Carney e Tavo
Hellmund, este último um dos idealizadores do Circuit of the Americas (o Cota),
em Austin, no Texas, e bastante ligado a Bernie Ecclestone.
Estoril
agora é de Cascais
O Autódromo do Estoril, palco do GP de Portugal entre
1984 e 1996 e da primeira vitória de Ayrton Senna (1985), agora pertence à
cidade de Cascais, que o adquiriu da empresa que o explorava por uma quantia
que beira os € 5 milhões, aproximadamente R$ 16 milhões .
O autódromo faz parte
de um complexo turístico idealizado e construído pela Companhia Grão Pará, da
brasileira radicada no país irmão, Fernanda Pires da Silva. A proposta da
Câmara Municipal de Cascais é modernizar a pista para atrair provas
internacionais e intensificar o uso do traçado como local de testes
pré-temporada, algo possível pelo inverno ameno da região.
Agag
promete novidades
O espanhol Alejandro Agag declarou nos últimos dias que
junto com a cidade que vai receber uma etapa da F-E entre as corridas de Buenos
Aires e Long Beach, “uma décima-segunda etapa poderia ser adicionada ao
calendário da temporada 2015/1016.”
Agag não revelou maiores detalhes desse
local e admitiu que já trabalha nas datas da temporada seguinte. Com relação às
alterações técnicas ele acredita que “o uso de oito trens de força distintos
deverá provocar a quebra dos recordes estabelecidos na primeira temporada. Além
disso o barulho dos carros deverá mudar levemente.”
WG
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