Alta Roda nº 737/88 – 13/06/2013 |
Fernando Calmon |
No próximo mês a
indústria atingirá a produção de 20 milhões de veículos leves cujos motores
podem ser abastecidos indiferentemente com etanol ou gasolina.Mais conhecidos
como motores flex, em pouco mais de 10 anos (completados em março último)
conseguiram crescente aceitação. Hoje, respondem por cerca de 90% das vendas de
veículos leves com motores de ciclo Otto, inclusive de modelos de origem
sul-coreana e chinesa que tiveram desenvolvimento no exterior.
É preciso lembrar que essa tecnologia chegou a ser ridicularizada no início, em
2003. No entanto, ela veio para ficar e, aos poucos, superou problemas. Esta
semana, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) relembrou a
trajetória de sucesso dos motores flex. Um dos poucos exemplos em que o Brasil
vem mostrando competência em termos de pesquisa e inovação. Na sétima edição do
Prêmio AEA de Meio Ambiente, o trabalho acadêmico vencedor de
Jorge Tenório (Universidade de São Paulo) e Joner Alves (Aperam, ramo
siderúrgico) tratou da geração de energia a partir de resíduos da produção de
etanol.
Combustível e veículo se complementam. Motores flex nasceram para que os
proprietários de automóveis tivessem uma alternativa em função do preço de cada
combustível nos postos de abastecimento. Entretanto, há de se administrar
previsíveis conflitos de interesse entre a indústria petrolífera e a de
biocombustíveis. Essa arbitragem deveria caber ao mercado, mas não dá para
deixar de reconhecer ou abrir mão do papel dos governos. No caso do Brasil isso
ocorre de forma errática: hora estimula, hora desestimula a produção de etanol.
Como bem lembrou o professor Francisco Nigro, em sua palestra durante a premiação
referida, se há objetivo sincero de redução de emissões de gás carbônico (CO2),
o biocombustível de cana-de-açúcar é imbatível. Para ele, faltam ações
coordenadoras ao governo brasileiro, participante do programa mundial de
limitação daquele gás de efeito estufa que provocaria mudanças climáticas. A
descoberta de petróleo na difícil camada pré-sal, muito abaixo do leito do
fundo do mar em águas profundas e longe da costa, levou a euforia e quase
descarte dos combustíveis renováveis.
Nigro lembrou que a indústria precisa também avançar. Segundo suas pesquisas
nos dados disponíveis do programa de etiquetagem veicular, motores flexíveis ao
consumir etanol mostram, na média, deficiência de 2% em relação à gasolina,
especialmente no ciclo rodoviário. Tal desvantagem não é desprezível, pois se
trata de medição de eficiência energética, em quilojoules/km, que compensa a
diferença de poder calorífico entre os dois combustíveis. Lembra que se trata
de média e, assim, há motores melhores e piores.
Essa situação, por informações de várias fontes, deve e vai mudar graças às
metas impostas no programa Inovar-Auto.
RODA VIVA
CONFORME apurações, essa coluna antecipa que o Nissan Note substituirá o Livina
em janeiro de 2015, na nova fábrica da marca japonesa em Resende (RJ). Desta
unidade sairão antes o March, em janeiro de 2014 e o Versa, em julho do mesmo
ano, hoje importados do México. Os três modelos compartilham a mesma
arquitetura de veículo mundial compacto.
QUEDA nas importações e reação
das exportações levaram a indústria a bater recorde de produção mensal em maio:
348.000 unidades. No acumulado do ano, o crescimento – também recordista –
chega a quase 19%. Vendas no mercado interno continuam em bom patamar. Estoques
subiram para 36 dias, mas hoje nível entre 30 e 35 dias se considera normal.
AINDA no mês passado a
indústria registrou 153.708 empregados, mais 542 vagas. Em 1980, estavam
empregadas 153.900 pessoas, em época de baixíssima automatização e poucas
operações terceirizadas. Depois de 33 anos, bastam apenas pouco menos de 200
novos empregos diretos agora em junho para que o total de funcionários
ultrapasse a marca histórica.
VOLVO V40 deu um salto em
estética e tecnologia. Compacto da marca sueca, importado da Bélgica, é o
primeiro automóvel equipado opcionalmente com airbag de proteção a pedestre.
Mostra estilo arrojado, interior bem cuidado e itens encontrados, em geral, em
modelos de classe superior. Parte, completo, de R$ 115.900 e pode agregar três
pacotes de livre combinação.
MOTOR de cinco cilindros em
linha/dois litros/180 cv tem sonoridade próxima a de um venerável
seis-cilindros em linha, mas poderia oferecer potência maior, pois utiliza
turbocompressor. Suspensões independentes nas quatro rodas garantem
comportamento seguro em curvas de qualquer raio. Mas, agravado pelo uso de
pneus de perfil baixo, não é das mais silenciosas.
VEDAÇÃO da
capota retrátil de lona do Fiat 500 é tão boa que torna o interior até mais
silencioso do que a versão convencional. De fato, essa capota funciona mais
como enorme teto solar elétrico, que se acomoda atrás do banco traseiro, depois
de compactada. Porém, há movimentação estrutural além do aceitável, quando
totalmente aberta.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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