Alta Roda nº 885/235 – 21 /04 /2016
Fernando Calmon |
Finalmente, o
mercado de subcompactos começa a esquentar no Brasil. Espaços mal planejados
nas cidades para circular e estacionar, exigências de menor consumo e emissões
e muitos carros rodando com no máximo um passageiro além do motorista,
justificariam presença menos tímida no total de hatch compactos, de longe o
segmento mais importante em vendas.
Por isso a Fiat faz sua aposta no Mobi. O carrinho servirá para atrair pessoas
a esse segmento e colocar racionalidade na compra. Ao vivo parece mais
harmônico do que em fotos, embora a parte frontal seja exageradamente volumosa
e a traseira muito “chapada”. Rompe com certa leveza de estilo da marca
italiana. Desenhado em Betim, é necessário aceitar as limitações do projeto
baseado no Uno. Há redução de 21 cm no comprimento, 7 cm no entre-eixos e 4 cm
na largura. Resultado: um banco traseiro muito limitado para pernas e ombros e
um porta-malas de apenas 215/235 litros.
Problema maior está na relação custo-benefício. Na própria gama Fiat terá
concorrência – por algum tempo – do antigo Palio Fire (representa mais de 50%
das vendas deste compacto) e do próprio Uno. Segundo o paulistano Stefan
Ketter, presidente da FCA para América Latina (menos México), a marca quer
voltar à liderança do segmento de automóveis “sem comprometer a rentabilidade”.
Preços começam com a versão Easy a R$ 31.900 e vão até R$ 42.300, Like On. Há ainda
a Way (altura de rodagem maior e penduricalhos de pseudocrossovers) que chega a
R$ 43.800. Motor continua o 4-cilindros de 1 litro do Uno que, no segundo
semestre, receberá o 3-cilindros de apenas seis válvulas. Daqui a um ano o Mobi
receberá o mesmo motor, o que pode significar desvalorização adicional no
mercado de usados. Até 60 kg mais leve que o “primo”, tem agilidade razoável no
trânsito.
Pontos altos do Mobi: suspensão bem calibrada, interior com texturização
criativa dos plásticos de acabamento, regulagem do encosto do banco traseiro
(pode ser bipartido), ângulo de abertura das portas traseiras e tampa do
porta-malas em vidro temperado. Os bancos dianteiros são novos, menos macios
que o padrão da marca (o que é bom) e oferecem adequada sustentação lateral.
A partir de junho a Fiat oferecerá um interessante sistema de aproveitar o
telefone celular para interagir com sistemas do carro e utilizará aplicativos
como Spotify (música) e Waze (rotas). Mas o aparelho é fixado horizontalmente,
menos prático para leitura de mapas.
Entre pontos fracos estão visibilidade traseira ruim para manobras, acesso ao
porta-malas prejudicado pela estrutura metálica acima do para-choque e janelas
atrás muito pequenas (os vidros traseiros, só por isso, abaixam totalmente).
Apenas uma cordinha sustenta o chamado bagagito, ao se abrir a tampa traseira.
Mobi terá que confiar na força da novidade para sustentar suas vendas. Não há
certeza de que ajudará a Fiat a ganhar participação de mercado em razão do
conflito de preços dentro da própria linha da marca. Além disso, preço ficou
acima do esperado e muito próximo de concorrentes como o VW Up! que tem motor
mais potente e econômico, visibilidade melhor e porta-malas maior.
RODA VIVA
FORD lança em maio Fiesta com motor 1.0 3-cilindros turbo
(EcoBoost). Unidade motriz, só a gasolina, é importada da Europa.
Nacionalização, fora dos planos. Na nova geração do EcoSport, pouco antes do
Salão do Automóvel de São Paulo (novembro), conforme antecipado aqui, estreia o
novo motor Dragon aspirado flex de três cilindros e 1,5 litro (mais potente que
o 1,2 L Peugeot).
GRAÇAS à instalação de subsidiária no Brasil, a
Porsche agora oferece a versão Carrera do 911 por R$ 509.000. É porta de
entrada para um verdadeiro carro esporte, todos biturbo de 3 L e 370 cv ou 420
cv (Carrera S) e câmbio automatizado 7-marchas. Cupê, cabriolet e targa estão
disponíveis em até 14 configurações, incluído o 911 Turbo S por R$ 1,277
milhão.
DIRIGIR o 911 em um autódromo de traçado
desafiante, como o Velo Città em Mogi das Cruzes (SP), traz sensações
inigualáveis em relação ao que existe de melhor no mundo. Respostas de direção
e acelerador, capacidade incrível de frenagem e mudança de comportamento geral
do automóvel ao girar de um botão no volante levam à vontade de não parar nunca
de guiar.
MAU SINAL: mortes no trânsito no Brasil cresceram
quase 2% em 2014 em relação a 2013. Passaram de 42.266 para 43.075, a partir de
levantamento compilado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária no
defasado Banco de Dados do DataSUS. Assim, fica ainda mais distante o País
cumprir meta voluntária da ONU de redução de 50% das mortes em uma década.
COMUNIDADE técnica brasileira ganhou relevância
com a promoção de William Bertagni a vice-presidente de Engenharia Veicular
para a Europa da Opel, subsidiária alemã da GM. Bertagni tem de 30 anos de
experiência em desenvolvimento de produto e foi um dos responsáveis pela
arquitetura GSV que originou aqui Onix, Prisma, Cobalt, Spin e o novo Tracker
(2017).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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