segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Dakar: em dia dramático, brasileiros fazem metade da prova sem volante


Os brasileiros Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin mostraram logo no primeiro dia do Rally Dakar o espírito combativo que os ajudou a conquistar o título de 2018 e o pódio em 2019 (terceiro lugar), configurando a melhor dupla da categoria UTV das últimas duas edições. Uma quebra no sistema de direção
desconectou a coluna do volante de direção no quilômetro 166 dos 319 da especial deste domingo (05/11) na Arábia Saudita.A saída encontrada pelos brasileiros foi improvisar as peças com duas chaves de fenda, uma fazendo as vezes de coluna de direção e a outra do volante propriamente dito. Em uma competição super especializada, com os maiores pilotos e navegadores do mundo, os brasileiros completaram o dia saltando dunas e andando em alta velocidade por trechos sinuosos em condições de dirigibilidade bastante precárias. Por isso, foram aplaudidos na chegada.

“Talvez uma dupla menos experiente e com menos paixão pelo que fazemos desistisse. Mas nós não pensamos nisso um segundo sequer. Nosso foco desde o início foi consertar o problema e ir até o fim”, conta Reinaldo Varela que, ao lado de Gustavo Gugelmin, se sagrou tricampeão mundial de rally em outubro passado. “Nessas situações – e já tivemos várias ao longo da carreira – fico espantado com a agilidade do Gustavo de propor soluções. Trabalhamos muito bem juntos e trocamos a coluna e volante colocados pela equipe. Fizemos uma improvisação com as ferramentas que tínhamos disponíveis. Da minha parte, foi bastante incômodo pilotar com uma ferramenta improvisada como volante. Causou muita dor nas mãos por causa da tensão, do esforço para segurar o ‘volante’ e da trepidação. Nas curvas, devo confessar que dava certo medo. Mas a incerteza faz parte dos rallies, é da natureza desse esporte”, continua o piloto da equipe Monster Energy/Can-Am. 

Para o resto da vida – “Eu já respeitava muito o Reinaldo como piloto, mas hoje a minha admiração cresceu muito. Tivemos um dia dos mais difíceis, mas é um dia pra lembrar para o resto da vida”, diz Gustavo Gugelmin. “Ele pilotou os 153km finais da especial em alta velocidade usando uma chave de fenda como volante – e isso em pleno Dakar, o mais difícil rally do mundo. E depois ainda
dirigiu mais 235km do deslocamento final obrigatório por regulamento, que era para chegarmos ao ponto de largada do dia seguinte, em Al Wajh. Acho que o dia de hoje diz muito sobre ele e a nossa parceria. Estamos tristes pelo que aconteceu, mas ainda assim orgulhosos do que fizemos. Amanhã tem mais”, completou o navegador da equipe Monster Energy/Can-Am.

Brigando pela ponta – Depois de largar pela manhã deste domingo em Jeddah, a dupla brasileira chegou a Al Wajh já no período da noite. Antes da quebra, eles brigaram pela vitória na especial, pois tinham ultrapassado as duplas Francisco “Chaleco” López/Pablo Latrach (Chile) e Gerard Farrés Guell/Armand Monleon, que disputavam a liderança até então. Os dois duos são os atuais campeão e vice do Dakar. Agora, a diferença para os vencedores da primeira especial, a dupla polonesa Aron Domzala/Maciej Marton, é de
2h22min. 

Nesta segunda-feira, o Dakar tem previstos 367km de especiais, com um total de 401km, incluindo os trechos de deslocamento. Segundo a organização, o percurso será formado por trilhas velozes, mas com referências que nem sempre são confiáveis. “A navegação será difícil justamente por que haver locais com muitas trilhas se cruzando, que nem sempre poderão ser a referência correta. Isso pode jogar a nosso favor nessa corrida de recuperação. Vamos pra cima”, resumiu Gustavo Gugelmin.

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