Wagner Gonzalez |
Temporada
internacional começa e uso de Interlagos segue conturbado
Outrora um período normalmente morno no
universo do automobilismo de competição, o início do ano ganha cada vez mais
movimentação tanto nos bastidores quanto no asfalto em várias partes do mundo.
Enquanto a onipresente F-1 segue seu caminho pavimentado pelas grandes verbas
que decoram carrocerias e macacões, outras categorias seguem pulsando com
frequência proporcional aos princípios e capitais que embrulham diferentes
pacotes. Enquanto isso o calendário do Campeonato Paulista de Automobilismo, o
mais longevo e
tradicional do esporte no País, sofre consequências de uma
alocação de datas conturbada e vê seu número de etapas reduzido em consequência
de uma alocação deturpada de datas.
A temporada internacional
começou em patamares mais condizentes com seu potencial comercial e social e
mostrando caminhos a seguir entre nós. Tome-se como exemplo as 24 Horas de
Daytona (foto de abertura/José Mário Dias) disputadas na Flórida, a segunda
rodada do Toyota Racing Series na Nova Zelândia e o Troféu Ayrton Senna de Kart
em Birigui, no Interior paulista, eventos que servem para delinear propostas
para o automobilismo verde-amarelo em momento de crise.
A prova norte-americana teve de tudo: domínio
do Cadillac da equipe Wayne Taylor Racing, que venceu pelo segundo consecutivo,
desta vez com participação marcante do japonês Kamui Kobayashi foi o grande
destaque, e uma batalha épica entre as alemãs BMW e Porsche, que terminou com
vitória da casa bávara com o carro que teve o brasileiro
Augusto Farfus como um
dos pilotos.
O papel de presente para esse espetáculo foi a tradicional festa
na área interna do oval do autódromo do sudeste norte-americano mais uma vez
celebrou o esporte a motor com os melhores valores do show business
norte-americano.
Praticamente no oposto da Flórida, os brasileiros Igor Fraga e Caio Collet se destacaram na segunda rodada da Toyota Racing Series, onde Fraga é vice-líder e Collet
venceu uma das provas da segunda rodada tripla do torneio
disputado na Nova Zelândia.Praticamente no oposto da Flórida, os brasileiros Igor Fraga e Caio Collet se destacaram na segunda rodada da Toyota Racing Series, onde Fraga é vice-líder e Collet
Tal como esses dois eventos, o I Troféu Ayrton
Senna mostrou que o kart brasileiro tem potencial de crescimento suficiente
para trazer consequências positivas para o estágio seguinte, o automobilismo. A
competição disputada em Birigui explorou o potencial comercial do kart,
modalidade que mais cresce no esporte a motor nacional, ao lado da categoria
Gold Classic, que este ano estreia no automobilismo de São Paulo como Open
Paulista e tem grid comparável ao Campeonato Brasileiro de Turismo Nacional.
Digitado tudo isso, o que falta para recolocar o esporte praticado entre nós em
uma agenda positiva?
Promover corridas no Brasil, como em qualquer
parte do mundo, tem um preço formado por itens que vão do aluguel do autódromo
aos serviços essenciais (cronometragem, secretaria de prova, segurança, resgate)
passando pela remuneração de comissários desportivos, técnicos e de pista, e
chega ao consumo de água, eletricidade e danos ao mobiliário dos autódromos. O
rateio dessas despesas é o que define o valor das inscrições de uma prova, onde
o promotor, seja ele quem for, visa obter lucro para ter capital de giro e
continuar promovendo novos eventos. Há de se lembrar que o custo das inscrições
é reduzido graças a ações paralelas, como eventos extras durante a programação
e exploração de serviços variados.
Praticar o automobilismo nunca foi um esporte
barato e até hoje é uma atividade com aura de aristocracia, algo irreal desde
vários anos. Ninguém é obrigado a correr de automóvel, como tampouco é obrigado
a jogar futebol ou praticar arco e flecha, porém, para praticar qualquer
atividade, esportiva ou não, existe a necessidade de uma infraestrutura básica.
Há de se compilar resultados, atender demandas, divulgar decisões e propostas e
criar condições para que novas propostas sejam discutidas e dúvidas sejam esclarecidas.
No automobilismo brasileiro poucas federações,
entre as quais inclue-se a Federação de Automobilismo de São Paulo, entre as 21
que constam do site da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) oferecem
essa estrutura, algo que implica em obrigações triviais de quem tem uma sede
que opera 365 dias por ano e gera despesas de IPTU, água, IPTU, luz, pessoal,
telefone e por aí afora. Vale notar que não foram mencionados investimentos
para pesquisar e desenvolver novos projetos. Ao contrário do que muitos afirmam
categoricamente, não é da emissão de carteiras de filiação, que tem preço
padronizado e controlado em todo o País pela CBA, que as federações geram
recursos para cobrir seus custos operacionais, mas de taxas de supervisão e
pequeno percentual nas inscrições.
Explicada essa estrutura nota-se uma situação
bizarra no uso do Autódromo de Interlagos, que tem parte considerável do seu
calendário reservado para atividades extra-desportivas e para a execução de
eternas obras voltadas para a realização do GP do Brasil de F1. O sistema de
alocação de datas do autódromo privilegia eventos internacionais, nacionais e
regionais em ordem decrescente de importância. Por esse motivo este ano
levou-se em consideração eventos inexistentes no calendário da Federação
Internacional de Motociclismo para conseguir data extra para usar o autódromo.
É o caso um campeonato sul-americano de motociclismo que não tem provas no
Brasil, como se comprova no itens 130 a 135 do calendário publicado no site da
Federação Internacional de Motociclismo, páginas que podem ser visualizadas
neste link.
Mais: a temporada 2020 da SuperBike Brasil,
uma das associações de motociclismo que utiliza o traçado paulistano, apresenta
um calendário de 10 datas, sendo que três delas acontecem em Curitiba, Goiânia
e Juiz de Fora e oito em Interlagos, além de três datas para a Copa Pirelli,
claro prejuízo ao automobilismo. Não bastasse isso uma associação com sede e
foro no Estado do Rio de Janeiro, a Sulmerj, também solicita datas na pista
paulistana em detrimento do Campeonato Paulista de automobilismo. Em resumo, a
Federação de Automobilismo de São Paulo, cujo campeonato há várias décadas é
disputado em dez etapas, até o momento tem apenas seis datas garantidas. Menos
mal que o site do autódromo de
Interlagos informa que o calendário de
2020 ainda está sendo definido, sinal que as anomalias apontadas ainda podem
ser corrigidas.
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