Alta Roda nº 876/226– 18 /02 /2016
Fernando Calmon |
Há muito tempo
a Fiat deseja entrar no lucrativo segmento das
picapes médias de cabine dupla para cinco passageiros. Em 2007 a marca italiana
desistiu de acordo com a Tata porque a picape indiana era tosca demais. A líder
das picapes compactas, Strada, é homologada para apenas duas pessoas atrás.
A Toro resolve essa situação e se apresenta como
alternativa racional por ter 43 cm a menos em comprimento que a média dos concorrentes
e a mesma capacidade nominal de uma tonelada (incluindo passageiros) na versão
a diesel.
A Fiat se apresenta ao mercado de forma objetiva – vender 50.000 unidades por
ano – contra os atuais seis concorrentes (S10, Hilux, Ranger, L200, Amarok e Frontier)
que em 2015 representaram 116.000 veículos. Para tanto mostra pelo menos dois
atributos imbatíveis. A começar pelos preços – R$ 76.500 (4x2, motor flex e
câmbio automático 6-marchas) a R$ 116.500 (4x4, diesel e automático 9-marchas).
Isso ocorre, entre outras razões, por herdar o trem de força do Renegade e pela
grande diferença de IPI entre SUV (diesel, 25%) e picape (10%).
Sua dirigibilidade é nada menos que a referência no segmento. Estrutura
monobloco e suspensão traseira independente com três braços, direção
eletroassistida bem calibrada e posição de guiar mais próxima possível de um
automóvel explicam essa diferença. Os 2,99 m de distância entre-eixos oferecem
espaço para três adultos atrás que viajam com encosto em posição menos vertical
que a maioria dos concorrentes. Túnel central também é mais baixo.
Estilo, outro de seus pontos fortes, nasceu aqui mesmo e se destaca por ser
menos radical que o do Cherokee. Audacioso na medida certa chama atenção nas
ruas e demonstra que a FCA brasileira atingiu níveis internacionais. A
inteligente tampa da caçamba bipartida, bastante leve e prática, ajuda no
acesso. Ela serve de base a um extensor opcional para objetos compridos muito
bem projetado, aproveita as lanternas originais e inclui suporte para cópia da
placa traseira.
No interior há materiais menos nobres que os do Renegade, justificável pelo
preço e eventual uso em serviço pesado. Destaque para desenho e anatomia dos
puxadores de portas e alças de apoio nas colunas dianteiras. A Toro perdeu o
freio de estacionamento elétrico, mas nesse ponto é como todas as outras
picapes. Tela multimídia de apenas 5 pol. é pequena para os padrões atuais. A
Fiat não perdeu tempo e colocou o macaco no lugar antes previsto para o
extintor.
A fábrica espera uma divisão de 40% para motores flex (sem possibilidade de
câmbio manual, provisoriamente diz a Fiat) e 60% para diesel (nesse caso é
possível câmbio manual). Strada de cabine dupla de três portas deve perder
clientes para a Toro. Motor flex passou de 137 para 139 cv e, se já era fraco
no Renegade, piorou um pouco em razão de a picape ter peso em ordem de marcha
cerca de 10% maior. Neste caso o automático recebeu relações de marchas mais
curtas, sem resolver esse ponto.
Rigidez torcional é elevada e a Fiat espera conseguir cinco estrelas nos testes
de impacto. Parodiando o ditado, não basta ser robusta precisa parecer robusta.
Demanda tempo para tal, mas no uso em asfalto (mesmo ruim) já parece
suficiente.
RODA VIVA
AUDI Q3 começa a sair da linha de S. José dos
Pinhais (PR), mês que vem, mas motor turbo de 1,4 L será movido apenas a
gasolina, como o Jetta montado em S. Bernardo do Campo (SP). Ao contrário do
Golf (estrutura MQB) com o mesmo motor na versão flex, os dois primeiros usam
arquitetura anterior (PQ35) e exigiriam investimento adicional. BMW e Mercedes
são flex.
DEPOIS de a guinada econômica argentina adotar
câmbio flutuante em relação ao dólar, seguindo o Brasil, aumentou a
possibilidade de início de um verdadeiro livre comércio entre os dois maiores
integrantes do Mercosul, a partir de julho deste ano. Acabaria o
intervencionista e complicado sistema de “equilíbrio” entre importações e
exportações, imposto pelo país vizinho.
PEUGEOT 308, mesmo sem estar alinhado ao modelo
oferecido hoje na Europa, tem ótimos equipamentos de série e bom acabamento.
Versão de câmbio manual e motor 1,6 l/122 cv oferece desempenho honesto para um
médio-compacto. Já motor 1,6 turbo/173 cv (etanol) e câmbio automático
6-marchas representa a melhor relação preço-desempenho do segmento.
APESAR de o mergulho de unidades vendidas
internamente, de 2015 sobre 2014, ter sido de 27% (quase um milhão de unidades)
o faturamento do setor encolheu em torno de 8% apenas. Fabricantes com preço
médio superior padeceram menos que os chamados Quatro Grandes. Estes vendem
carros mais baratos e sofreram prejuízos grandes.
CORREÇÕES: Na coluna da semana passada, referência
ao Kwid é sobre modelo homônimo fabricado na Índia. Quanto ao Gol produzido em
1995, tinha catalisador, mas carburador só incluía assistência eletrônica.
Neste exemplo, importa a diferença de emissões de NOx: em vinte anos caiu de
1,4 g/km para apenas 0,03 g/km, ou seja, redução de 97%.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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