Wagner Gonzalez |
Não foi dessa vez e só mesmo as leis da roleta podem salvar a F-1 do marasmo imposto pela MercedesBenz. Terceiro em Barcelona, atrás de Hamilton e Rosberg, Ricciardo pode confirmar a sorte de principiante nas duas do principado onde a categoria se apresente em 15 dias
Verdade que desde que o GP da Espanha passou a acontecer em Barcelona há uma ou outra lembrança de corrida interessantes. Difícil mesmo é lembrar de uma prova mais modorrenta que a vista no fim de semana e que marcou a quarta dobradinha e a quinta vitória consecutivas da equipe Mercedes-Benz nas cinco etapas já disputadas este ano.Verdade, também, que o terceiro e quarto lugares da Red Bull mostraram que o touro parece despertar de uma ressaca de quatro títulos seguidos, porém ainda não tem as asas que possibilitariam superar os panzerwagen #44 e #6. Enquanto isso nem tudo segue dantes no quartel de Abranches: a audiência de TV na Itália caiu absurdamente e os organizadores de GPs marcaram presença no paddock catalão para exigir – até onde eles possam fazer alguma pressão sobre Bernie Ecclestone -, mudanças que evitem arquibancadas cada vez mais vazias. E aqui voltamos à casa de Stuttgart…
O espaço útil de um bloco de anotações sobre o que aconteceu no GP da Espanha dá asas à imaginação pela quantidade de branco que oferece: foi praticamente impossível registrar momentos dignos da palavra emoção nessa corrida. Certamente muitos vão comentar a briga das últimas voltas entre Hamilton e Rosberg mas, cá prá nós, aquilo pareceu mais jogo de cena do que uma disputa pela vitória. Pior para o alemão: ao terminar atrás do inglês em quatro corridas seguidas perdeu a liderança do campeonato e deixou no ar o perfume de que não conseguirá superar seu companheiro de equipe na briga pelo título deste ano. Algo semelhante ao que acontece na equipe do touro vermelho: a diferença é que ali Daniel “Sorriso” Ricciardo é quem dá as cartas frente ao ex-aqui-mando-eu do pedaço, o alemão Sebastian Vettel.
Ainda no capítulo pilotos há de se falar sobre Kimi Räikkönen, Romain Grosjean e Felipe Massa. Coincidência ou não, após a chegada de Marco Mattiacci à direção da Ferrari a diferença de rendimento entre o finlandês e Fernando Alonso diminiu drasticamente; partindo do pressuposto que Räikkönen não reaprendeu a guiar em 15 dias pode-se concluir que a Corte das Astúrias já não tem controle total do que acontece nas plagas de Maranello. Com relação a Romain Grosjean igualmente surpreendeu sua performance em treinos e corrida; é válido pensar tanto que a equipe Lotus redescobriu o caminho das pedras quanto ter optado por privilegiar o francês frente a um sempre instável Pastor Maldonado.
Da mesma forma, a presença de Jean-Michel Jalinier, diretor-geral e presidente da Renault Sport, em Barcelona pode ter contribuído para isso, mesmo que sua aparição no paddock tenha sido para pressionar a Lotus e a Caterham a honrar pagamentos atrasados no que diz respeito ao aluguel dos motores franceses….
Finalmente, Felipe Massa. Mais uma vez o brasileiro não correspondeu às expectativas e terminou sem marcar pontos; ao lembrar que seu companheiro de equipe já soma 34, contra apenas a dúzia do brasileiro, não há como esconder que sua situação é ruim. Qual seja o motivo, chegar atrás do companheiro de equipe é sempre negativo para um piloto, seja ele albanês, espanhol, finlandês ou brasileiro. Sorte e campeões sempre andaram lado a lado, cenário que parece distante dos estúdios onde atualmente Massa filma sua presença na categoria. Certamente Felipe já conseguiu feitos que emocionaram os seus torcedores, como sua vitória no GP do Brasil em 2008. Mesmo tendo perdido o campeonato para Lewis Hamilton por apenas um ponto ele esteve próximo de mudar o paradigma brasileiro de que só a vitória é importante ao confirmar que é um lutador desde sempre. Hoje, porém, ele precisa que essa garra se transforme em resultados e evite que suas ações na bolsa da F-1 continuem caindo ou, no mínimo, fiquem mais próximas das de Valteri Bottas. O resultado completo do GP da Espanha e a situação do Campeonato Mundial de 2014 você encontra clicando aqui.
Mercedes vai falar ainda mais grosso
Enquanto a marca alemã dominar com ultrajante facilidade suas rivais e o conjunto da obra continuar percorrendo a passarela da F-1 com voz rouca ou sussuros altos há pouco a se fazer para reverter a queda de popularidade que a categoria vivencia em 2014. Nem mesmo o otimismo sorridente de Daniel Ricciardo, o potencial de Daniil Kvyat ou os bons resultados da Force India frente a concorrentes mais $audávei$ vão reverter esse quadro.
A audiência do GP da Espanha foi 60% menor que a média: caiu de 8 milhões de telespectadores para cerca de 3 milhões. Mesmo que se considere o fator de competitividade da Ferrari, é uma queda impressionante e longe de ser exclusiva dos italianos. A qualidade das transmissões pelo mundo afora também entra nesta conta, onde a única emissora de TV que tem feito um trabalho fora do normal é a Sky inglesa. Com um um time de ex-pilotos e profissionais de primeira linha, programas com conteúdo – que começam e terminam horas antes e depois de cada GP – e informações que interessam aos fanáticos e ao mesmo tempo são digeríveis pelo espectador normal fazem essa diferença.
Mesmo assim, as tribunas vazias e o ruído surdo das “unidades de potência” – o conjunto de motores de combustão interna e os recuperadores de energia –, já deixaram marcas fortes a ponto de se falar em recursos acústicos para reverter o quadro. Durante os treinos livres que acontecem hoje e amanhã (13 e 14 de maio) em Barcelona, a Mercedes irá testar um novo sistema de escapamento que poderá alterar o som da F-1 2014, apetrecho que por sua finalidade já foi apelidado de megafone. Um caso típico onde não basta ter tecnologia de ponta, é preciso soar com a emoção de tecnologia de ponta…
Gente nova
O circo da F-1 permanece instalado em Barcelona até amanhã para a realização da segunda sessão de treinos livres da temporada. A maioria das equipes terá pilotos novatos ao volante dos seus carros ou, no mínimo, nomes que não disputam o campeonato de 2014. A lista dos pilotos que andarão hoje e amanhã, nesta ordem é esta: Red Bull Racing: Sebastien Buemi e Sebastian Vettel; Mercedes AMG: Lewis Hamilton e Nico Rosberg; Ferrari: Kimi Raikkonen; Lotus: Charles Pic e Pastor Maldonado; McLaren: Jenson Button e Stoffel Vandoorne; Force India: Nico Hulkenberg e Daniel Juncadella; Sauber: Giedo van der Garde e Estebán Gutiérrez; Toro Rosso: Jean-Eric Vergne e Daniil Kvyat; Williams: Felipe Massa e Susie Wolff; Marussia: Max Chilton e Jules Bianchi, e Caterham: Kamui Kobayashi e Robin Frijns.
Enquanto isso no paddock de Interlagos.
Há tempos que a situação do automobilismo paulista vem decaindo com disputas internas e pouca – ou no mínimo inconsequente –, preocupação com a divulgação e promoção do calendário regional. Nos últimos dias, porém, a situação ganhou novas cores, ainda menos agradáveis. A próxima interdição do circuito paulistano para a realização de amplas reformas e o recapeamento do traçado parece ter exacerbado a crise que há anos se consolida com arquibancadas vazias e a queda generalizada de participantes. Sem a necessária promoção e a falta de uma política de renovação o esporte que foi um dos mais populares de S.Paulo hoje luta para sobreviver.
Os grids diminuem a cada etapa (a categoria Marcas e Pilotos é hoje cerca de 40% dos 60 inscritos de pouco tempo atrás), brigas políticas ameaçam a F-Vee (ironicamente aquela que proporcionou a melhor corrida do fim de semana) e a Copa Classic viu-se envolvida numa cisão em consequência da auto-demissão de Marcus Ramaciotti da presidência do Conselho Técnico Desportivo Paulista (CTDP). Na categoria dos monopostos de base a situação ficou ainda mais crítica ontem, quando Roberto Zullino, um dos idealizadores da F-Vee Brasil, divulgou parcialmente em sua página do Facebook a decisão do Tribunal de Justiça que proíbe a junção dessa categoria com a F-1600, que utiliza o mesmo carro. Mais do que esclarecer direitos intelectuais sobre o projeto do veículo a decisão tem poder para enfraquecer uma fórmula de custo acessível e com amplo potencial de sucesso.
Além disso a cobrança de uma taxa extra de R$ 50,00 por piloto para criar cobrir os reparos por danos causados pelos pilotos à pista também gerou polêmicas. Segundo a Fasp, esse valor é depositado em um fundo de reserva para cobrir gastos com os reparos exigidos em contrato; segundo a direção do autódromo, essa despesa é em torno de R$ 15.000,00 anuais, cerca de 200% do valor arrecado por prova e que deveria ser coberto pelo seguro exigido para o aluguel da pista. Após a indisposição de alguns pilotos em aceitar essa cobrança a taxa em questão teria sido incorporada ao valor da inscrição.
Enquanto isso uma federação paralela (Federação Desportiva de São Paulo, FDSP), promove competições alternativas de kart e moto com razoável número de participantes. Embora o site www.fdsp.com.br não traga a identidade de nenhum dirigente o único endereço disponível (Avenida São João, 1151, 1o. andar, S.Paulo), coincide com o do Centauro Motor Clube, associação que apesar do passado glorioso edificado por Eloy Glgliano e Wilson Fittipladi, não aparece mais na relação de clube filiados à Federação de Automobilismo de São Paulo conforme mostra o site desta entidade nesta página. Detalhe curioso é que das 18 associações mencionadas cinco delas funcionam praticamente no mesmo endereço, caso de outras duas; juntas elas são as responsáveis pela maioria absoluta da organização e promoção das corridas realizadas em Interlagos, incluindo-se aqui as provas de arrancada e "track day".
O lado bom desta conturbada situação é que, às vésperas da reforma de Interlagos, o Kartódromo Ayrton Senna recebeu verba de R$ 300 mil para reformas e modernização de suas instalações em um trabalhado liderado pelo vereador Floriano Pesaro.
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