Alta Roda nº824/174– 20/02/2015
Fernando Calmon |
A conectividade veio para ficar, mesmo que em diferentes
níveis de tecnologia, de preço e de infraestrutura. Há grandes diferenças
também entre países porque o poder aquisitivo está no centro das escolhas do
consumidor e, assim, carros mais baratos têm limitações de preços e oferta de
equipamentos. No Brasil, os telefones inteligentes respondem atualmente por
dois terços das vendas de celulares e a maioria dos modelos de veículos à venda
permite, pelo menos, uma conexão Bluetooth sem-fio para um sistema viva-voz.
Centrais multimídias, de vários tamanhos e preços,
estão prontas para receber comandos de voz até em carros compactos. Mas agora
surgem alguns problemas e, mesmo nos EUA onde tudo começou, já preocupam. Os
fabricantes de automóveis enfrentam desafios com essa tecnologia e causam
frustrações aos clientes pela forma como os novos sistemas funcionam mal ou
deixam a desejar.
A empresa de pesquisas de mercado J.D. Power
publicou recentemente um relatório apontando que dificuldades da tecnologia de
conectividade são os defeitos com maior número de queixas entre compradores
americanos de carros novos. E a reclamação mais recorrente? Justamente o
sistema a bordo de reconhecimento de voz. Conectividade por Bluetooth e erros
de navegação foram assinalados ao lado do “clássico” ruído de vento, que até
hoje incomoda, por razões de projeto, acabamento ou de erros na linha de
montagem.
Esses, digamos, deslizes acontecem em um momento
de grande procura por itens tecnológicos. “Tais defeitos são inerentes a erros
de projeto e não podem ser consertados na rede de concessionárias. Denotam
angústia para quem compra um carro novo”, apontou a pesquisa. É possível, por
exemplo, reencaixar uma peça qualquer mal colocada, mas se há deficiência em um
sistema, nada feito.
Os defeitos mais citados são: não reconhecimento
ou interpretação errônea dos comandos verbais (63%), idem para nomes e/ou
palavras (44%) e números (31%). A soma passa de 100% porque mais de uma falha
pode ser apontada no mesmo veículo. Proprietários também se queixaram de
confusão entre botões e comandos distribuídos em raios do volante, painel e
console que prejudicam o grau de intuitividade necessário para se usar de forma
eficiente soluções tão bem-vindas.
Alguns fabricantes, no entanto, detectaram e
resolveram grande parte das críticas simplesmente realocando (e melhorando) o
microfone que saiu do sistema multimídia embutido no painel para o teto, junto
ao para-brisa. Os motoristas falam e dão ordens verbais enquanto dirigem, sem
tirar os olhos do caminho. Assim o microfone precisa de uma colocação
compatível para o correto reconhecimento de voz. Essa mudança pode ser simples
quando se muda o projeto na fábrica ou no fornecedor. Para os veículos em
circulação é quase impossível fazer adaptações.
Outra conclusão do estudo é que nos EUA o fator
preço tem peso, embora sem a mesma intensidade daqui. Entre os compradores 70%
indicam interesse por comandos de voz, mas quando informados do custo de US$
500 (R$ 1.400) a intenção de compra cai para 44%.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do
twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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