Alta Roda nº 738/889– 20/06/2013 |
Fernando Calmon |
Tudo indica que a obrigatoriedade de utilização de
rastreadores em veículos novos (incluindo motocicletas) será adiada pela quarta
vez. Deveriam ser instalados, no final deste semestre, na própria linha de
montagem de todos os veículos produzidos no Brasil ou importados. Esse
dispositivo foi imposição do ex-ministro das Cidades e presidente do Contran, Márcio
Fortes, apesar de vários especialistas do próprio órgão e representantes do setor
automobilístico terem ponderado sobre dificuldades técnicas, custo-benefício inadequado
e aumento de preço ao consumidor mesmo nas regiões do país de baixo risco de
roubos e furtos.
Depois de superar imbróglios jurídicos quanto ao cerceamento
de privacidade e de desenvolvimento dos equipamentos, iniciou-se a fase de
testes reais em campo conhecida como operação assistida. Ao final de cada uma
de três dessas operações, com frotas espalhadas pelo Brasil, constatou-se o
óbvio: a rede de telefonia celular, fundamental para funcionamento do sistema,
apresenta grandes áreas de sombra (falta de cobertura) e ficaria ainda mais congestionada
com tráfego de dados do que já está.
Solução racional, a que o puro voluntarismo oficial ainda
resiste, seria iniciar o programa oferecendo o equipamento como opcional de
fábrica. Deixaria de prejudicar quem dele não tem necessidade, possibilitaria
testar eficiência na vida real e se, de fato, quadrilhas especializadas seriam
incapazes de anular o sistema com facilidade. Além disso, o efeito sobre a
inibição de roubos seria bastante lento porque apenas os carros novos estariam
“contemplados”.
Em paralelo há outro programa – Sistema Nacional de
Identificação Automática de Veículos (Siniav) – em implantação. Também
atrasado, para variar, tem custo muito menor e poderia abranger toda a frota
circulante em poucos anos. Bastaria colar um chip no para-brisa ou vidro
traseiro, no processo de licenciamento anual, e desenvolver uma rede estratégica
de antenas.
Trata-se da versão eletrônica das antigas plaquetas ou selos
anuais. Evitaria a parada desnecessária em blitzes de fiscalização e teria
efeito também no combate a furtos e roubos. Poderia, ainda, facilmente se
integrar ao pedágio eletrônico e a grandes estacionamentos. Por sua racionalidade
seria solução bem melhor, mas isso parece não passar pela cabeça dos
burocratas.
Ainda quanto à legislação de trânsito, entra em vigor, agora
em 1º de julho, a Resolução Contran 404/2012. O motorista fica, definitivamente,
livre de ir ao cartório para identificar o condutor, no caso de multa em que
ele não esteja ao volante. Volta, como era antes, a comunicação via Correio,
ameaçada pela Resolução 363/2010 e cancelada às vésperas de vigir.
Essa mesma Resolução tenta regulamentar a advertência por escrito
no lugar de multas leves e média, mas na prática em quase nada melhorou o
implícito viés educativo. Basta ler o parágrafo 8, do Artigo 9º: “Caso a
autoridade de trânsito não entenda como medida mais educativa a aplicação da
Penalidade de Advertência por Escrito, aplicará a Penalidade de Multa.” Com tal
redação infame e a avidez arrecadatória do poder público, a tendência é se
transformar em letra morta, salvo raríssimas exceções.
RODA VIVA
NISSAN, apoiada
pelo governo fluminense, estuda possível montagem do elétrico Leaf na nova
fábrica de Resende, a ser inaugurada no início de 2014. Para isso Carlos Ghosn,
presidente da aliança Renault-Nissan, veio especialmente ao País. Renault
iniciará importações da França. Além do Mégane R.S., primeiro lote do SUV
compacto Captur já embarcou rumo ao Brasil.
EMBORA a
Mercedes-Benz esteja em tratativa final para usar instalações da Nissan
mexicana e montar o sedã CLA para exportar às Américas, acordo não se replicará
aqui. Conforme a coluna antecipou, a marca alemã concentra atenções finais
entre Joinville, Juiz de Fora e, com menos chance, alguma cidade paulista para
produção do SUV compacto GLA e os Classes A e C.
SAIU acordo entre
GM e sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos para garantir novos
investimentos. Depois de longas e desgastantes negociações, improvável que essa
fábrica não seja escolhida para abrigar a produção do próximo subcompacto
mundial da Chevrolet. Desembolso pesado, de R$ 2,5 bilhões, para desenvolver e
produzir o carro no Brasil.
MITSUBISHI terá
motor flex de 2,4 litros na picape média L 200 Triton, em dois ou três meses,
para concorrer com versões semelhantes da S10 e da Ranger. Apelo é oferecer
algo mais acessível frente aos produtos com motor diesel e ao atual V6 flex.
Fábrica cogita, ainda, do câmbio automatizado, que representaria vantagem nada
desprezível frente às concorrentes.
OUTRO exemplo de
oferecer mais pelo mesmo preço (na realidade, redução indireta de preço) em cenário
de crescente concorrência. Fiat acrescentou, como item de série, direção de
assistência hidráulica no Uno, menos na versão de entrada, que tem apelo maior
para frotistas e uso comercial.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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