Alta Roda nº822/172– 05/02/2015
Fernando Calmon |
Esta semana duas medidas da área governamental
passam a ter impacto sobre os motoristas brasileiros. A primeira já era
esperada para fevereiro mesmo: aumento de teor de etanol na gasolina de 25%
para 27% (proposta era de 27,5%, abandonada pela dificuldade na aferição nos
postos). O problema principal é que o improviso continua, pois não se
concluíram os testes com a gasolina premium. Assim até a Anfavea descambou para
a improvisação ao recomendar que veículos com motor movidos apenas a gasolina
utilizem a premium, por enquanto ainda com 25% de etanol.
Tal conselho nem deveria se cogitar porque, além do preço superior,
simplesmente é difícil encontrar o produto premium nos postos mesmo nas grandes
cidades (em médias e pequenas, praticamente inexiste). Donos de carros a
gasolina mais antigos teriam de pagar preço ainda maior pelo combustível. Com
os 27% de etanol o preço da gasolina será reduzido, inclusive para compensar um
pequeno aumento de consumo da nova formulação? Até hoje o preço sobe quando o
teor de etanol cai, mas quanto este teor aumenta o que se vê são distribuidoras
e donos de postos “esquecendo” do pormenor.
Toda essa confusão começou em razão do grande erro de subsidiar o preço da
gasolina, durante pelo menos cinco anos, sob desculpa torta de controle da
inflação. Isso inviabilizou o etanol e abriu brecha para propostas paliativas
como a atual, quase um ato de desespero dos produtores de combustível verde.
Sem contar as distorções frente à gasolina padrão (22% de etanol) utilizada nos
testes de emissões e de consumo de combustível.
Já a Resolução nº 518 do Contran publicada apenas neste começo de 2015 é
responsável pelo atraso de um ano em importantes itens obrigatórios de
segurança. Significa que projetos de novos modelos só terão que cumprir as
exigências de 2018 em diante e os modelos atuais poderão continuar em produção
até 2020. Bancos infantis deverão ter à disposição pelo menos uma ancoragem de
alta eficiência no banco traseiro que poderá ser ISOfix, Top-theter ou i-Size
(novo padrão europeu, de 2013).
Resta saber em quanto tempo os bancos infantis serão igualmente homologados com
essas fixações de maior segurança e, em especial, responsáveis por facilitar o
encaixe diretamente na estrutura do veículo. Utilizar apenas o cinto, como é feito
hoje, pode dar origem a erros na instalação e, em consequência, baixo nível de
proteção às crianças.
Finalmente se exigirão três cintos retráteis de três pontos também no banco
traseiro (salvo em modelos de dois lugares atrás). Até hoje, alguns automóveis
de entrada podem ser comprados sem dois cintos retráteis traseiros, verdadeiro
absurdo, pois até inviabiliza fixar cadeira infantil. Também naquelas datas
haverá até três encostos de cabeça atrás, que curiosamente não são itens
compulsórios nem na regulamentação de segurança europeia e nem na americana.
RODA VIVA
BRASIL conseguiu se manter como quarto maior mercado mundial de
veículos em 2014, apenas 67 mil unidades a mais que a Alemanha, apesar da queda
de 7% nas vendas sobre 2013. Em compensação o País perdeu a sétima posição
entre os maiores produtores para o México. Indústria mexicana tem custos
menores e é voltada às exportações, principalmente para os EUA.
FORD aproveitou a Campus Party, maior feira da
América do Sul voltada à informática e do geek ao empreendedor, em São Paulo,
para lançar seu Desafio da Mobilidade. O Brasil é o nono país a encarar essa
proposta coordenada pelo fabricante a fim de melhorar os deslocamentos da
população por qualquer meio de transporte terrestre. Missão ainda mais difícil
para especialistas brasileiros, pois ótimas boas ideias já foram reveladas em
outros países.
AUDI trocou, tanto no sedã A4 quanto no
sedã-cupê-hatch A5, o motor 2 L turbo de injeção direta pelo de 1,8 L turbo de
duplo sistema de injeção (indireta e direta). Apesar de a potência ter caído de
180 cv para 170 cv, torque se manteve em ótimos 32,6 kgfm. Objetivo: diminuir
consumo de gasolina em até 21% e atender também emissões mais restritas de
material particulado exigidas na Europa. Desempenho praticamente não mudou, em
avaliação preliminar cidade/estrada, atingindo objetivos de projeto.
IMPRESSIONA bem o novo motor de três cilindros que
a Nissan oferecerá no March, a partir de março próximo. Com 77 cv (mesma
potência com etanol e gasolina, referência não ideal) e 10 kgfm de torque,
destaca-se pelo surpreendentemente baixo nível de vibrações. Retomadas em
baixas e médias rotações são muito boas (até parece ter cilindrada maior),
comprovando o acertadíssimo trabalho de calibração da unidade de gerenciamento
eletrônico do motor.
PROPOSTA interessante da empresa de internet de
origem argentina Rodati. Negocia preços e descontos com as concessionárias para
que os clientes não tenham que visitar muitas lojas. Foco inicial é na região
metropolitana de São Paulo com promessa de voos mais altos. No momento, atende
apenas algumas marcas: Citroën, Chevrolet, Ford, Honda, Hyundai, Renault,
Nissan e Toyota. Nada é cobrado do interessado pelo carro.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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