Alta Roda nº 764/114– 19/12/2013 |
Fernando Calmon |
A extensa lista de modelos que sairão de linha em 2013
demonstra que alguns fabricantes, finalmente, se convenceram de não valer a
pena passar por tantos desgastes. E a senha para esse fim foi justamente a lei
que estabeleceu freios ABS e bolsas infláveis, embora razões de mercado também
tenham prevalecido.Picape Courier foi a primeira baixa do ano, ainda em abril.
Até 31 de dezembro, a relação de fim de fabricação (FdF) será engrossada por
Kombi, Mille, Fiorino antigo, Ka e Gol Geração IV (poderia receber os itens
citados, mas dará lugar ao up!).
FdF não significa fim de vendas, pois há
estoques. No caso dos itens de segurança o limite é 31 de março próximo. Mas há
outros casos. Fiesta Rocam ganhou sobrevida de alguns meses até a chegada do
novo Ka. O Golf IV, por razões comerciais/industriais e não técnicas, também
terá FdF nos próximos dias, mas será comercializado até o final do estoque em
2014.
Kombi é um fenômeno único de longevidade da segunda metade
do século passado. Completou 57 anos de fabricação (inclui o primeiro ano,
1957) graças ao uso prevalecente como veículo de trabalho. Surpresa maior, o
Mille esteve em produção por nada menos de 30 anos (inclui 1984), algo
raríssimo no caso de automóveis e ainda porque só ocorreram mudanças
superficiais. Gol G IV superou o Mille nessa disputa inglória: saiu das linhas
de montagem por 34 anos (inclui 1980). Mas o líder de mercado teve entre-eixos
aumentado e carroceria arredondada em 1994 (apelidado de Bolinha), o que talvez
o coloque na história como exemplo digno de purgatório por ter, afinal, compatibilidade
com recursos primários de segurança.
Há pessoas que choram o fim de modelos superados por meio de
regulamentos de segurança e ambientais ou até empregos perdidos. Nada mais
falso. Essa mentalidade levou à situação absurda em que governo e parte dos
fabricantes aventaram, semana passada, adiar a obrigatoriedade do uso de
airbags e ABS por dois anos, a partir de 1º de janeiro próximo.
Depois de embates nos bastidores, recuaram parcialmente. A
Kombi sobreviverá por dois anos – única exceção – com desculpas como empregos
gerados e pelo uso comercial. Estrago institucional, no entanto, já está feito.
Péssimo para o País mudar regras a menos de 15 dias de vigorar. Volkswagen, inclusive,
deve explicações ou compensações a quem já adquiriu as duas séries especiais
“Última Edição”.
Governo mostra improvisação. Nos EUA, há 40 anos, houve
cronograma diferenciado e limitado para exigências de segurança entre
automóveis e veículos comerciais leves. Aqui, em 2009, já se sabia que o furgão
alemão tinha características únicas e, eventualmente, insubstituíveis. O
escalonamento de cinco anos, estabelecido pelo Contran, era razoável. Deixar
isso para a undécima hora, a fim de agradar sindicalistas ou usuários
específicos, é um tremendo desgaste.
Por que governo e indústria não aprendem a lição e
estabelecem novas exigências factíveis para os próximos cinco anos? Imobilidade
é tudo que organizações oportunistas, como Latin NCAP, desejam para conduzir testes
e critérios discutíveis.
RODA VIVA
BMW GROUP
surpreendeu ao ampliar seu comprometimento com o mercado brasileiro. Já se
sabia que o sedã Série 3 (mais vendido da marca aqui e no mundo) e o SUV
derivado dele, X1, além do hatch Série 1, modelo de entrada, estavam entre os
que entrarão em produção em Araquari (SC). Inclui agora o X3 (arquitetura com
base no sedã Série 5) e o Mini Countryman.
PELA primeira vez,
BMW e Mini dividirão o mesmo teto de uma fábrica, a partir de outubro de 2014.
Cronograma prevê intervalo de apenas três meses para os três primeiros
produtos. É bem provável que por sair na frente no segmento premium e projetar
a maior capacidade instalada (32.000 unidades/ano), existam planos ainda mais
ousados, incluindo exportações.
STRADA cabine
dupla de três portas não oferece espaço razoável para adultos no banco
traseiro, porém no uso urbano a porta extra atrás agiliza o acesso na maioria
dos casos. Impressiona a robustez da solução, mesmo em pisos ondulados e buracos.
Melhor combinação é a versão avaliada: motor 1,8 l/132 cv (etanol) e câmbio
automatizado, apesar do preço salgado.
CHERY admite ter
avaliado mal a competitividade dos produtos importados da China, em meio à
contração do número de concessionárias. Queda de vendas foi de 40% em 2013
sobre 2012. Inauguração da fábrica de Jacareí (SP), no segundo trimestre de
2014, produtos mais atuais, rede ampliada, centro de pesquisas e unidade de
motores ajudarão na virada que ela espera.
PARA ganhar – ou
manter, no pior cenário – dinamismo nas vendas, a JAC, segunda marca chinesa a
construir fábrica no Brasil (2015), aposta em sistemas multimídia nas linhas J3
e J6. Tela tátil de 6,2 pol. no painel ou na parte posterior dos encostos de
cabeça dianteiros, sem cobrança adicional, é uma fórmula de atrair e evitar
descontos que repercutem no valor de revenda.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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