Fernando Calmon |
Nos últimos
dias duas marcas de origem americana estiveram no topo do noticiário
automobilístico no mundo inteiro. E se deve à reviravolta industrial e
comercial dos chamados Três Grandes de Detroit, depois da crise econômica de
2008 iniciada nos EUA e ampliada para outros países. Referência emblemática é a
sexta geração do Mustang, que completará 50 anos em abril do próximo ano e já registrou
mais de nove milhões de unidades.
A Ford quis
demonstrar suas intenções expansionistas mundiais ao decidir pré-apresentar o
carro em seis cidades, de quatro continentes (N. York, Dearborn/Detroit, Los
Angeles, Barcelona, Xangai e Sydney). Exibiram-se as versões de topo, tanto do
cupê como do conversível. Embora a empresa ainda faça mistério, chegará ao
Brasil só em 2015, pois as vendas nos EUA começam em meados de 2014. No início,
apenas a versão mais cara estará disponível aqui e em concessionárias
selecionadas.
Pormenores
do Mustang só serão conhecidos no Salão de Detroit, a partir de 13 de janeiro
próximo. Mas o que foi adiantado já demonstra mudança de filosofia. Ficou 90 kg
mais leve graças a partes do chassi em alumínio; assoalho e teto mais baixos. Bitolas
e para-lamas foram alargados na traseira; para-brisa e vidro traseiro têm maior
inclinação. Conjunto ganhou, assim, espaço interno e volume no porta-malas. Há três
opções de motor: 2,3 litros, quatro-cilindros turbo, pela primeira vez (310
cv); dois aspirados, 3,7 litros V-6(304 cv) e o
tradicional 5 litros V-8 (420 cv). Oferecerá câmbios automático e manual, 6-marchas,
para atender a todos os gostos.
Essa
preocupação com eficiência energética se soma à estreia da suspensão traseira
independente que, ao lado de oferecer outro comportamento dinâmico – antes limitado
pelo anacrônico eixo rígido durante cinco décadas – permitirá melhor acomodação
no banco de trás e formato do porta-malas. Interior e painel rejuvenesceram,
mas diferem pouco do automóvel atual.
A
pré-apresentação do GT mostrou alguns apêndices típicos desta versão. No
entanto, também destacou toques sutis como o discreto friso sobre a tampa do
tanque e traseira limpa do conversível com seu teto de lona de camadas
isolantes. Nos planos da Ford estão exportações firmes inéditas para Europa,
China e países da Ásia-Pacífico. Afinal, embora sempre ligado à cultura
comportamental e técnica do comprador americano, há cerca de 300 clubes do
modelo nos cinco continentes e mais de 50% dos seus fãs no Facebook estão fora
dos EUA. Então, mercado potencial existe.
General
Motors apareceu no noticiário de forma bem menos espetacular. Governo americano
vendeu, em bolsa de valores, último lote de ações em seu poder. Houve críticas
à participação provisória na companhia e por restar um saldo negativo de US$ 10
bilhões. Entretanto, estudo de um centro especializado mostrou que o prejuízo
para a economia do país seria quase 10 vezes maior, sem o socorro. Ao mesmo
tempo, a empresa anunciou Mary Barra como primeira executiva-chefe mundial de
um conglomerado automobilístico e segundo fabricante mundial em vendas, para
suceder Daniel Akerson. Finalmente as mulheres chegaram lá!
RODA VIVA
LAND ROVER anunciou, com certo atraso, R$ 750
milhões para produzir 24.000 unidades/ano, em Itatiaia (RJ), em 2016. Ao
contrário de concorrentes, se trancou sobre modelos escolhidos. Freelander e
Evoque são candidatos naturais. Novo Defender está nos planos. Empresa esconde
pormenores desse SUV de entrada. Não era de se esperar que o fizesse aqui.
DESVANECERAM esperanças de 2013 completar 10
anos seguidos de alta nas vendas ao mercado interno. Queda será pequena em
relação ao recorde de 2012. Dado positivo é o salto na produção em novo patamar.
Crescimento em torno de 12% sobre o ano passado se deu por substituição de
importações e reação das exportações, puxadas pela Argentina.
ATENÇÕES se voltam para 2014. IPI vai
aumentar parcialmente em 1º de janeiro: cada 1 p.p. reflete em 1,1 p.p. no
preço final. Mais provável que os carros encareçam 2,2%. Modelos básicos devem ir
além, porque todos terão de série airbags frontais e freios ABS, porém cada
fabricante terá sua estratégia. Estoques (41 dias) em novembro ficaram acima do
ideal (35 dias).
ÚLTIMO importador a aderir ao regime
Inovar-Auto, a Kia, representada pelo Grupo Gandini, finalmente aquiesceu.
Marca sul-coreana do Grupo Hyundai ainda estuda construir uma fábrica. Decisão
dependerá de resquício da batalha tributária com o governo brasileiro sobre a
ex-controlada Asia Motors. Está tudo bem, mas não está tudo bem. Coisas típicas
do Brasil...
PARA se garantir em cenários diversos e
adversos, José Luiz Gandini começará a importar da China e do Uruguai a décima
marca chinesa, Geely, a atuar no Brasil, a partir de janeiro próximo. Trará o
sedã médio-compacto EC7 (200 unidades/mês) e o subcompacto GC2 (300
unidades/mês). Geely controla a sueca Volvo e uma fábrica no Brasil para
qualquer delas não se descarta.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado
desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de
mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística
semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85
jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto
(Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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