quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Roberto Nasser - De carro por aí



edita@rnasser.com.br - 61.3225.5511 Coluna 0113 - 02.01.2013

Vida Automóvel. O que teremos em 2013
2013 é um ano especial na nossa breve história automobilística. E você será agente ou observador das mudanças. Nele, as novas motorizações de menor tamanho, o uso dos turbos, os carros chineses aqui produzidos, o grande leque de produtos, maior variedade mundial.
Não é resultado exclusivo da erupção das novas classes D e C, apenas parcela em grande conta. Outra, a ascensão do Brasil, em colheita tardia dos frutos que você, eu, nós, patrocinamos há décadas com o super pagamento de impostos. Também, a pressão ecológica mundial para reduzir a má relação entre automóveis, seu espaço, danos à natureza e, do outro lado, o homem - com ou sem carro. E a crise do subprime estadunidense, a irresponsável rolagem das dívidas permitida pelo governo dos EUA, ao aparelhar, pagando compromissos, colocando em postos chave, banqueiros e gestores econômicos privados. A crise veio, cruzou oceanos, espraiou-se por continentes, plantou o pânico financeiro, cortou o barato e o mercado mundiais.
Moral da história, os países emergentes, ditos BRICS, sempre contidos por variadas políticas que interessavam a alguns, e não interessavam a todos, chegaram ao ponto irrefreável e incontornável de crescimento - Brasil, Rússia, Índia e China - recentemente África do Sul, como referência continental africana.
Nosso mercado cresce em expansão projetada, tem estrutura, insumos, mão de obra e expertise, daí ter alcançado números - em 2012, 3,8M de veículos novos vendidos domesticamente – igual a toda América Latina.
Assim, ideal a investimentos das marcas aqui instaladas, esporeadas a atualizar produtos, e a novas, buscando beirada nas vendas. Afinal, exceto chineses, russos, indianos, sul africanos, os mercados estão congelados.
Muitos lançamentos – umas cinco dezenas -, óbvios pela maior variedade de marcas em alguma atividade industrial em todo o mundo.
Do ponto de vista do consumidor, os automóveis aumentarão de preço. Tanto pelo retorno, até julho das alíquotas plenas de IPI, também pelos obrigatórios freios com ABS e de almofadas de ar em todos os veículos de todas as marcas, até o final do exercício. Isto dará fim à Kombi e Uno Mille.
Usar automóvel será punido pelo aumento do preço da gasolina. Diz-se, para acertar a contabilidade da Petrobrás, mas é dado curioso, pois a produção local custa muito menos que contabiliza a Petrobrás, como commodity  aplicando o valor como se fosse produzida no exterior.
A dieta na redução do IPI, enzima de vendas nos anos passados, em saltos a cada 60 dias, chegando julho às medidas originais, aumentará a competitividade no mercado.
O setor – associação, marcas, distribuidores -, projeta crescer 5%. Mas será certo festejar produção de 4M de unidades, individualizando o Brasil como excepcional base produtora e mercado consumidor no cenário mundial, onde a relação veículos x habitantes bateu no teto.
Mercado em mudança, as quatro grandes marcas cairão dos 70% marcados em 2012. Óbvio. A cada Renault, Peugeot, Citroën, Honda, Toyota, Nissan, JAC ... vendido, é um Fiat, Volks, GM ou Ford a menos.
Marco importante: o Hyundai HB20 será referência. Não por produção e vendas, entre 120 mil e 130 mil – nem 3% do mercado –, mas por tecnologia e uso. Embora seja único da marca produzido no Brasil e em meio a leque de seus importados, será a nova referência: “- Gasta menos que o Hyundai ? As peças são mais caras que as do Hyundai ? A garantia é igual à do Hyundai ?”  O HB20 será a cara da Hyundai.

Novos carros
Ano industrialmente rico. Fiat, líder, sem produto novo, mas versões e dedicação no desenvolver veículo a ser feito na fábrica que erige em Goiana, PE. Menor, substituirá o Uno, mais barato do país, motor dois cilindros, 850 cm3, cabeçote Multi Air – a maior novidade tecnológica nas últimas décadas – também lá produzido. Não é apenas outra fábrica, mas polo industrial, mudando produtos, motores, clientes. De lá, também, carro maior em versões Dodge e Alfa Romeo.
Teoriza-se, a CAOA, representante da Hyundai, exceto o HB20, montará o hatch i30. Representada coreana Hyundai e representante paraibano caminham para cisão de relacionamento. Informações reais, ou plantadas, dizem a CAOA teria acordo com chinesas Great Wall, e Chan Gan, para produção em caso de perder a Hyundai. A enorme queda em vendas, e cair ao a 10o. lugar facilitam a conta.

Maior produção
O balcão está maior que o forno, e venderá quem puder entregar. Daí, para atender à demanda, as maiores montadoras investem no ampliar capacidade industrial. Fiat faz nova fábrica, VW aumenta produção veículos em Taubaté e motores em São Carlos, SP. A empresa muda. Melhorou os produtos mais vendidos e prepara re nascimento, com produtos iguais aos feitos em outros mercados. Começará, como a Coluna também antecipou, com o Santana. Nome antigo, sugerindo sedã grande, baseado na boa plataforma do Polo, recém apresentado na China, na fórmula criada para mercados emergentes e de poucas exigências, aviada por Renault Logan, seguida por Chevrolet Cobalt, Nissan Versa, Fiat Grand Siena. Construção barata, sem investir em plataforma ou mecânica, rentável. Depois, a hora da virada, com produto atual: o UP! e, novidade mundial, o Taigun, pequeno utilitário esportivo, com tudo para ser moda.
GM ficará para trás. Há poucos anos, tentando se salvar da grave crise que gerou, cortou investimentos industriais e economizou ao desenvolver produtos. Dai, vem caindo em participação e representatividade no mercado. Explicável. Criou produtos sobre plataformas antigas, fez gambiarrasnos motores com a base do Monza, e economizou em projetos, como o Cobalt, de maus resultados. Apesar de ter exportado muitos dinheiros para a matriz, não mereceu autonomia para fazer o Cruze, de origem da coreana fábrica Daewoo. Perdeu-a para o México com exportações ao Brasil. Terá versão sedã do recém lançado Ônix.
Última das grandes, a Ford aumenta a capacidade industrial, investe em São Bernardo, SP, para lá produzir o novo Fiesta, hatch e sedã, diferentes dos modelos produzidos em Camaçari, BA. Terá o único Ka no mundo, trocando a velha plataforma para a do atual Fiesta feito na Bahia e para lá será transferido. A mudança significará sair do segmento dos picapes pequenos. Completará a linha com o picape Ranger, os novos Focus a fazer na Argentina, e o Fusion, bem acertado em linhas e seu motor turbo.
Em Pinhais, PR, a Renault quase dobra a capacidade industrial. Renovará o Logan, e tapas estéticos no Sandero e no Duster para marcar ano/modelo, e enfatizará versões mais simples e baratas para o Fluence, motores 2.0 e 1.6. Novidade, Logan picape. Aliada, a Nissan instala fábrica para 200 mil/ano. Além do March produzirá Livinas, picapes Frontier e, como a Coluna antecipou mundialmente, um sedã Mercedes Classe A. Restrita às cotas impostas aos carros mexicanos, trará novo Sentra e Altima. Peugeot lançará o 208 e Citroën insistirá em complementar linha com os DS importados, até a mudança do Pallas.

Olhos puxados
A nova peculiaridade do mercado, os compradores sem vivência com veículos novos, e aos quais basta a mítica, a imagem, a distância das oficinas, permite às montadoras fazer estrepulias. Em vez de produtos novos, economia em projeto e construção, usando plataformas - a parte inferior onde se fixa mecânica e carroceria – e ás vezes motores com décadas de projeto e uso. Tal postura gera situações como o Toyota Etios, junção de peças pré-existentes, para o mercado indiano, inferior em exigências às do cliente brasileiro. No descompromisso, ou desrespeito, as saídas de ventilação ficam no lado direito –onde, na Índia de mão inglesa, vai o volante. Os revestimentos nas portas são suportados apenas por clientes primários, felizes com o primeiro carro O Km, sem reclamar: ásperos, plástico sugerindo ser reciclado, sem bons encaixes. Vende pouco. O Etios é a maior decepção entre formulação e comercialização e espera-se, em vez de Harakiri, provoque apenas demissões de falsos intelectuais em mercado, e correção respeitosa no produto.
Em Catalão, GO, a MMC produz Mitsubishis, e iniciou fazer o ASX. E, por acordo, série inicial do jipinho Suzuki Jimny, em rígido processo de nacionalização de peças.
Os coreanos chegaram pelo Hyundai HB20, terão versão Kia, e os chineses veem o Brasil como mercado natural a seus produtos. Embora os olhos puxados japoneses e coreanos traduzam confiança construtiva, nos chineses não dá para avaliar. Lá são muitas as marcas, e entre o inferno e o céu há enorme gradação. Assim, se nacionalidade significa qualidade - um alemão, um coreano, um japonês tem-na implícita - com os chineses há que esperar para ver a felicidade ou a desgraça dos primeiros compradores. Até agora as amostragens não valem, porquanto importações. Mas ao final do ano a Chery, com Celer, por si, em Jacareí, SP, e a JAC, com o J2, em sociedade com o empresário Sérgio Habib, serão os balões de ensaio ao julgar dos consumidores.
Mais recente das ex-nacionais, cearense assumida pela Ford, em março a Troller terá novo jipe, projeto nacional, mostrado no Salão. E a TAC, única efetivamente brasileira, para viabilizar-se deixou Joinville, SC, a sociedade com o governo do estado, por Sobral, CE, atraída pelos incentivos da região nordeste.


Importados
Contidos por legislação, imposição de impostos, ou importados do México através de cotas por empresas com atividade nos dois países, os importados pelas empresas sem fábrica local, no máximo repetirão as vendas de 2012. A rede revendedora se reduzirá, punida pelas medidas governamentais.
De produto, atrativa referência não terá números proporcionais, mas será o Viper, agora chamado SRT pela Fiat. Recém lançado, motor V 10, 8.000 cm3, 640 cv será importado oficialmente.

Em suma, entre produtos novos, outros resultantes de mistura de vários pedaços, ou produtos atualizados, a disponibilidade de veículos automóveis em muito se ampliará a partir do próximo ano. Bom para o comprador.
Como alarme institucional. O SINIAV, sistema de monitoramento que o governo federal implantará por terceirização, controlará todos – todos - os carros 2013. Você será acompanhado pelo satélite, perderá sua liberdade individual, terá sua vida conhecida pelos terceirizados, vai arriscar-se. Cada carro terá um chip e ao final deverá assinar o serviço.
O executivo deve explicar isto ao Ministro Joaquim Barbosa, última esperança de alguma moralização. A receita de arrecadação não exala bom cheiro.

Quem vem, com que, onde e quando


Quem faz, o que, onde
Marca
Produto
Onde
Quando
Audi     
BMW
A3, A4, Q3
?
S.J. Pinhais, Pr
Araguaí, SC
2014
2014
Chan Gan
Chery
?
Celer
Goiás 
Jacareí, SP
2014
2013
Chevrolet
Onix
Gravataí, RS
Iniciada
Chevrolet
Trailblazer
S.José Campos, SP
Iniciada
Ford
New Fiesta Sedan
Camaçari, Ba
2013
Ford
EcoSport4x4 Auto
          #
Iniciada
Hyundai
HB20X
Pirassununga, SP
2013
JAC
J2
Camaçari, Ba
2013
M-Benz
Mitsubishi
Classe A sedan
ASX
Lancer
Resende, RJ
Catalão, Go
           #
2015
2013
2014
Nissan
Peugeot
March
208
Resende
Resende, RJ
2014
jan 2013
Suzuki
Jimny
Catalão, Go
dez 2012
VW
Gol 2 portas
UP !  
Santana 
Taigun
Golf 7       
São Bernardo, SP 
Taubaté, SP
São Bernardo, SP
Taubaté, SP
Campo Largo, PR
Iniciada
2013
2013
2014
2015


Surpresa, a Fiat continua líder – e cresceu
É indelicado, ou distante da realidade, entender a manutenção da liderança de vendas no mercado doméstico como surpresa. Não é. Ao contrário, é consequência de projetos e ações bem articuladas, permitindo à montadora mineira cravar, pelo 12o. ano consecutivo, as maiores vendas de veículos leves no Brasil.
O dado é importante, e tem maior relevo pelo perfil que une o maior número de marcas, e pelo fato de as maiores quatro mantenham 70% das vendas. Embora haja um encolher desta participação, em aritmética e constante diminuição pela presença de muitas marcas e produtos, a Fiat conseguiu o aparentemente impossível: crescer 1% de participação. A montadora agora tem 23,2%, seguida pela VW, que se expandiu 0,7% e ficou com fatia de 21,2% no bolo. Do grande pedaço detido pelas quatro maiores, GM caiu 0,8% e Ford 0,3%.
A referência é importante, pois o caso da Fiat no Brasil é único. Não é apenas a mais vendida no Brasil, mas adicionalmente, é líder continental em vendas, um recorde para a marca no mundo.
Sorte não é coisa aleatória, um raio feliz que cai sobre uma pessoa – física ou jurídica. Tem mais a ver com prever, preparar-se, estar no local certo e na hora certa. E assim como surpresa não serve para rotular a manutenção do sucesso da Fiat, muito mais ligada ao preparar-se, ao ampliar capacidades, ao dar substância à operação da rede revendedora, ao perceber oportunidades para incluir seus produtos, fazer vendas, e crescer contrariando a aritmética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário