terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

Triunfos brasileiros em Daytona, na Índia e na Nova Zelândia‏

Anos atrás, quando optou por disputar o automobilismo europeu, o paulista Pipo Derani tinha como objetivo chegar à F-1. Domingo passado ele se consagrou no automobilismo mundial como um novo astro na categoria Resistência, onde estreou no ano passado. Ao vencer a 24 Horas de Daytona em sua primeira participação, Derani deixou de ser uma promessa de 22 anos de idade para se transformar no principal piloto do quarteto que venceu a competição e nova estrela da cena do WEC.


Foi a terceira vitória consecutiva de um piloto brasileiro na corrida — quarta em cinco anos — e o resultado final teve ainda Rubens Barrichello em segundo lugar. Christian Fittipaldi (vencedor em 2004 e 2014) ficou em quarto, Daniel Serra em décimo, Augusto Farfus em décimo-primeiro enquanto Tony Kanaan (vencedor em 2015) e Ozz Negri (vencedor em 2012). abandonaram.

Os companheiros de equipe de Luís Felipe Derani —  o apelido Pipo, adotado na sua infância, já virou sua marca internacional — poderiam passar facilmente por seu pai, Walter Derani, que anos atrás foi um dos grandes incentivadores da categoria GT no Brasil. O paulistano completou 22 anos no último dia 12 de outubro e praticamente todos os seus companheiros de equipe têm o dobro de sua idade. Os americanos Scott Sharp, Ed Brown e Johannes van Overbeek tem, respectivamente 48, 50 e 43 anos; eles voltam a correr juntos na 12 Horas de Sebring nos dias 18 e 19 de março no traçado próximo a Orlando. O foco do brasileiro é o Campeonato Mundial de Resistência, onde também defende a equipe do veterano Scott Sharp.  Ao descer do carro com qual garantiu a primeira vitória de um carro da categoria LMP2, de um chassi Ligier e de um motor Honda em Daytona, ainda em frente ao pódio, Derani comentou: “Não tenho palavras para descrever este momento…”

Derani largou na primeira fila à frente de Oswaldo Negri Jr e durante toda a corrida ajudou a manter seu carro entre os dez primeiros, tendo inclusive marcado a volta mais rápida da prova. Negri foi obrigado a abandonar por problemas mecânicos. Na fase final da competição mantinha o mesmo ritmo do líder da prova, o carro que Christian Fittipaldi dividiu com os portugueses João Barbosa, Felipe Albuquerque e Scott Pruett e de outro Corvette igual ao de Fittipaldi, tripulado pelos irmãos Wayne e Jordan Taylor, Max Angelelli e Rubens Barrichello.

Famoso pela confiabilidade, o carro de Fittipaldi teve problemas na fase intermediária da corrida, mas a equipe recuperou três voltas e assumiu a liderança até cerca de duas horas da bandeirada final. A quebra de uma semiárvore custou cinco voltas no box e a queda para o quinto lugar. No final terminaram em quarto e garantiram o índice de 100% de provas terminadas com o Corvette DP da equipe Action Express.

Algumas semanas atrás Rubens Barrichello entrou em contato com Wayne Taylor, antigo rival na F-3 inglesa, na esperança de defender sua equipe na corrida de Daytona. Se as negociações iniciais não tiveram êxito, duas infecções que acometeram Jordan Taylor (filho mais novo de Wayne) antes da prova reabriram as negociações com Rubens e o brasileiro acabou confirmado na equipe na noite de quarta-feira; na corrida pilotou por dois turnos e acabou subindo ao pódio com Jordan e Ricky Taylor. Max Angelelli, que conduziu o carro nas últimas duas horas, saiu direto do carro para o centro médico para se recuperar da fumaça que invadiu a cabine  no final da competição. Tony Kanaan, que também tinha chances de vencer na classificação gera, também não completou a prova por causa de problemas de freios em seu carro.

Concorrentes importantes na categoria GTLM, Daniel Serra e Augusto Farfus andaram sempre entre os líderes dessa classe; o duelo entre os dois Corvette da equipe oficial foi emocionante e o inglês Oliver Gavin e o espanhol Antonio Garcia disputaram a vitória de maneira impetuosa nas últimas voltas e cruzaram a linha de chegada, nessa ordem, separados por cerca de 0,3 segundo. Nesta categoria houve as estreias do BMW M6 nas versões GTLM e GTD e do Ford GT. Se os carros bávaros terminaram a prova e andaram entre os primeiros, os americanos acabaram sendo a grande decepção da corrida, tamanho o número de problemas que envolveu os dois modelos inscritos por Chip Ganassi. Para quem pretende disputar vitórias com BMW, Ferrari e Porsche, tudo indica que o caminho para o sucesso é muito mais longo do que o imaginado.

O Campeonato Weather Tech Imsa prossegue em março. Resultados da prova e pontuação podem ser conferidos neste site.

Maldonado fora, Magnussen dentro
O venezuelano Pastor Maldonado anunciou ontem, nas redes sociais, que não disputará o Campeonato Mundial de F-1 deste ano, que começa dia 20 de março, em Melbourne, na Austrália. O piloto que correu na equipe Lotus nas últimas duas temporadas já tinha sido confirmado para 2016, ao lado do inglês Jolyon Palmer, mas uma série de acontecimentos alterou radicalmente essa situação. Indiscutivelmente, a crise financeira que assombra a Venezuela e a compra da Lotus pela Renault foram as causas principais.

O governo de Nícolas Maduro sofre com a queda estupenda do preço do petróleo no mercado mundial e com a perda da maioria no Congresso após as últimas eleições, combinação que dificulta amplamente a manutenção do patrocínio que garantia a presença do venezuelano na escuderia. Ainda que rápido e arrojado, em doses erráticas, é verdade, Maldonado sempre foi certeza de boas disputas e muita dramaticidade nas pistas, algo bom para a audiência mas pouco útil para um fabricante de automóveis que se habituou a disputar e vencer corridas e títulos na categoria.

Assim, não foi surpresa quando emissários da Renault viajaram à capital Caracas no final do ano passado para discutir a manutenção do contrato com a PVDSA, a “Petrobrás venezuelana”, e os fundos para investir no time em 2016. Como a ligação da Renault com a Total — algo próximo da Petrobrás em seus tempos de glória e administração correta —, é forte, o interesse em manter Maldonado ficou ainda mais depauperado. Posto isso, não é nenhuma surpresa a contratação do dinamarquês Kevin Magnussen para substituir o sul-americano; fosse descrito no jargão de enófilos, Magnussen teria corpo de Alonso, com bouquet de Mansell e notas fortes de Maldonado. Ainda não se sabe se os anos que passou nos barris da McLaren serviram para equilibrar seus taninos.

A confirmação de sua contratação será quarta-feira, quando a Renault anuncia oficialmente seu retorno à F-1 na condição de construtor. Não se surpreenda se o uniforme da Renault — que sempre esteve a altura da alta costura francesa —, este ano seja fornecido por uma confecção dinamarquesa. Seria a mesma que investiu um bom punhado de dólares na volta do filho de Jan, piloto que Jackie Stewart anunciou como novo Senna mas que marcou apenas um ponto em sua passagem pela categoria. Kevin, pelo menos, estreou com um segundo lugar no GP de Austrália de 2014 e venceu o Campeonato de F-Renault 3.5 em 2013.

Chilton na Indy aproxima Wehrlein da F-1
A confirmação de Max Chilton na equipe Chip Ganassi — ao lado de Scott Dixon, Charlie Kimball e Tony Kanaan —, reforça a possibilidade do alemão Pascal Wehrlein assinar contrato com a equipe Marussia, que este ano terá motores Mercedes-Benz. Chilton era um nome interessante à equipe inglesa graças à fortuna dos seus pais e, em menor intensidade, ao seus dotes de piloto.

Pietro Fittipaldi vence na Índia
Pietro Fittipaldi conquistou no fim de semana o título do MRF Challenge, na Índia, campeonato que vem ganhando destaque na região que os ingleses ainda se referem como o subcontinente asiático. Trata-se do terceiro título de sua carreira após conquistar o Nascar Whelen Series Late Model em 2011 e o Campeonato Britânico de F-4 em 2014. No ano passado correu na série GP3 e este ano já foi confirmado pela equipe Fortec para participar da O resultado é um alento para o brasileiro radicado nos EUA, que este ano ano vai disputar a F-3.5 V8, antiga F-Renault 3.5.

O MRF CHallenge é bancado pela fábrica de pneus MRF empresa que explora, como poucos, o automobilismo como forma de promover seus produtos e formar novos pilotos na Índia. Fundada em 1946 por K. M. Mammen Mappillai, sua primeira fábrica foi estabelecida em Tiruvottiyur, Madras (o “M”de sua razão social), onde fabricava brinquedos infláveis. Atualmente produz uma ampla gama de pneus para automóveis, caminhões, máquinas agrícolas, motos, tratores e produtos para esportes a motor.

Em 1997 construiu um F-3 e atualmente promove dois campeonatos com monopostos, um com motor Renault 2,0 e outro com motor Ford 1,6. Este último tem chassi tubular e é mais rudimentar. O primeiro usa um chassi de compósito de  fibra de carbono projetado pela Dallara de acordo com as normas de F-3 e construído localmente pela Jayem Automotives, em Coimbatore. Entre os adversários de Pietro Fittipaldi no campeonato da temporada 2015/16 estavam Giuliano Alesi, Harrison Newey e Mick Schumacher; os sobrenomes famosos são uma clara referência aos pais de cada um e a confirmação de como a MRF consegue transformar seu investimento em um sucesso de marketing…

Pedro Piquet é vice-líder na Nova Zelândia
Faltando duas etapas para o final da edição 2016 da Toyota Racing Series, Pedro Piquet assumiu a vice-liderança do torneio que prossegue em Taupo (dias 6 e 7 de fevereiro) e em Manfeild (12 a 14 de fevereiro). Na classificação atual o brasileiro está em segundo lugar, cm 488 pontos, contra 518 do líder Lando Norris, inglês de 16 anos e mais jovem Campeão Mundial de Kart, título conquistado em 2014, na França.

Ao vencer a etapa de sábado em Hampton Downs, Pedro Piquet inscreveu seu nome em um troféu que, desde 1921 é dado ao vencedor do GP da Nova Zelândia. Entre os nomes que constam dessa lista estão como Stirling Moss, Jack Brabham, Bruce McLaren, John Surtees, Graham Hill, Chris Amon (até hoje considerado o maior piloto desse país em todos os tempos), Keke Rosberg e Roberto Pupo Moreno.

Nota do colunista: os resultados conquistados no Exterior no último fim de semana comprovam que os pilotos brasileiros têm qualidades para se destacar  em várias categorias, apesar de todo esforço das autoridades esportivas nacionais em conturbar e dificultar a prática e o crescimento do automobilismo dentro do País. Vale lembrar que no ano passado Pedro Piquet foi obrigado a interromper sua participação na Toyota Racing Series por um capricho da Confederação Brasileira de Automobilismo, a CBA. Meses depois a entidade emitiu uma discreta nota em que se desculpava pelo erro cometido, nota onde não aparecia qualquer possibilidade de ressarcir o prejuízo econômico causado ao piloto.


WG

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