Alta Roda nº 762/112– 05/12/2013 |
Fernando Calmon |
Mais uma rodada de resultados foi divulgada na semana
passada pela organização não governamental (ONG) uruguaia Latin NCAP. A boa
notícia é que, pela primeira vez, três carros fabricados e/ou vendidos no
Brasil – dois da Ford, EcoSport (brasileiro) e Focus (argentino); um da
Volkswagen, Jetta (mexicano) – receberam a classificação máxima de cinco
estrelas em testes de colisão contra barreira com uso de manequins. Alcançaram
quatro estrelas Hyundai HB20, produzido aqui, e Chevrolet Malibu, no México.
Dessa vez os fabricantes patrocinaram todos os ensaios,
incluindo fornecimento de veículos e serviços da ONG. Mas é bom repisar:
propósitos são nobres, métodos nem tanto. O sistema de estrelas, bastante
controverso, nem sempre reflete o conceito correto de segurança. Carros
construtivamente iguais recebem pontuação diferente dependendo do critério de
cada país. EUA e União Europeia mantêm sérias divergências técnicas sobre o
assunto.
Para avaliar as distorções basta citar o próprio EcoSport,
analisado ano passado como 4-estrelas. Seguindo as regras, a Ford adicionou só
um aviso sonoro sobre uso do cinto de segurança para o passageiro do banco
dianteiro (motorista já tinha), não fez nenhuma mudança estrutural por ser um
carro recente, pagou o teste e ganhou a estrela extra. O melhor custo-benefício
em termos de marketing, sem dúvida. O mesmo modelo produzido na Tailândia e
exportado para a Europa levou 4 estrelas no NCAP europeu (matriz do Latin NCAP).
Alguns critérios lá são diferentes, porém se apegam a firulas discutíveis na
classificação.
Outro exemplo é o Malibu, automóvel médio-grande vendido
também nos EUA, onde se obriga há anos os avisos sobre cintos de segurança. O
carro tem 10 airbags. Recebeu quatro estrelas em segurança para adultos e
apenas uma para bancos infantis. Justificativa: “Os lembretes de cinto de
segurança estão instalados; contudo, não cumprem requisitos do Latin NCAP”. A
entidade também se perdeu nas explicações sobre o padrão Isofix para fixação
desses bancos, ainda sem homologação no Brasil. Em teoria, impede o uso aqui,
mesmo o veículo tendo o sistema.
Quanto à Hyundai, ganhar mais uma estrela em menos de seis
meses foi fácil. Bastou mudar alguns tipos de material interno, nada de
mudanças estruturais (nem daria tempo), pagar o teste e receber a justa
avaliação retroativa a todos os HB20. Esclarecida a disponibilidade dos bancos infantis
com Isofix, a classificação aumentou de uma para três estrelas.
No senso comum, a escala poderia ser péssimo, ruim, regular,
bom e ótimo para as cinco estrelas. O Latin NCAP acrescentou, recentemente, a
nota zero-estrela para carros que nem deveriam estar à venda. Dentro de alguns
dias nenhum modelo poderá ser fabricado no Brasil sem airbags e freios ABS.
Assim, mesmo a grande maioria de carros de menor preço alcançaria três ou
quatro estrelas.
A tendência, porém, é a ONG subir a barra. Já era tempo de o
governo estabelecer novo cronograma de exigências e parar de ser rebocado pelos
acontecimentos. Afinal, segurança tem preço, sim: airbag para pedestre (ente 100% vulnerável) está instalado em um único
modelo no mundo, o Volvo V40.
RODA VIVA
PLANOS da Honda
para nova fábrica em Itirapina (SP) vão além do SUV compacto Vezel, recém-apresentado
no exterior. Contemplam, até 2016, um hatch para o segmento de entrada, abaixo
do preço do Fit. A empresa já estuda quem errou e quem acertou nesse importante
veio de mercado. E terá centro de desenvolvimento na nova unidade, em adição ao
de Sumaré (SP).
SEDÃ Chevrolet
Classic passa a ser produzido apenas em Rosário, Argentina, ao lado do Agile,
em razão da acomodação de vendas de ambos os modelos, lá e aqui. Sucessor do
Cruze também será argentino. Já no primeiro trimestre de 2014 a GM anunciará investimento
pesado na sensível unidade de São José dos Campos (SP), visando ao mercado promissor
de subcompactos.
RETOQUES externos
e, em especial, internos graças a novos materiais, como preto piano, dão fôlego
para competir ao minivan de sete lugares JAC J6. Motor de 2 litros/136 cv tem pouca
potência, mas torque é adequado ao peso e uso no dia a dia. Suspensões, macias
demais, e vão livre relativamente baixo dificultam passagem por valetas e
lombadas fora do padrão.
SERÁ bom observar
o movimento de fornecedores de turbocompressores no Brasil. BorgWarner já tem primeiro
acordo que, se espera, seja com PSA Peugeot Citroën para novos motores flex de
três e quatro cilindros. O grupo francês não poderá contar com as unidades
produzidas em colaboração com a BMW depois de 2016. VW deverá ser o segundo
cliente.
QUEM alugar carro,
a partir de 1º de maio de 2014, se responsabilizará diretamente por multas de
trânsito. Governo atendeu as locadoras e criou Registro Nacional de Posse e Uso
Temporário de Veículos. Ao mesmo tempo em que acaba com a tentativa de
impunidade dos maus motoristas, espera-se diminuição de custos repassável ao
valor das diárias.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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