Fernando Calmon |
Foco na mobilidade em salão de tecnologia
A “invasão” de carros no tradicional salão de
tecnologia CES (sigla
em inglês para Feira de Eletrônica de Consumo), realizada anualmente em Las
Vegas, EUA, foi a maior desde que a Ford começou a expô-los, de forma tímida,
há 10 anos. Nesta edição compareceram
16 marcas de veículos entre tradicionais e novatas. Um dos
motivos é o custo baixo dos estandes e a exposição durar apenas quatro dias.
Uma das surpresas foi a inversão de papeis com a Sony, que apresentou o
protótipo de um sedã elétrico e autônomo em parceria com sistemistas de
autopeças e vários fornecedores de eletrônica de bordo. O Vision-S tem estética
bem aceitável, copia aqui e ali alguns detalhes, mas a empresa não pretende
fabricá-lo. Isso acontece também com gigantes de TI (Tecnologia da Informação)
que preferem manter sua altíssima rentabilidade sem correr grandes riscos em um
mercado bem mais difícil e “perseguido”.
Aliás, espera-se um embate cada vez maior pelos dados dos usuários de veículos.
Isso vai impactar de forma direta na rentabilidade do negócio de ambos os
setores. A geração de informações será tão volumosa que seu processamento pode
ocorrer a bordo e não em nuvem exclusivamente.
Outra tendência observada na CES foi o avanço da realidade aumentada (AR, em
inglês). Trata-se da aplicação moderna de conceitos já conhecidos há tempos nos
filmes em 3D. Um exemplo foi mostrado pela Audi, no carro-conceito AI:ME, que
promete revolucionar o modo como o motorista pode ver os obstáculos à frente em
uma tela transparente antes do para-brisa.
Tecnologia semelhante apresentada pela Bosch para o problema de ofuscamento que
o secular para-sol não resolve. A empresa recebeu um prêmio de inovação da CES
por seu Visor Virtual que integra um painel LCD transparente e uma câmera com
IA (Inteligência Artificial) voltada para o motorista para detecção facial. Um
software de análise e rastreamento escurece apenas a seção da tela em que a luz
bate nos olhos.
Hyundai e Uber voltaram a apresentar a evolução de um “carro voador”. Na
verdade parece uma mistura de helicóptero e drone gigante, mas pode oferecer
dentro de dois ou três anos uma alternativa de transporte expresso para
distâncias curtas e bem menos ruidoso.
Maior impacto veio do sedã elétrico conceitual Mercedes-Benz AVTR com muita e
fértil imaginação pinçada do filme “Avatar”. O mais importante, no caso, foi a
tecnologia de bateria de grafeno, capaz de diminuir drasticamente a necessidade
de lítio e cobalto, além de carregar de 0 a 100% em 5 a 10 minutos. A empresa
ressalvou que ainda pode levar 15 anos para se tornar viável. Curioso que 15
anos atrás o prazo era o mesmo...
A CES tornou-se uma antevisão do que virá pela frente em termos de mobilidade.
O cenário será outro com mais racionalidade nos deslocamentos, menos
necessidade de estacionar e uso intensivo dos veículos que terão de ser mais
duráveis mas a um custo maior. Cidades inteligentes surgirão, construídas a
partir do zero como propõe a Toyota, no Japão. Ou adaptações nos conglomerados
urbanos existentes com a combinação de robôs de entrega e veículos autônomos,
em rotas pré-estabelecidas, vislumbradas pela Ford.
ALTA RODA
NISSAN desmentiu
oficialmente a informação do prestigioso Financial Times de que a aliança
Renault-Nissan/Mitsubishi poderia ser desfeita depois de 20 anos. A Renault não
se manifestou. O jornal inglês, controlado pelo grupo de mídia japonês Nikkei,
se baseou em fontes não reveladas de executivos descontentes da Nissan que não
veriam mais futuro em uma aliança.
VENDAS de
modelos importados de marcas associadas à Abeifa caíram 8%, para 34.587
unidades em 2019, comparadas a 2018. Entidade atribuiu à valorização do dólar o
resultado ruim. Cotação da moeda influencia tanto que as previsões para este
ano variam entre 35.000 e 45.000 unidades, se o dólar médio deste ano alcançar
R$ 4,20 ou R$ 3,80, respectivamente.
GOLF GTE precisa
ser bem entendido para o motorista explorar as quatro opções de utilização.
Primeiro híbrido plugável da VW roda em torno de 50 km no modo elétrico, desde
que a bateria esteja total e previamente carregada em tomada. A partir daí
entra em ação o motor a combustão. Apesar do peso extra, o carro acelera com
muito vigor ao combinar os dois motores.
AIRBAG do
console central que se expande para o espaço entre o motorista e o passageiro
do banco da frente, em caso de impacto lateral, reduz o potencial de ferimentos
na cabeça. Foi considerado um dos 10 mais importantes avanços tecnológicos de
2019 pela revista inglesa What Car? e é exclusividade dos Hyundai Kona, Santa
Fe, Tucson e NEXO.
CHINESA Geely,
de capital privado, continua interessada em mais marcas. Hoje detém 100% das
ações da sueca Volvo Car, da inglesa Lotus e da malaia Proton, além de 10% da
Daimler (Mercedes-Benz e Smart). Rumores indicam que assumirá o controle de
outro ícone inglês, a Aston Martin, de 197 anos, famosa pelos carros nos filmes
do agente 007 James Bond.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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