Alta Roda nº 998/348 – 21/06/2018
Pode-se afirmar que o anúncio do protocolo de intenções
para uma aliança estratégica entre os grupos Volkswagen e Ford está longe de
representar surpresa. A indústria automobilística mundial passa por desafios
imensos e alto grau de incerteza sobre rumos a tomar. Nos últimos 20 anos houve
forte tendência de consolidação com alianças e fusões. Algumas não deram certo
como a DaimlerChrysler; outras se expandiram como Renault-Nissan-Mitsubishi.
O quadro ainda vai se alterar. Essa aproximação entre o gigante alemão e a
segunda maior fabricante dos Estados Unidos ainda está por ser mais bem
esclarecida.
A empatia entre eles não é novidade. Em 1986 a Ford esteve perto de se retirar
do País em meio à chamada década econômica perdida. Houve uma fusão regional
anunciada naquele ano, batizada de Autolatina e com 51% das ações de posse da Volkswagen.
O processo se concluiu em 1987 e o “casamento” não resistiu à crise dos sete
anos: em 1994 se anunciou o divórcio. Durou mais dois anos até a separação
total, porém ambas aprenderam o que deu certo e também o que não
funcionou.
Quase um quarto de século depois as duas matrizes se reaproximam. Alianças
costumam ser fases transitórias. A franco-nipônica, citada acima, tem dado
muito certo, porém deverá acabar mesmo em fusão. Só não aconteceu até agora
porque o governo francês resistiu até com malabarismos intervencionistas no
mercado de capitais.
No caso do grupo germânico e do americano é previsível que a aliança se expanda
bem além da linha de veículos comerciais anunciada na nota oficial conjunta do
dia 19, terça-feira.
As marcas da Volkswagen concentram-se em automóveis (incluem-se SUVs), o maior
segmento do mercado mundial de veículos. Nesse setor, a empresa, controlada
pela família Porsche com 52% de suas ações, já lidera há cerca de dez anos, mas
ao se somarem veículos comerciais (picapes, furgões, ônibus e caminhões) sua
liderança é mais recente (últimos quatro anos).
A Ford anunciou recentemente que pretende se concentrar em picapes e SUVs,
diminuindo a presença em automóveis, embora essa estratégia esteja focada mais
nos Estados Unidos. Apesar de ser uma empresa de capital aberto, a família Ford
continua a dar as cartas. Já o Grupo VW tem quase 20% das ações com o governo
do Estado da Baixa Saxônia.
São situações societárias e estatutárias complicadas para uma futura fusão.
Essa hipótese, porém, não se pode descartar. A complementariedade das linhas de
produtos, a necessidade de investimentos pesados em alternativas de propulsão,
conectividade, direção autônoma e serviços de compartilhamento levam essa
hipótese ao patamar de algo presumível, talvez até ao nível de quase
certeza.
Se tudo caminha para esse desfecho, é bom olhar o que acontece em volta. Outras
fusões, preconcebidas de início apenas como alianças, não podem se descartar. A
GM, por exemplo, que já foi o maior conglomerado automobilístico do mundo por
sete décadas, possivelmente terá de se movimentar nesse xadrez complicado.
Talvez a fusão com a FCA Fiat Chrysler, tão almejada por seu atual CEO Sergio
Marchionne, não seja tão descabida. Ou, quem sabe, a Toyota (empatia existe).
Tempo para pensar.
RODA VIVA
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TOYOTA já trabalha em três turnos na
fábrica de Sorocaba (SP), onde produz o Etios e agora o Yaris, ambos nas
versões hatch e sedã. Ainda assim pode perder alguma fatia do mercado total por
falta de capacidade produtiva se vendas da indústria continuarem a subir em
2018 e 2019. A marca japonesa até prefere essa situação a investir e arriscar
ter ociosidade.
PASSO audacioso da Jaguar: primeiro crossover 100% elétrico do Grupo JLR
disponível na Europa. O I-Pace, de tração 4x4, dispõe de um motor de 200 cv
para cada eixo. Dimensões avantajadas com quase três metros de distância entre
eixos e 4,68 m de comprimento. Produção terceirizada será muita pequena.
Algumas unidades virão para o Brasil, na faixa de R$ 400 mil.
TRACKER, na versão de topo agora rebatizada como Premier (sigla LTZ,
substituída nos Estados Unidos, será aqui também), foca em itens de segurança
como ESC (controle de estabilidade) e avisos de colisão frontal e de saída de
faixa. Esse SUV compacto mexicano destaca-se pelo motor turboflex (1,4 L/153 cv
com etanol), caixa automática 6-marchas, boas posição de dirigir e
suspensões.
GOLF 2019 recebeu pequenas mudanças estilísticas – para-choques, grade,
faróis, lanternas – e melhorias internas com quadro de instrumentos digital no
GTI, que ganhou 10 cv, agora 230 cv. Fim do câmbio manual e de motor aspirado.
Preços: R$ 91.700 a 143.790. Station Variant inclui as mesmas atualizações.
Porta-malas excelente de 605 litros. Preços: R$ 102.990 a 113.490.
MINISSEMINÁRIO organizado pela Mitsubishi, em São Paulo, sobre Futuro das
Cidades apontou tendências que vão demorar mais a se concretizar no Brasil.
Automóveis poderão ser compartilhados, alugados por períodos variáveis (até por
horas) e autônomos. Menos carros rodando poucas horas por dia. Necessidades de
estacionamento serão menores.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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