Está
bastante difícil este começo de ano para a indústria de veículos. E
vai piorar no primeiro trimestre porque em igual período de 2015 ainda havia em
estoque unidades produzidas em 2014 com IPI reduzido. Produção, porém,
apresentou o pior janeiro desde 2003 e isso tem impacto direto nos empregos do
setor (14,7 mil demissões no ano passado e mais que o dobro disso na área de
autopeças). Todavia a grande desvalorização do real diante do dólar abre uma
janela de oportunidade para exportações.
Reconquista de espaço perdido por veículos brasileiros no exterior será
desafiante. Em primeiro lugar porque passamos de 35% de participação de
exportações na produção, em 2005 para apenas 17%, em 2015. A queda brutal de
35% nas vendas internas de 2013 a 2015 também impactou na escala e nos custos
de produção. Ociosidade se aproxima de 60% da capacidade nominal instalada,
quando se sabe que a indústria mundial só consegue ganhar dinheiro se a
ociosidade for inferior a 25%.
A propósito de ganhos e perdas, além de remessas de lucros para o exterior hoje
praticamente zeradas, parece que acabou o ímpeto de radicais dos tempos de
“abaixo o lucro Brasil”. Franklin Roosevelt, histórico presidente dos EUA,
definiu um radical como alguém com os pés bem fincados no ar. Hoje, em tempos
de “prejuízo Brasil” e dólar valorizado, as comparações de preços de automóveis
com os vendidos no exterior quase não têm repercussão, embora os números sejam
públicos.
Índice de inflação IPCA acumulado entre 2004 e 2015 foi de 87%. Carros subiram
em média 2,5% pelas tabelas dos fabricantes e 8% de acordo com preços
praticados, segundo a consultoria Molicar, de São Paulo. Em termos reais
ficaram, assim, bem mais baratos. Outra verdade: modelo mais acessível do
mercado, Fiat Palio Fire duas portas, custa US$ 7.326 (cotação de dezembro
último de R$ 3,87 por US$); sem IPI, ICMS e PIS/Cofins que não são todos os
impostos incidentes, preço cai a US$ 5.342. Evidente que automóveis no exterior
incluem bem mais itens de segurança, mas numa escala de produção muito maior e
carga tributária menor por, no mínimo, US$ 12.000 nos EUA.
Pode-se ainda comparar por outro indexador em reais um Gol 1995, 1,0 L, 50 cv,
sem catalisador, bolsas de ar e freios ABS. Corrigido pelo índice inflacionário
IGP-DI deveria custar hoje R$ 43.500, mas em dezembro era tabelado a R$ 31.600
com mais cinco itens de série, motor de 76 cv (gasolina) e 98% menos emissão de
monóxido de carbono. Este mesmo Gol custava 107 salários mínimos (SM) há 20
anos e hoje, 40 SM, depois da política de ganhos reais praticada nos últimos
anos sem respaldo do aumento de produtividade da economia na mesma proporção.
Obviamente essas comparações embutem distorções cambiais, inflacionárias,
tributárias e de poder de compra da população. No momento são classificadas
como deformações numéricas, mas no passado recente poucos apontavam essas
mesmas razões ao criticar os preços internos.
Com os pés bem fincados no chão e longe de radicalismos, esta Coluna gostaria
de ressaltar que o Brasil conquistou duas novas taças mundiais. Carro mais
tributado (compre dois e leve um...) e barato (ou um dos mais) em dólares.
RODA VIVA
DOIS lançamentos de peso da Renault este ano sentem a
recessão econômica e podem sofrer atrasos. Versão brasileira do SUV Captur,
maior que o Duster do qual deriva, deve ficar mesmo para início de 2017. Mas o
subcompacto Kwid (evoluído em relação ao indiano anônimo) talvez esteja à venda
em novembro ou dezembro de 2016. Fábrica está engajada ao máximo.
POR outro lado, fornecedores do Jeep (projeto 551),
ainda sem nome escolhido, temiam pelo cronograma mais lento na fábrica de
Goiana (PE). Como a picape Toro atrasou, o mesmo poderia acontecer com este
terceiro produto, todos baseados no Renegade. Agora, já há data do início de
produção: julho deste ano e vendas, três meses depois.
EVOLUÇÕES marcantes no estilo e habitabilidade (5 cm
mais largo), destacam-se no Mercedes-Benz GLC, SUV que tem por base o Classe C
e sucede o GLK. Além de até 80 kg mais leve, consumo de gasolina caiu 19%
ajudado pelo câmbio automático de nove marchas e aerodinâmica melhorada (Cx 0,31).
Custa entre R$ 222.900 e 264.900, todos com tração integral.
NOVO BMW X1, tração dianteira ou 4x4, começa a ser
montado em Araquari (SC) já no próximo mês. Motor de 2 litros turboflex não é
igual ao do Série 3: 192 cv e 231 cv dependem da versão. Dirigibilidade em
asfalto é muito boa, mas em fora de estrada sem desafios, aconselhável o 4x4.
Interior e porta-malas mais amplos. Preços de R$ 166.950 a 199.950.
CROSSOVER Mercedes-Benz GLE Coupé tem desenho mais
equilibrado do que seu adversário direto, BMW X6, que criou o estranho e
bem-sucedido conceito de SUV/cupê. GLE, porém, leva cinco passageiros e no
banco traseiro há espaço maior para cabeça. Motor V-6/3L/333 cv e câmbio
automático de nove marchas. Boa suspensão pneumática de série. Preços: R$ 415.900
a 425.900.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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