terça-feira, 7 de julho de 2015

Wagner Gonzalez em Conversa de Pista

Wagner Gonzalez

Debaixo da garoa, um copo meio cheio, meio vazio

Verão inglês colocou água no chope da equipe Williams. Famosos pela cerveja natural, alemães fizeram mais uma dobradinha em pódio que Ferrari marcou presença. Em Daytona, acidente espetacular marca vitória de Dale Earnhardt Jr.




Largada fulminante, chegada nem tanto
Ri melhor quem… Copo meio cheio… Nenhum dito popular serve melhor para descrever o GP da Inglaterra como a famosa frase do lendário pentacampeão, o argentino Juan Manuel Fangio: “Carreras son carreras”.


Felipe Massa alinhou em terceiro no grid e assumiu a ponta em uma largada que entrou para sua história, talvez até mesmo para a história da F-1. Afinal, poucas vezes uma dobradinha com chances de derrotar a praticamente imbatível equipe Mercedes foi desperdiçada de maneira tão clara. No final, a chuva se encarregou de garantir que Lewis Hamilton e Nico Rosberg terminassem mais uma vez em primeiro e segundo lugares e Sebastian Vettel subisse novamente ao pódio.

O que se viu em Silverstone, além de uma mostra do verão inglês, foi um Felipe Massa em grande dia ser anulado por uma estratégia nada ou pouco digna de uma equipe de F-1 com tamanha tradição. Não se pode esquecer que a categoria está mais do que nunca tomada pelo politicamente correto a ponto de colocar ordens e jogo de equipe na categoria do inadequado. Mas quem é autoentusiasta se perguntou por que durante as voltas em que o brasileiro do carro 19 e o finlandês do carro 77 lideravam a prova eles não se ajudaram para aumentar a vantagem sobre o rapazinho do 44. Qualquer mecânico de kart, daqueles que ficam fazendo mímicas absurdas e incompreensíveis à beira da pista, teria sido capaz de transmitir claramente essa ordem.

Foi esse desperdício que deixou o copo da vitória meio vazio, volume que nem mesmo a garoa que invadiu Silverstone sem credencial serviu para compensar. Pior: aumentou a seca de vitória da equipe — a última foi na Espanha, em 2012 — e do brasileiro (GP do Brasil de 2008) e adiou a primeira conquista de Valteri Bottas. Tal qual muita gente que assiste o GP do Brasil pela TV está cansada de ouvir, os ingleses da Williams demonstraram não saber que a “..a chuva vem de Oxford”.

Brincadeiras à parte, só mesmo essa folclórica frase para explicar a tática equivocada para trocar os pneus de seco pelos intermediários quando os 5.891 metros ficaram úmidos ou molhados. Até mesmo os adversários com conhecimento de causa, e de casa, estranharam a tática da Williams, caso de Toto Wolff, austríaco cuja esposa é piloto de desenvolvimento da equipe inglesa, da qual já foi acionista, e lidera a equipe Mercedes. Para ele, os rivais deveriam ter usado táticas diferentes para cada piloto, em especial para Bottas, “que parecia mais rápido”.

Mesmo ocupando a segunda fila do grid (Bottas largou em quarto), a Williams acabou sucumbindo à estratégia e malandragem de Sebastian Vettel. O alemão deu show de pilotagem na chuva ao disputar posição com Kimi Räikkönen, como você pode ver abaixo.

Como não adianta chorar sobre a garoa derramada, a Williams tratou de valorizar o resultado e chutar a bola para a frente, o que no caso é focar no GP da Hungria, dia 26. Nesse meio tempo será preciso conter os ataques à manutenção de Valteri Bottas na equipe em 2016. Se a Ferrari já tinha interesse no finlandês, o capítulo Silverstone certamente tem tons de epílogo nessa relação. O resumo desta ópera pode ser descrito como o interesse de Frank Williams em faturar o máximo possível para liberar o piloto, que começa a se cansar da demora em vencer seu primeiro GP e vislumbra pastos mais verdes, como sempre parece ser o gramado do vizinho.

D-R por D-R, nada supera o clima que reina no Império de Dennis, o Ron, não o travesso das antigas revistas de quadrinhos. Com um pouco de sorte você poderá assistir a esta entrevista onde Ron Dennis responde perguntas de Martin Brundle. Com conhecimento de causa e de casa, Brundle encosta Dennis na parede ao questionar a atual falta de competitividade da McLaren e, surpreso com uma resposta típica de político em campanha, fuzila uma réplica tipo não-é-bem-isso-que-se-vê-na-pista. Os dois concordaram em novo capítulo dessa tertúlia para o final da temporada.

O clima de desespero já envolve a Honda e ex-amigos como Eddie Jordan. Se para o construtor japonês, cujos valores orientais preservam a paciência e o tempo, o projeto é de cinco anos, para Dennis e seu orgulho os resultados devem aparecer ontem, algo que quem acompanha a F-1 sabe que não é o caso. Com relação a Eddie Jordan, que nos seus tempos de dono de equipe era próximo a Dennis-, a declaração que o mal da McLaren está na arrogância do seu líder, provocou uma resposta igualmente áspera:

“A F-1 é uma família que mora em um monte de vilinhas e cada uma tem sempre seu idiota. Ele (Jordan) se encaixa perfeitamente nesse papel…”

Enquanto o desempenho competitivo não vem, a sombra do processo que levou Ron Dennis a assumir o comando da McLaren aparece como um verdadeiro lobo mau. O ex-mecânico de John Cooper conquistou a equipe quando Teddy Mayer começou a perder seu toque de fada no final dos anos 1970 e acabou entregando a varinha para Dennis em 1981. Teddy Mayer não acabou no Irajá, mas ainda não dá para dizer o mesmo de Ron Dennis.

Diferenças à parte, o famoso Grupo Estratégico da F-1, aquele que Bernie Ecclestone quer ver dizimado, se reuniu novamente e serviu para deixar Ron Dennis, digamos, menos estressado. Além de uma cruzada para diminuir o uso de parafernálias eletrônicas a partir do GP da Bélgica (marcado para 21 de agosto), novos fabricantes poderão usar um quinto motor, ou melhor: unidade de potência, em seu primeiro ano. Soou como presente para a Honda e um atestado de cinismo para os que fazem o regulamento da categoria. Afinal, hoje em dia, tem gente que já perdeu 25 posições em um grid que tem meros 22 participantes. O futuro é, digamos, nosso conhecido: no ano que vem o sistema de escapamento dos motores será modificado para produzir um ronco mais forte, atitude comparável à eficiência digna de serviços públicos brasileiros…

Para ver o resultado completo do GP da Inglaterra e a situação do campeonato basta clicar aqui.

Nascar: na reação em cadeia piloto escapa ileso
Nem a chuva que atrasou a programação em três  horas e meia arrefeceu os ânimos dos pilotos que disputaram a Coke 400, etapa da Sprint Cup (principal categoria da Nascar) em Daytona. Você pode ver aqui um resumo dos principais acidentes da prova vencida por Dale Earnhardt Junior.. Neste link você vê o acidente em vídeo registrado por um espectador; cuidado, são cenas fortes… Neste outro você a sequência por outro ângulo e com melhor definição, inclusive da caixa de câmbio que ficou separada do automóvel. Austin Dillon, o piloto do carro que decolou e bateu contra as grades de proteção (que cumpriram sua função com méritos…) saiu caminhando do acidente. Entre os espectadores que foram atingidos por detritos e peças dos automóveis, seis foram liberados após receber primeiros socorros no local e os demais encaminhados para um hospital local, onde receberam os cuidados necessários. Todos passam bem.

 WG

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