Alta Roda nº823/173– 12/02/2015
Fernando Calmon |
Mobilidade é a
palavra do momento e preocupa a todos: fabricantes de veículos, motoristas,
pedestres, governos e os mundos acadêmico e científico. Nesse contexto, ideias
surgem de todos os lados, mas é preciso separar soluções verdadeiras daquelas
sem eficácia ou ganho prático limitado.
Um exemplo: faixas de pedestres em “X”, em São Paulo, implantadas
experimentalmente pela prefeitura em alguns cruzamentos. Trata-se de mera cópia
piorada do que foi feito em um bairro de Tóquio. Segundo o engenheiro Paulo
Guimarães, do Observatório Nacional de Segurança Viária, a solução japonesa
existe em um cruzamento onde o fluxo de pedestres supera a capacidade do
passeio público. Usam apenas uma faixa diagonal larga, mas em São Paulo são
duas. “No cruzamento das faixas há risco de esbarrões entre os próprios
pedestres ao se cruzarem”, destaca Guimarães.
Quanto ao cenário por parte da indústria, a tendência é produzir, além de
carros, soluções de mobilidade por todos os meios. Foi o recado de Erica
Klampfl, gerente de Mobilidade Global no Futuro, da matriz da Ford, em palestra
na feira de tecnologia Campus Party, em São Paulo. Megacidades com mais de 10
milhões de habitantes serão pelo menos 41 até 2030. A classe média, que aspira
ter um automóvel, passará de 2 bilhões para 4 bilhões de pessoas, a maioria na
Ásia. Tudo isso traz riscos de congestionamento permanente e de deterioração da
qualidade do ar.
No entanto, a executiva confia que o consumidor está mudando suas atitudes e
até de prioridade, pelo menos nos EUA. Em pesquisa com múltiplas respostas, 47%
gostam de usar seus smartphones para planejar seus deslocamentos, 39% utilizam
mais de um meio de transporte e 34% já admitem o transporte solidário em seus
carros, se houvesse chance.
Assim, o trio conectividade, mobilidade e direção autônoma – ou semiautônoma,
no primeiro momento – está nos planos dos grandes fabricantes. Com a eletrônica
de bordo de hoje geram-se 25 GB de informações por hora e tal enorme massa de
dados pode ser aplicada em soluções alternativas. “Seria muito bom combinar os
dados de tráfego em tempo real de aplicativos como o Waze com a velocidade em
que o limpador de para-brisa atua. Indicaria chuva pesada e a rota poderia
evitar pontos de alagamento catalogados”, exemplificou a executiva.
Klampfl acrescentou que o tempo gasto ao volante pode ser mais bem aproveitado,
além de ouvir música ou noticiário. Com informações armazenadas em agendas
telefônicas, a capacidade de computação de um automóvel pode organizar uma
reunião de negócios ou adiantar o atendimento de triagem em um consultório
médico.
Também não descartou a possibilidade de um operador guiar um veículo a
distância usando câmera de vídeo, sensores e a rede de telefonia celular de
alta velocidade. Seria a versão terrestre de um VANT (veículo aéreo não
tripulado) ou drone. Experiências já são feitas em baixa velocidade, com carros
de golfe adaptados, em um campus universitário em Atlanta, nos EUA.
No total, a Ford monitora 25 experimentos globais de mobilidade, sendo 14 de
sua iniciativa e 11 de desafios de inovações em oito países. A partir de agora,
o Brasil é o nono a participar desse esforço mundial.
RODA VIVA
NÚMERO de dias – 38 – de estoque nas fábricas e concessionárias
em janeiro último continua preocupante, mesmo com novo critério de contagem da
Anfavea. Vendas caíram 31% sobre dezembro de 2014. Parte do tombaço se explica
por emplacamentos sem venda no fim do ano passado, na briga entre Fiat e VW
pelo modelo mais vendido. Por isso, o Gol caiu de 2º para 7º lugar, em janeiro,
além da greve que afetou 10 dias de produção da VW em S. Bernardo do Campo.
ESSA estratégia, chamada de rapel e aplicada em
geral no último mês do ano para fins de marketing, também fez o Onix encostar
no Palio/Palio Fire na classificação de janeiro. Há um custo financeiro para a
fábrica e concessionárias, mas em dezembro é um pouco menor por adiantar o
pagamento de apenas 1/12 do IPVA. No fim, não é boa tática.
FIAT já lançou o Bravo 2016, sem alterações
mecânicas, mas com retoques frontais (para-choque e grade) e nas lanternas
traseiras. Maior novidade é a tela multimídia de 5 pol, de série em todas as
versões, que estreou no Freemont, mas com GPS opcional. Outras novidades:
câmera de ré e versão BlackMotion. Preços são competitivos: de R$ 61.990 a
78.490 (T-Jet turbo a gasolina).
CITROËN aposta no C4 Lounge com motor turboflex
THP. A fábrica aumentou a potência de 165 cv para 173 cv com etanol – gasolina
apenas 1 cv a mais (166). A relação final de transmissão, alongada em 11,4%,
teve objetivo de economizar combustível, em especial etanol. Dessa forma o bom
desempenho de antes ficou marginalmente menor, porém imperceptível no dia a
dia.
CORREÇÃO: Inmetro homologou bancos infantis com
fixação Isofix em outubro do ano passado, resolvendo uma situação incomum.
Vários carros já possuem o dispositivo de encaixe. No entanto, os bancos mais
seguros dependiam ainda de aprovação oficial e não podiam ser vendidos nas
lojas e concessionárias.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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