Alta Roda nº 966/316 – 09 /11 /2017
Fernando Calmon |
A
tecnologia dos carros autônomos continua a surpreender praticamente a cada
semana. Muitas vezes de forma positiva, mas nem sempre. A Renault, por exemplo,
acaba de fazer uma demonstração bem interessante. Desenvolveu um sistema
automático capaz de desviar de um obstáculo com a mesma precisão e rapidez dos
melhores pilotos de teste da companhia. Uma prova de que a inteligência
artificial pode igualar ou superar a habilidade humana.
Por outro lado, a Waymo, divisão do Google que cuida de automação, começou a
filmar as reações de seus funcionários em testes internos e de rua. E se
assustou ao notar que motoristas dormiam ao volante a 96 km/h, quando deveriam
estar prontos para assumir os comandos. A empresa anunciou agora que sua
tecnologia “mãos livres” – nível três na escala de 0 a 5 – será colocada de
lado em favor dos estágios mais avançados. A empresa decidiu que motorista não
é passageiro e deve ficar sempre atento.
Um aspecto ainda duvidoso é a rapidez do avanço da tecnologia e, além disso, os
custos envolvidos tanto no automóvel quanto na infraestrutura urbana e
rodoviária. Vários fabricantes já anunciaram que por volta de 2021 ou 2022
alguns modelos poderão estar circulando com independência do motorista, se as
regulamentações legais estiverem aprovadas.
Há, ainda, um longo caminho a percorrer no desenvolvimento do lidar, da câmera
de altíssima resolução, do laser, do ultrassom e do radar. Sem contar os
aplicativos, as reduções de custos e do número de sensores (carro não pode
virar uma “árvore de Natal”), além do aumento da autonomia em modo autônomo.
Exigirá milhões de quilômetros de testes em diferentes condições de piso e
atmosféricas.
Alguns analistas financeiros da Bolsa de Nova York, como Rod Lache, do Deutsche
Bank, estão mais otimistas quanto à rapidez de introdução ao mercado. Ele até
considera que empresas gigantes, como a General Motors, dominarão a tecnologia
antes da badalada Tesla, a novata marca americana dedicada a automóveis
elétricos.
Há, entretanto, opiniões que indicam certa prudência com o tema, mesmo no
exterior. Don Walker, da sistemista Magna, prevê que em 2025 apenas 4% dos
veículos novos nos EUA terão nível quatro de automação, aquele em que haverá um
banco de motorista rotacional, pois o veículo será autoguiável em praticamente todas
as situações.
O renomado físico brasileiro José Goldemberg, em recente artigo no jornal O
Estado de S. Paulo, se enquadra entre os céticos. “O enorme esforço para
produzir automóveis autônomos parece ser mais um esforço de marketing do que um
esforço genuíno para resolver os problemas atuais que afetam o tráfego nas
grandes cidades”, pontuou. Sob o título “O futuro do automóvel – desejos e
realidade” também destacou ser “pouco provável” outros métodos de locomoção
virem a substituir integralmente o transporte individual e até mesmo o prazer
de dirigir.
Goldemberg, de 89 anos, pode ter sido um pouco ácido ou esquecido dos idosos
sem condições mais de guiar. Porém, em referência ao Brasil e países
assemelhados sem infraestrutura de suporte às novas tecnologias, está coberto
de razão.
RODA VIVA
CITROËN Cactus nacional será primeiro modelo (apesar
das negativas da marca) com a nova arquitetura EMP2, do Grupo PSA, que dará
origem a outros produtos no Brasil. Quando o modelo estrear aqui, em 2018, já terá
o visual novo, sem as volumosas almofadas laterais, substituídas por apliques
mais discretos na parte inferior das portas. Motor será o 1,6-L turboflex e
câmbio automático 6-marchas.
PREVISÕES otimistas sobre continuidade de recuperação
do mercado em 2018 estão, timidamente, em ascensão. Há apostas entre 2,4 e 2,6
milhões de unidades (incluídos veículos pesados). Até 2021, alguns executivos
(em off) acreditam que o crescimento anual será de 8% a 10%. Algo perto de 3,4
milhões. Em 2022, assim, voltaríamos aos números de 2012...
LAND ROVER Discovery venceu o desafio de dimensões tão
grandes parecerem menores. Volante de direção, algo exagerado em diâmetro, está
lá para advertir o motorista que o espaço interno “palaciano” exige cuidados ao
mudar de faixa ou manobrar. Para os 2.223 kg de massa total, só mesmo 61,2 kgfm
de torque tornam o motor diesel a escolha mais adequada.
MULTAS para pedestres e ciclistas foram, finalmente,
regulamentadas pelo Contran. Era uma pendência de 20 anos do atual Código de
Trânsito Brasileiro. No entanto, não ficou estabelecido como se fará a
cobrança, sem a qual tudo continuará como hoje. Há abusos crescentes dos
chamados “novos ciclistas”, mas essa tem todo o jeito de ser mais uma lei que
não pega.
APLICATIVOS de rotas alternativas, como Waze, são de
fato uma mão na roda com perdão do trocadilho. Porém, não infalíveis. Há de
fato pequenas falhas e até desarranjos graves ocasionais. Recentemente em São
Paulo, cidade com maior número de usuários no mundo, o trânsito deu um nó em
algumas regiões por indicações errôneas. Google, dono do app, não se
manifestou.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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